1.
Exílio,
esse lugar sem nome.
Não se reconhece mais a paisagem
nem semelhança com outro país.
Um outro estado,
mesmo artifício da luz filtrada pela janela.
Cidade em trânsito –
sitiada pelo desconhecido rosto envelhecido da tarde.
Não há parâmetro para quem chega desapercebido pelo atlântico,
ou por um outro oceano qualquer.
E aquela colina suspensa indica os sonhos que se dissipam
sobre a noite,
como outra noite qualquer
se não fosse obtusa essa estranha miragem.
2.
A palavra cala todo vestígio:
Como salvar um corpo em declínio
Imerso em pleno mar.
Um peso uma réstia um ato da criação;
a tentativa de dizer algo novo sob formas gastas.
Um mergulho ciente de que voltar à superfície
é encontrar o caminho de volta para a casa.
A imensidão das águas,
o puro artifício das imagens tecendo uma frase,
um discurso,
um prólogo.
Encontrar o sentido do que se escreve:
um exercício resignado de medo e de cura
onde nada se cala e tudo é silêncio.
3.
O rosto é a maior de todas as ficções
fixo no esboço do tempo
perdido entre um mero semblante
que declina sua face no anonimato
das ruas estreitas,
em que a multidão acena alguma paragem
que lhe marque o vinco das primeiras rugas
de expressão –
como aquele sorriso fino ao lhe reconhecer
perdido entre muitos:
ao dar a primeira face ficamos marcados no rastro
de um pequeno incêndio.
**
Fernanda Fatureto (Brasil, 1982) é poeta e escritora. Autora de Ensaios para a Queda (Penalux, 2017) e Intimidade Inconfessável (Patuá, 2014). Possui poemas em revistas literárias brasileiras; nas revistas portuguesas Eufeme e InComunidade; nas revistas espanholas Cuaderno Ático e Liberoamérica e na revista mexicana El Periódico de las Señoras.
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