No início era o verbo amar.
A carne tinha olhos. A carne via sobre o telhado do mundo.
Era antiga a condição com que se podia equilibrar a tenda das coisas. O vento era com cor. Ao lado havia a caixa dos mistérios. Uma voz que não se podia ouvir a dizer como se deve viver…
Era o fim. No início o verbo amar não tinha voz.
Passou o tempo sob a terra. A água desapareceu. Acredita-se que era por causa dos olhos que se fundaram no coração. Veio o cansaço para disfarçar a queda. No início havia o verbo amar em cima da asa ou do tendão das cores. Havia um furacão por vencer e com certeza de que se já tinha nas mãos. No início era o ardor, a cegueira.
No início era o verbo amar. Em cada imagem há o som faminto do sal, transformando a morte em embriaguez. Há o vaso dilatado de esperança depois de cantarmos. Digo: depois da planta que se fez na face.
– A distância alumia as estações perdidas. Mas como podem se perder as estações se ainda há a existência?
Como se perde o tempo?
Olho para a diurna loucura e incendeio. Regresso ao ventre primário.
*
Nota: Pintura de João Timane.
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