2013 foi o ano em que a Música Moçambicana reinventou-se para o mundo. Pode-se considerar o ano em que os créditos da nossa estética musical ascenderam e se sedimentaram. Das várias substâncias que ajudaram para esse alavancar está a edição de discos. Dos múltiplos discos publicados no ano ido, faço mesura, hoje, ao disco de estreia do baixista Childo Tomás: Moçambique Ni N´Tumbuluku.
Childo Tomás, de forma vigorosa, evidencia o poder da viola baixo e de toda a arte, sem pretensões, que está à volta deste instrumento de cordas. De forma expressiva, forte e arrebatadora faz manifestações mais puras e singelas da sua cultura e dos seus ancestrais, e.g., forma de vestir que nos recorda os nyangas (curandeiros). Com músicas, maioritariamente, cantadas em Xichangana (seu idioma maternal), o autor de Moçambique Ni N´Tumbuluku cria a quimera de estarmos a viajar com ele para o universo africano como se pode evidenciar nas músicas «Mi Ganga», «Timbila» e «My Lover Jah».
Há dois pontos altos nesta obra discográfica. Primeiro, a «concepção musical» que se qualifica pelo deslocamento dos objectos sonoros tradicionais que se incorporam em modernos e o exemplo aceitável de ser citado é o piano, clássico, de Omar Sousa a dialogar com a Carcavas e Xigovias na música «Mira Al-Eix». Segundo, a «instrumentalização do baixo», onde guitarra é usada sempre e oportunamente, através de solos inteligentes e comedidos, o que demonstra que Childo possui uma grande cultura musical e quando toca deixa fluir os sons de todas as partes de um universo onde o Homem é um só.
Moçambique Ni N´Tumbuluku, segundo a explicação do autor, «viene del esfuerzo de explorar la música tradicional, popular y contemporánea de varias áreas de Mozambique y de varios países de África, Europa y América, tratando de hacer una mezcla (fusión) de todas ellas y usando algunas lenguas locales de los mismos». Embora arreigado no território espanhol (onde foi gravado e editado o disco) Childo não esquece o seu berço musical – Alambique – onde partilhou cômpitos sonoros com Hortêncio Langa e Arão Litsure.
Childo concretiza uma parte das utopias da identidade moçambicana: evidenciar que Moçambique é o eloquente exemplo de vitalidade cultural no mundo. Por isso, cabe a cada um de nós evidenciar essa ambiência de diversidade estética. Com alguma convicção, Childo soube reproduzir simulacros dessa utopia por meio da música e da sua arma de combate (o baixo) e nos regalou o: Moçambique Ni N´Tumbuluku.
Características técnicas do disco:
Moçambique Ni N´Tumbuluku. Childo Tomás. Dep. Legal: B-32611-2012. Número do disco: 8436530122103
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