O abecedário treme, escuramente.
A palavra faúlha é obscura.
De abismo em abismo cada letra
é o infrene flagelo da procura.
Eis como algumas voam como hastes
e penetram a carne, golpe a golpe.
Irrompentes, emergem e claudicam
para que não baste, ainda, a clausura.
Alguém as escreve, alguém as vê
e sente o alarido do seu silêncio vasto,
a cabeça com brilhos animais
que rebentam com tudo o que há no mundo.
Nem sequer são punhais, apenas crina
de um cavalo feroz e transparente
que o áugure sofre, toma e aglutina
aos casulos mortais da impaciência.
No seu destino ardem, como facas
de luz nas superfícies brancas,
um silvo ágil na sombra das espiras
que marca sobre o fogo a distância
que vai da alma ao espírito em lenta progressão
sobre as coisas infinitas, as tensões,
a pura perda, o rasgão no peito,
o escrutínio fenício do poema.
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