Sim, o Sísifo foi condenado a passar a eternidade a rolar uma pedra de mármore montanha arriba. Foi, sim. Mas, ele também não se preocupava muito com isso. Por uma parte, ele já tivera uma vida excitante: traição, assassinato, conspiração, sexo selvagem eram coisas que já tinha feito e aborrecido; já não estava com vontade de enfadar mais a Zeus e dizem que procurava uma vida tranquila. Ainda assim fingiu enojar-se com a condena. Mas foi assim que conheceu àquela rapariga que guardava rebanhos no cume, foi assim que tiveram filhos que pronto o começaram a ajudar com a pedra, foi assim que conheceu à sogra e foi assim que continuou a sua vida sem ter de enganar a morte de novo. Dizem que houve vezes quando os dias não eram bonitos, mas inclusive nesses ocasiões a sogra é que sempre tinha xanax e outras drogas para lhe dar e as coisas se passavam melhor. Também logo passou o tempo e já nem tinha de ir todos os dias à pedra; foi com muito trabalho, mas começou a ter sábados, domingos, feriados e mais umas otras três semanas livres ao ano. E ainda que havia dias em que sabia que não seria quem de levar a pedra até a cume, também sabia que o seguinte dia a pedra ia estar lá. Uma vez ouvi que se calhar o mais difícil para ele foi quando a sua filha lhe disse que não queria continuar no negócio das pedras, pois ela queria uma vida cheia de traições, assassinatos, conspirações e sexo selvagem; ele sofreu, mordeu-se os beiços, arranhou-se a fronte e lhe contestou “leva cuidado”.
NOTA: este é o blogue do autor.
You might also like
More from Adrián Magro
“El cielo de Medellín” pode ter a receita para a paz, por Adrián Magro
“El cielo de Medellín” (“O céu de Medellín”) é um dos 50 melhores restaurantes de Latino-americana, mas não é só …