EVOCAÇÃO DE SHELLEY
Debaixo deste alpendre,
Recebo o vento do norte,
Albergo a sombra fugitiva
Duma senhora de romance.
Queimo cigarros e poemas,
Queimo cabelos de problemas
Que não sei resolver
Sem a tua presença.
Nesta silente quietude,
Thoughts come and go in solitude.
*
CENÁRIO VIRTUAL
A túnica branca
Mal cobre os joelhos
Da bela mulher
Fatal do olvido.
Comemos o pão
Negro das paisagens
Pintadas por náufragos
Dos descobrimentos.
Bebemos o vinho
Das vinhas antigas
E o leite magro
Das Virgens do Leite.
Estamos no céu
Profano da terra.
*
SÍMBOLO CANSADO
As rosas servem de símbolo
Vezes demais.
É preciso libertá-las do lírico
Míldio.
Deixá-las ser o que são: rosas.
Nada mais.
*
TÉCNICA DA TRISTEZA
Paradas,
As cadeiras esperam o convite
Para que nos sentemos nelas.
As cadeiras não têm coração.
São máquinas dispostas a tudo.
Sento-me numa e lembro-me
Como quem não respira.
Não tenho nenhuma palavra a deixar
Aos meus.
*
EM BUSCA DA TRANQUILIDADE
De passarem aves sôbolos rios
As margens ficam mais leves.
Mós de moinho servem de chão
Ao vento.
Os calmantes esperam ansiosamente
Pelo fim do dia.
*
PARA LONGE DA MULTIDÃO
Na cidade,
Nenhuma veracidade,
Só voracidade
E velocidade,
E muito sono atrasado
E muito fumo acumulado
Nos pulmões da alma:
Vou sair daqui
Como quem sai da prisão
Depois de cumprir pena efectiva
De solidão.
José Pascoal nasceu em Torres Vedras, 1953.
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