O JOGO DA AMEBA
Estava no fogão a segurar
uma colher de pau na minha mão direita,
a ouvir a manteiga crepitar contra
o circulo esparramado do ovo.
Talvez era o bater das bordas onduladas
dos ovos contra a sertã de aço,
ou o amorfo das suas entranhas
fora do transporte da sua própria casca castanha –
Lembro-me de um insólito jogo que joguei
no Brownies. O jogo da ameba.
No jardim diante da tenda dos escuteiros
uma rapariga de cada vez, tornar-se-ia
numa ameba e encabeçaria as demais.
Não sabíamos o que as amebas eram,
somente que não eram humanas nem animais,
e que se moviam como mil pernas cegas
avançando através do melaço.
Então assim as nossas cabeças e braços
tornavam-se pés e pernas,
ondulando desobedientes sob o crepúsculo.
Balançando os nossos ombros
da esquerda para a direita,
riamo-nos pelas bocas que era suposto não existirem,
fingindo que não tínhamos olhos
e sem saber de onde vínhamos
ou para onde íamos.
*
ALGUNS DIAS COMEÇAM ASSIM
O medo a esquecer-me de que estou bem
rasteja para a minha boca como uma palavra
que lamenta ser falada;
cinge frases acres contra os meus dentes
língua e gengivas.
Eu quero dizer-lhe pára,
estou bem
o meu sangue é o meu sangue.
Mas assim que estou pronta a engolir
fende-se outra frase
na parte de trás da minha língua –
algo sobre a perfeição
da memória do anticorpo,
como esta nunca esquece
a imagem da mãe
que aqui a abandonou.
*
THE AMOEBA GAME
I stood at the stove holding
a wooden spoon in my right hand,
listening to butter sputtering against
the splattered circle of an egg. Perhaps
it was the flapping of the egg’s
wavy edges against the steel pan,
or the amorphousness of its innards
outside the carriage of its brown shell—
I remembered an odd game I played
in Brownies. The amoeba game.
In the front yard of the scout cabin,
one girl at a time would become
an amoeba and lead the rest.
We didn’t know what amoebas were,
only that they weren’t human or animal,
and moved like a thousand blind legs
treading through molasses.
So it was that our heads and arms
became legs and feet, undulating
wayward into dusk. Swaying our shoulders
left to right, we’d giggle through mouths
we weren’t supposed to have, pretending
we had no eyes and didn’t know where
we came from or where we were going.
*
SOME DAYS BEGIN LIKE THIS
The fear of forgetting I am well
crawls into my mouth like a word
that regrets being spoken;
it presses sour phrases against
my teeth, tongue, and gums.
I want to tell it stop,
that I am well,
that my blood is my blood.
But as I’m ready to swallow,
it wedges another phrase
onto the back of my tongue—
something about the flawlessness
of the antibody’s memory,
how it never forgets
the image of the mother
that abandoned it here.
*
Tradução do inglês por Tiago Alves Costa.
**
Tara Skurtu é uma poeta e escritora americana. Possuidora de duas Fulbright nos EUA e vencedora de dois prêmios da Academia de Poetas Americanos e uma bolsa de estudos Robert Pinsky Global. É autora de The Amoeba Game.
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