Tema para jóvenes enamorados (Los belkings)
Eu acredito no Homem.
E nas suas variações genéticas por vir.
E na Conceição Lima, uma senhora com óculos de sol que
exibe a cara na grelha lateral, com quem
tenho cinco amigos em comum.
E no Emprego Porto.
Quem acredita, vai.
Cedo.
‘Vista às 3:18’
***
[Eu acredito no Homem.]
ao João Branco
à Janaina Branco
Eu acredito no Homem.
Eu acredito na influência das constelações,
nas molas que seguram as pontas do
varal enlaçado na garganta a um instante de romper,
anciãs lendas africanas de espetros noturnos que
visitam a carne.
Arepas da saudade,
um homem dorme no passeio há horas,
alheio, feliz, garanto.
Há dias, porém, em que não me esforço o suficiente.
Dizem que o rei de Espanha decidiu que
a pronúncia castelhana seria mais cerrada. E que
havia apenas uma maneira de desenhar a
caligrafia no tempo dos nazis e que
esta era encantadora. Como simpáticas eram as
pessoas que começaram a guerra.
E não falo com o meu pai há mais de um mês.
Vibrações suaves, doces, preenchem o nada, ar.
O verniz na língua,
a orquestra chinesa que nos submete,
o cheiro a fritos a descer as paredes do quarto,
tiroteio distante, bairros para
nos proteger uns dos outros,
preservar o orgulho em não sabemos o quê,
ruas para dividir os nossos passos,
prédios para delimitar egos,
habitáculos para manter as mentes controláveis,
eu e tu e o mar entre os nossos quartos.
Cabelo, pele, unhas, pernas, dedos.
A pele domina a neblina privada,
origem do ódio.
Desafia-me a sonhar.
Chão, terra, discussões infernais, ponche para
lavar o quê, um filho por hipótese,
a vida já e até sempre, conforto.
Visões demoníacas, reformadoras. Reais como
a noite a aumentar o mistério.
Eu acredito nos braços do polvo:
longos abrigos mortíferos.
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