I
A alma não se abre com duas voltas de chave
São precisas respirações para abrir uma porta
e cerca de quinhentos anos de escuridão até que se faça luz
neste compartimento exíguo que é o coração
Adoeci por pouco
Por nada a minha alma se detinha e a minha sede buscava
não uma porta mas a rara flor que sangra a literatura.
II
Mas foi nos teus seios ainda fechados que a minha alma floriu
que a porta ao entreabrir amparou os murmúrios da tua pele de Inverno
São precisas tesouras que cortem o abeto que está em mim preso
São precisos delicados negros anjos que meçam a inquietude de uma severa madrugada
de sorrisos caleidoscópicos rios a manhã fria cruzada por um golpe de urzes.
III
A alma tem um brilho disfuncional numa terna sede que se leva de viagem
um coração imperdoável duas flechas sobre a palavra e ambas desfalecem
Entram na hipótese da solidez de um lago os desnudos pés que quebram a sua quietude
Vi noites entrarem na inevitabilidade da luz
auroras romperem as águas à claridade e um torvelinho anunciava a meia-noite
abraçava os espinhos da sua cicatriz
A minha alma é feita de água e transtornos
Há muros entre nós passos submersos na região da dor.
**
Leonora Rosado, nasceu a 13/02/1971 em Algueirão, Mem Martins, Sintra. Cedo revela interesse pela leitura e pela escrita, poesia sobretudo. Tem publicados quinze obras de poesia e prosa poética. São então, as seguintes: Estreia-se em edições artesanais em 2012 com a parceria de Ricardo Rosado na que viria a ser até 2016 a sua editora, Nu Limbo Edições, com o livro Dias Horizontais Noites Assim, a que se segue o livro, O Ocaso e as Horas em 2013. Em 2014 traz-nos Argila e em 2015 A Voz Subcutânea, em 2016 Ruptura. E é ainda nesse ano que publica na Temas Originais, o livro Impurezas. Em 2017, sob a chancela da Editora Licorne, apresenta-nos A Fenda No Sangue. Nesse mesmo ano surge novamente pela Editora Licorne, O Livro do Sopro. No ano seguinte, 2018 surge Trauma, pela chancela da Licorne. Em 2019 a autora apresenta o seu primeiro livro de prosa poética, pela Edições Sem Nome, Há Ténues Sinais De Cristal Nos Espelhos e já no final desse mesmo ano, publica pela Editora Licorne, Pranto de Coral. Em 2020, Contágio eÁlamo, pela Editora Labirinto e Editora Licorne, respectivamente. Este ano 2021 trouxe-nos da sua lavra, pela Editora Labirinto, o livro de poesia, Volúpia.
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