Escurecera. Eram horas de fechar a casa e o cativo não tinha chegado ainda.
Os vizinhos tinham vontade de ajudar, mas não era tempo de ajudar.
Todas as pessoas queriam saber, mas não era tempo de saber.
Faltava desde a manhã e era noite. Voo de coruja, olhos de raposo, faca de lua, rajadas de fuzil. A porta continuava aberta e os chios da rapina vibravam na cozinha. O barulho das galinhas dobrava o lume. Os berros dos que caiam partiam o tempo.
Meu rei dos bolos do pote, tanto medo à noite. – Que fede, mamã, que fede!
Tanto medo à manhã. Não quero ir à escola.
– Havia um homem deitado, pintado com sangue de galinha. Andam bichos soltos. Fico, cuido eu do galinheiro. É o raposo, mamã, anda a fazer barulho e mata galinhas, mata também homens, mamainha. Não quero ir com as vacas, ai avó, sabe? O raposo leva agora vacas, medrou o raposo e pode com elas, anda dia e noite o raposo, é grande, avó, e teve filhos, são-lhe muitos. Mamainha, diga ao avó que não, diga, mamainha, diga.
– Manda o patrão meu filho. Cala. Leva seis bolos do pote, que o avó não sabe quantos há, leva meu filho. Vai com a vara e volta cedo para a casa. Vai, que nós não temos medo.
Aprendemos, meu rei. Vamos aprendendo, não sim? Ao pé do Picoto nunca se passou nada.
O barulho disparou o medo. Rebentou o tempo.
Entravam pela casa adiante.
– Meu rei, que fazias? Fecha. Ai, minha santa, que mo devolves com bem!
– Entra cativo, e as vacas? Perdeu-se a Roxa, não é?
Perdera-se.
Mas a Marela entrara. O sangue do lombo não era de galinha. Mãozinhas pintadas com pólvora. Os bolos do pote que ruminava tinham sabor a milho e cheiravam a raposo azul.
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