Lá ao longe vislumbro uma pessoa. Uma pessoa! Estou salvo. Vem lá uma pessoa. Eu que tanto esperei, finalmente vejo recompensada esta minha espera, que também foi esperança. Ó esperança, quero-te tanto! Estou impaciente. Não é a longa espera o que mais nos desgasta. O que custa verdadeiramente são estes instantes finais. Este compasso entre o que não acontecia e o que quase está para acontecer. Lá vem ela, a pessoa. Estou salvo. Ó pessoa, chega depressa. Estou tão impaciente! Olha, olha, a pessoa. Lá vem ela. Finalmente. Pssst. Olha, estou aqui. Ajuda-me, faz-me companhia. Sorri, por favor. Já há tanto tempo que não vejo um sorriso humano. Pssst. Estou aqui… Pssssssssst… Pssssssst… Psssssssssst… Pssssssssssssssssssssssssssssssst… Estou…aqui… Aquiiiiiiii… Estou… Pssssssssssssssssssst… Por… favor… Pssssssssssssssssssst… Senhor… Pessoa… Psssssssssssst… Pssssssssssssssssst. Ó não, não acredito. Foi-se embora. Nem sequer se dignou olhar para mim. No entanto parecia uma pessoa. Era uma pessoa. Parecia mesmo uma pessoa. Tinha cabelo, olhos, boca, nariz e… e… braços e… e… pernas e… e andava como uma pessoa, falava como uma pessoa. Parecia mesmo uma pessoa. No entanto fez que não me viu. Tenho a certeza que parecia uma pessoa. Só podia ser uma pessoa. Mas não me falou, nem se sorriu para mim, não me falou, ou sequer esboçou um sorriso. Passou por mim como se só ele é que fosse pessoa. Fez como se eu não existisse. No entanto contornou-me. Com aquele aspecto só podia ser uma pessoa. Seria?
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