Pintura de Salvador Dalí
(…) Estou contente mãe, deste-me a poesia por eternidade embora me doa tanto criá-la, aqui, na pátria da lassidão.
Do livro Poemas da ciência de voar e da engenharia de ser ave, do poeta moçambicano Eduardo White
O tema em alusão traz-nos à partida a ideia do tempo (com os elementos embutidos, emergir, ruínas, presente). Do latim tempus, uma grandeza física cuja a unidade básica é o segundo, permite organizar em sequências, estabelecendo um passado, presente e futuro também significa estado físico das condições atmosféricas.
Einstein afirmou que o tempo é uma ilusão que só existe na consciência do homem. Desta afirmação percebo:
É ímpar o momento do passado, futuro, presente. Alguém que lê um livro, já não mais sente o que tinha sentido na primeira leitura, surge-lhe novas apreensões. Aparece ele noutro estado de vida. Uma leitura boa parece curta em relação a uma leitura não muito agradável, questão de percepção. Isto quer dizer, nem ele nem o livro se esgotam. O tempo está em corrida de ratos.
A poesia acontece, Gullar fala do acaso para se referir ao acontecimento. Acontecer é o reflexo permanente do acaso. Emergir, um acontecimento mas este dá-se no impulso desconhecido.
Poesia, esta realidade tão grande quanto o tempo. Transcende ao texto escrito e a imagem. Os gregos chamam poesia de essência das coisas. Dando um amplo destaque ao desconhecido e ao percurso até ele, elevando o daemon: o medo, a ira, a cobiça, a arrogância, a tristeza e outros tipos de daemons, que atormentam o homem no seu dia.
Um espaço branco criaria a brancura, um espaço de cores moveria a mente a várias outras imagens. Assim vejo a ruína do presente, um lugar abismal cheio de possibilidades que transformam-se em objectos nas caixas da mente, um dia qualquer quando invadidas explodem e levam consigo a alavanca do espírito e a voz de fora, há objectos que se fazem dentro dessa respiração. Esses impulsos fecundados pelo movimento chamados realidade. Já dizem os ingleses: ‘’life is tough”. Tough quer dizer forte mas também significa difícil. É nessa dificuldade que assombra o presente onde a poesia emerge.
O estado natural que acompanha o homem. Do contrário, este, não veria e nem saberia do poético. Porque o poético não é o mandado, disse e bem o poeta Herberto Helder: “poesia não é vou ali e já volto” mas a tentativa de afastamento desse retorno.
Digo: uma criança assemelha-se a um adulto enfermo. Um adulto enfermo nada tem a ver com uma criança sadia.
“Poesia não é vou ali e já volto. ” É ir a saber que o destino é ir.
O tema em alusão traz-nos à partida a ideia do tempo (com os elementos embutidos, emergir, ruínas, presente).Sem mecanismos preparados, sem preparações. Ela, a poesia, convoca as escadas brutas das apreensões, aqui não se aprende. Dissipa-se. Morre-se (o sentido da iniciação). Como se estivéssemos num convento com um padre e uma madre cheia de espinhos verdes, inofensivos, flores picantes.
A escrita lhe surge na perturbação. Na aflição tudo fica à beira da aparição. – Imagino o escritor numa manhã fria sem movimento dentro e fora.
Os vulcões não têm como existir sem rochas rachadas.
A estória da muralha, a alegoria da caverna são exemplos bons da emersão da poesia nas grandes ruínas do presente.
A ideia do não regresso, da eterna visão desiluminada. Do controle de poucas coisas. De um dia descobrirmos que os outros são personagens criadas por nós, e nós somos reféns desse desastre.
Na muralha, desapareceu um professor que destruía com ideias a filosofia da não existência do mar, num lugar onde o povo fora educado o contrário. Havia um outro homem, que sonhava sempre com águas violentas, gritava que o mar é um lago extenso. Também desapareceu.
– O segredo do porão, guardado no mapa, um dia foi encontrado pelos olhos. Admirados perguntaram o que havia para além do mar. Depois de verem o que para eles era um absurdo, ansiavam por mais. Tinham-se tornado poesia.
O tema em alusão traz-nos à partida a ideia do tempo (com os elementos embutidos, emergir, ruínas, presente).
Para além do mar, há o mar endiabrado.
Templo d’Escritas, 1ª edição
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