O anterior artigo para a Palavra Comum ia com foto o Sr. Secretário Geral de (im)Política Linguística da Junta da Galiza, Valentim Garcia. Pouco despois de o escrever, vi este senhor na Revista ECO a louvar a relação galaico-portuguesa como se a política do Partido Popular (a direita espanholista) permitisse aos galegos tentarem algo próprio, de seu, desde a Caverna Madrilena. Mas os lacaios do “Partido Popular de Galicia” não têm capacidade de manobra nenhuma, e a força tem logo de se lhes ir pela boca: eis o triste caso do Valentim, aparentemente um rapaz bem intencionado.
Se os governantes da Galiza acreditassem no que pregoam, e tendo em conta que o Parlamento Galego aprovou por unanimidade a posta em andamento do ensino do português nos liceus, logo seguiriam o modelo neerlandês. Simplificando, fariam coincidir a “presença gráfica” do galego com a da forma do idioma que tem grande difusão no mundo.
Para aqueles -como quem isto escreve- a viverem acavalo entre a Galiza e a Flandres desde há lustros, para os que trazem a retina cheia de belezas do Impaís Levitante, as terras frias e tristes de flamengos e holandeses animam a ilusão dum mundo melhor. A solução é possível ao jeito flamengo. A Flandres marca o caminho da irmandade produtiva com a Holanda.
Até há um século o francês representava a Língua A do sistema diglóssico belga; o neerlandês, a Língua B. Mas a Grande Guerra já veio demonstrar que na frente de combate, baixo o inferno das explosões, as ordens não se podiam dar só no idioma dos senhores. O povo mobilizado para lutar falava doutra maneira e não percebia os chefes.
Quiçá não foi isso o que fez mudar as coisas na Bélgica, mas pode-se tomar como referência histórica. O fato é que hoje o flamengo funciona em igualdade com o francês, e mostra-se na escrita como o holandês.
As pessoas que andam nos países do nevoeiro, mesmo não sendo capazes de falar as línguas nebulosas que ouvem, logo apreciam quem é flamengo e quem holandês pois falam de forma semelhante mas não igual. Por exemplo, o som “gh” holandês é mais forte que o flamengo (como esse mesmo som, também galego, é mais forte ao sul que ao norte da costa atlántica). Ainda mais, vê-se nos letreiros que há palavras exclusivas do flamengo e do holandês (curiosamente, os holandeses aceitam galicismos que os flamengos rejeitam: algo como acontece com o português e os luso-castelhanismos que horrorizam os galegos).
Contudo, e voltando ao começo desta nota, se o Valentim Garcia e os funcionários às suas ordens fossem consequentes, deveriam contatar com os seus colegas flamengos para verem soluções que pusessem o galego na órbita que lhe corresponde, e sempre pensando na imensa vantagem comparativa do galego sobre o neerlandês: apesar da miopia dos reis Áustrias, instalados em Madrid e Valladolid, os portugueses continuaram a percorrer os Sete Mares e a povoar países, superando com muito as capacidades civilizadoras dos Países Baixos.
¿Quer a Junta da Galiza projetar o Impaís ao mundo? Aproveite as suas potencialidades, começando pelo idioma, e não peça licença em Madrid, nem mesmo a um galego renegado como o senhor Rajoy, quem pronuncia o seu apelido à castelhana e esconde a figura do avó galeguista no fundo do armário.
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