Em 2008 um grupo de artistas plásticos (Branda, Carmen Cierto, Inma Doval, Karlom López, Manoel Bonabal, Manuel Silvestre, o próprio Nacho Baamonde, Nando Lestón, Omar Kessel, Roberto Castro, Rubén Fenice, Sebas Anxo, Sindo Cerviño e Víctor Espiñeira) decidiram fazer uma homenagem ao pintor Urbano Lugris, projecto ao que se uniram com dous poemas Ramiro Torres e com uma abordagem crítica Carlos Lafuente.
Os trabalhos focaram-se desde a mais estrita liberdade de cada pessoa, dialogando com o que Lugris supunha para cada um deles, a partir da comum admiração da sua obra, ainda hoje em grande medida desconhecida.
O resultado é este conjunto de gravados e poemas reunidos sob o nome de “Áncora no alén”, que permaneceu exposta até o 26 de Março na Asociación Cultural Alexandre Bóveda (Rua Olmos, 16-18, 1º, A Corunha), tendo previsto percorrer mais espaços por todo o país (finalizará em Novembro-Dezembro no Muséu do Gravado de Ribeira).
Só há vinte exemplares das obras de todos os participantes, dos que quatro estão ainda à venda para quem estiver interessado (podem contactar com Nacho Baamonde, no telefone 646-411624).
Aqui reproduzimos o texto introdutório conjunto:
“Cem anos depois, no mesmo lugar onde nasceu o grande mestre Urbano Lugris, seguimos aprendendo das formas que nos legou, como frutos do enorme trabalho de libertação em que deixou o melhor da sua existência.
Abordamos as nossas obras reconhecendo a sua figura, face à adulação dos diversos poderes, prelúdio da sua fossilização, como um maravilhoso exemplo de transformação da realidade, por escura que for, em rede de caminhos para o reino da Liberdade, exercitando assim a parte mais necessária da condição humana, quer dizer, universal.
Desde as nossas diversas moradas saudamo-lo como um indagador do Mistério que, protegendo-se com o humor, nos traslada a um presente eterno onde partilharmos a criação como uma maneira privilegiada de comunicar-se com a Vida, através dessa âncora que une todas as idades e lugares num mesmo ponto luminoso.
Por isso nos declaramos seguidores seus, desde diferentes perspectivas que nos permitem trabalhar nessa mesma linha de intensificação do conhecimento, acreditando, como ele, na permanente recriação do mundo de todas as maneiras possíveis.
Aqui e agora reclamamos a necessária actualidade da visão poética, ou o que é o mesmo, radicalmente vibrante de Urbano Lugris, quem segue a lavrar na mina transparente do nosso ser esta ampliação permanente do horizonte até o infinito, rotundamente Real.
Novembro de 2008.”
Acompanhado das obras dos artistas plásticos:
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E dos poemas de Ramiro Torres:
A âncora baixa em nós
Até a câmara esquecida:
Subitamente respiram
Os animais ali debuxados
Na sua desnudez primeira.
Trazem à nossa superfície
Os olhos sábios e verazes,
As suas pequenas árvores
Nascendo sobre as cabeças,
Como a luz serena da noite
Em que volvemos, sempre,
Ao início do canto da união.
O olho multiplica-se em rotas infinitas,
Abre o seu diamante lavrado na noite,
Entre o respirar dos oceanos agochados em si:
Ouve o seu próprio cair sobre as cidades
A abrir portas desenhadas no seu abismo.
Toda a força guardada em séculos vem segurar
Os movimentos das mãos, no seu habitar
Outro tempo assinalador de ilhas intactas.
Levas-nos, perdendo o peso das nossas
Vidas sobre as areias encantadas,
Ao espaço esculpindo-se transparente,
Chamando-nos à luz emergida ante ti.
Reunir todos estes trabalhos foi um esforço frutífero, que permitiu comprovar a vigência da figura de Lugris na actualidade, esparegida em diferentes perspectivas criadoras que acham no seu exemplo uma das chaves magnéticas com que abrir novos espaços para a imaginação e a Liberdade, caminhos mais precisos ainda nestes tempos em que estamos.
Ramiro Torres
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