A vida de cada homem é um caminho para si mesmo, a tentativa de um caminho, o esboço de um sendeiro
Hermann Hesse
Depois de muitos anos, começas a entender o início e o final do caminho: a alfa e ómega – princípio e fim. O sentido da areia fina penetrando um dia nos pés, ainda na infância delicados (outro pequeno pó, na adolescência misturado com o cabelo selvagem, na relva deitado). E a chuva limpando as impurezas de tu corpo, já na maturidade, uma vez que atravessas-te o deserto (sei que se estás a ler este relato, ou bem começas tua travessia no meio das dunas cambiantes ou, pela contra, já tens deixado atrás os dias mais ásperos e secos da tua vida, passo a passo, trabalhada –como uma escultura cheia de amor, de luz, mas também de sombras). E deste modo vais aprendendo, consolidando a senda– concretizando tua obra mais grande: a realização da tua alma.
Aprendes a apreciar a queda do orvalho acima dos lábios, sempre em suspensão; e do poder do trovão, observas, concebes e calas –a força da natureza, que te faz insignificante, se não houvesses observando também, essa mesma força, ter-te a ti criado… Assim é a aprendizagem. E como da paciência das rochas, te vais, sem tu muito bem saber fazendo-te outro aliado: paciente, também, de tanto observá-las. Pois algo mineral habita na tua essência, tal vez em teus ossos; vegetal pode ser mesmo teu sistema vegetativo, por divagares um instante e; animal no teu sangue ardente. De humano ser: os sentidos mais aguçados (para o bem ou para o mal. Mas se estás aqui lendo esta mensagem: de seguro te sacrificas por sacar esse oculto bem, do mais profundo das tuas entranhas. Esse bem que apaga toda maldade).
As vezes, teus sentimentos, sabem do voo circular das gaivotas, e da necessidade de transitar das outras aves migratórias. Adentro tuas emoções entenderam a fúria da loba ferida, do cão no momento do ataque, e dos homens deixados as suas paixões mais baixas, retidos e deitados na berma da obscura estrada. Agora completamente vencidos, e mesmo abandonados (ate pela própria família) compõem o mesmo inventado túnel que tu já atravessas-te e, pelo tanto, nada tens a dizer sobre eles… Além de desejar-ses um dia de sonho aprazível, um retiro fora dos pesadelos amargos. E, finalmente, que suas veias fique a salvo, da morte, sádica injetando-se.
E continuas tua caminhada, pois bem sabes, que se parares aqui na rua dos marginados, nada mais poderias fazer, a não ser que teu destino estiver, de algum modo pelo auxilio da compaixão, a eles muito vencelhado. E tu precisares servir aqui, pois de serviço está feita a viagem: do mesmo modo que nós fomos servidos, pelos sacrifício de nossos país, vizinhos, familiares, companheiros e amigos, desde aquela já mencionada infância.
No entanto, essa não é hoje tua missão; assim que continuas caminhando. Mas isso não te faz mais inumano, pela contra, te faz mais amoroso e honesto, quando os ajudas momentaneamente com um olhar, um sorriso, uma palavra de ânimo ou, alguma moeda em troca da imensa necessidade (arredor de todo este mundo, pela teima da guerra ainda instalado da assumida, como normal, psíquica e material precariedade).
Ajudas no que puderes (mesmo compartilhando tu sopa), se deixarem que tu realizes essa tarefa, por um efémero segundo, a seu lado. No entanto, não deves compartilhar com eles tua caminhada. Tua meta é outra, tuas montanhas ficam longe deste paragem, e, eles devem removerem pelo esforço próprio (como tu, como todos) os passos errados, que os mergulharam em esse poço – do qual tu foste salvo, por tua coragem, mas também auxiliado – as vezes mesmo com um aceno de ânimo…
Mais nada podes fazer por eles, mas ainda podes muito fazer por ti, e por todos os que algum dia, ler quiserem este relato: o livro das nossas vidas…
Deves avançar ate o vale onde as augas do teu (interior) rio por ti (desde sempre) aguardam, para em elas renascer: a ti mesmo baptizando-te (depois de ter deixado tua sombra no país da escuridão imaginária –onde tu mesmo permitis-te, que outros, te situaram, por um breve intenso ou profundo motivador instante. O tempo varia, segundo cada causa. Os efeitos, para todos são devastadores. Mas isso foi, é passado– o presente é o único importante).
Estás chegando: deixa avançar ate teu rosto a curva, que insinua pelo rio ser criada: que não te divida, se não, pela contra, que te una com todas as sagradas montanhas, pela forças das suas augas oradadas. Dentro de tu alma, com elas, com toda a paisagem; junto a teus irmãos menores: os animais e, as plantas, és –sempre serás um imenso espírito de luz– UM GIGANTE.
Depois de longos anos, inicias agora a compreensão da vida como significado, da luta como significante, da paz como meta.
Compreendes o sorriso que se tem marchado do teu rosto, mas nunca a alegria de viver, simplesmente reciclaste ou moderaste certos impulsos joviais, perfeitos a outras idades.
É do passado que se transporta na mochila subtil a imensa bagagem; sendo, ao mesmo tempo, que de ele nada permanece. Seu pensamento nuvem, além de nostálgica evidenciou-se em fumaça, ilusão que se esvaía. da tua mente retida por um instante, nos velhos trajes. Roupas que invadem o espaço (situado no presente) com seu tempo anterior, criador de falsos anelos e turvas imagens…
Começas a compreensão de estar sempre de passo. Pé após pé, em pé, vais transformando-te com a vida, e, ela contigo transformando-se. Daí sabes apreciar, o holístico ensinamento: tudo evolui ao mesmo tempo. Evoluímos nós, também o que nos rodeia – dado não haver mais barreiras entre nós, que as criadas pela mente. Essa mente ignorante, que por causa de desconhecer, mesmo desconhecer-se a ela própria, sempre mente: enganando-se e enganado-te. Mas tua agora conheces algo melhor suas insinuantes banais palavras. E, por cima delas, adoras o silêncio entre as notas.
Entendes, ainda que sem retirar o medo, nunca pode haver clareza; nem nas sendas que escolheste como verdadeiras experiências; nem nas veredas que adentraste para comprovar a morte, se internar no mais baixo dos infernos. Tu também comprovaste existem aqui muitos deles – inferiores pela sua obscura – obscena – ou terrível natureza.
Mas mesmo assim, chegas a saber, que uma vez obtida essa clarividência; após a luta do guerreiro, contra as sombras, por ti, na tua alma impressas: o sol de novo teu rosto aquece… Mesmo com esse sol dentro dos teus olhos, não poderás evitar o caminho de regresso: olha o portão de pedra da entrada; cada casa tem o seu, e a tua não pode ser uma exceção a regra (ninguém pode adentrar-se na porta da qual somente tu guardas a chave).
Atende: além, onde o mar se junta com o horizonte, tu comprovaste por primeira vez a divisão ser um erro. Pois, como muito bem intuis, em este local tua verdadeira essência te aguarda (algo dentro do teu peito leva anos murmurando: aí se encontra a Fonte, a auga que sacia toda a sede dos penitentes, precisados de amor, caminhantes).
Chegado seu momento, gostes ou não, terás que partir na tua barca de pedra (como na céltica tradição radiante), rumo a Eterna Primavera: de volta a tua primeira, primordial e única casa. Em Avalon, a ilha das maças terás um breve descanso – para ir retirando as vestes, que agora não são precisas na tua nova paragem.
Aqui, está, pelo de agora, tua missão terminada. O verdadeiro destino do ser humano é conseguir ir realizando sua individual evolução (pesada muito pesada); enquanto ajuda, a sua vez, a outra evolução do coletivo, ir em andamento consolidando-se, com o passo dos milénios – para nós eterna esperança.
Consolidar-se da irmandade: primeiro na família, depois na aldeia ou no bairro; mas tarde na nação, na pátria, na região, para finalmente chegar, ate a Comum Imensa e planetária casa. O coletivo, teus semelhantes, àqueles que com sua cooperação, dentro de cada grupo, a ti também te estão, neste mesmo instante, ajudando a fazer tua própria precisa mudança. Sem tu reparares, eles te trazem esperança, tempos do sorriso, da paz, da noite dura e amarga das maiores aprendizagens. E também a alegria de ser por eles irmão nomeado; não somente as pessoas, também toda vida que te alegra a caminhada. Cruzado serás, com a espada da palavra. Templário ficarás dentro do teu receptório sagrado. Imaculado teu espírito, não penetrado pelas profundas augas, cambiantes, do rio da vida…
Que tuas raízes, leitor que procuras luz (no meio da excelsa brêtema astral da alma), sejam sempre fortes, para permanecerem sempre poderosamente afirmadas, no chão que por nome é teu leito; permitindo a tua interior voz (o tronco que exalta os ramos) seguir a luz do sol, desde a manha ate o entardecer; para quando na noite chegar teu preciso descanso, estejas preparado para receber nos braços da Cósmica Mãe, o Amor – Tudo do Espírito Infinito do Pai cheio de grata emoção Sagrada.
Desde a primavera do nascer abundante, ate outono, quando as folhas de novo descem para aninharem humidades precisas no mato. E no inverno (no instante que a terra chama a teu interior: inspiração expirando), tua meditação seja no fogo, que acende a lareira, ainda perene, e repleta de cantigas e contos, que foram alimentando tu pequena alma de criança. Tua oração esteja viva ainda em ti, como uma forma limpa de ternura; que permita prevalecer esse ar de inteligência subtil que sempre te acompanha; como a auga onde foste, anteriormente, pelo rio, baptizado.
Lembra que para vencer as tendências negativas, das circunstâncias que nos rodeiam, devemos triunfar sobre nossas fraquezas, ânsias de poder, deformidades da psique.
Se a tua, amável leitor, é acomodar-te por meio da palavra escrita para o mundo melhor entender e não arriscar-te, começa a sair da tua zona de conforto.
Deixa o livro, entre as pernas, por um minuto. Olha para a parede. Agora pousa o livro na mesa, e sai, por esses mundos adiante, a procura dum bom Mestre, que te ajude a acordar – desde o mais profundo do teu espírito indomável – aquele guerreiro de luz; que em ti ainda é como uma bela canção, todavia adormecida. Ergue tuas pernas e teu coração para acordar a energia da tua sagrada força, e em ela, para sempre ficar tuas fortalezas acesas. A torre com o fogo permanecerá, já não a tua espera – se não como faro, para outras almas, que precisar por um momento resguardar-e em seus muros. Mas as torres não foram construídas, para permanecer, retidos em elas, pelo tempo.
O guerreiro deve saber utilizar a energia do poder para cortar a cabeça dos seus demónios internos, que o impedem de realizar-se na Lei que realiza o Ajuste. De seu amor adentrar dentro de ti mesmo, dependem tuas boas escolhas. De amar-se a si próprio, para depois regalar essa abundância de carinho aos outros.
Luta contra as forças interiores – inferiores – que te aprisionaram em tua gaiola de ouro imaginária. Vence-as. Tens esse poder, procura um Mestre – se estiveres pronto – ele aparece, pode ser em forma humana, pode ser em forma etérea (um certeiro pensamento), pode ser em forma de livro, pode ser como uma aldeia encontrada no meio do caminho. Pode ser o caminho em si. Pode ser um musical instrumento. Pode ser uma ferramenta que te regala um ofício, com o qual ganhar honestamente tua vida. Pode ser… Uma Irmandade Fraterna.
Depois. Depois, pela noite, podes continuar observando nas estrelas, os ciclos circulares das épocas – uma vez a tarefa do dia, tenhas, com o guerreiro do xamânico poder, realizado devidamente. Segundo, a guia, daquele teu mestre escolhido, quando estavas pronto para seu encontro. Aprendendo, devagar o necessário, para ti, em esta vida. Aceitando tua caminhada, mais lenta ou rápida, sem reparar nos outros que estão a frente (eles também andaram atrás nos seus inícios); sem observar e vangloriar-te, por causa daqueles mais atrasados (eles tal vez já estiveram onde tu agora te achas, e tiveram de atrasar, por causa de apressar-se. Aprende a lição e vive com humildade).
Até o momento, em que o Mestre Interno acordar: aí serás Senhor de todo teu reino! Mas nem sonhes com esse momento. Chegar ha de chegar, mas no seu tempo adequado – adiantar é atrasar (nunca esqueças este conselho). Viver acreditando estar perto e viver na ilusão e cair no umbral dos desiludidos, prontos a ser presos, pela armadilha da sua impaciência, que aos ilusos na prisão dos sonhos, um certo tempo de punição, encadeia. Vive no momento, atento a teu presente.
Finalmente, desfruta os momentos ganhados pelos amor, corrige as dores causadas pelo desejo de experimentar cousas que desconheces (mas não te culpes pelas tuas ignorâncias, todos temos as nossas, e somente sofrendo suas consequências, evolucionamos, para afastar-nos do pernicioso trajeto). Sente a luz dentro de ti. E lembra, nunca esqueças, teu Anjo da Guarda – O mais Superior em Ti, aquele que jamais te abandona, nem te julga. Jamais deixa que nas mais terríveis das tuas batalhas fiques em soidade.
Calma teus ânimos, se puderes. Tem ainda muita paciência. Teu destino é a casa voltar, mas isso não poderá ser feito, sem antes, ter conquistado o caminho verdadeiro, que atravessa milhares de enganosas veredas e sendas onde a lua, a de jogar, contigo no lago das aparências.
De cada ramal que te desvia do teu rego, uma formidável aprendizagem; muito valiosa para transitar, por novos campos em novas aventuras, que a saída do sol, por ti sempre aguardaram.
Finalmente chegar-hás e, então, compreender-hás o Pai, contigo esteve sempre presente. Sua chama nunca se esgota, e dela, tu, és uma faísca sagrada e perfeita. Mas precisas é também aperfeiçoar tua alma, no início sempre inocente.
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