Agora que é dormitório o banco,
sem crédito ou assento para o pranto,
investem em sonhos e saudades
povoadores sem luxo da entidade
que têm por chão o frio encadeado
a este leito público ignorado
na cegueira da noite da cidade.
E guardam três mil rostos afogados,
e mais um interesse impagado,
resguardados na noite do caixeiro,
estes seres nascidos de um caderno
de versos sobre heróis silenciados,
esquecidos no dia, apagados
da nómina do espectro pós-moderno.
Entre a matéria escura das vidreiras
que anunciam hipócrita hipoteca
com juros desterrados de cem mares
e seguros perdidos nos azares,
moram tempos de números sem letra,
mentres letras perdidas e pequenas
contratam e alugam liberdades.
À espera da jornada laboral,
para deixar o ninho e caminhar
ocultos entre as primeiras luzes,
ainda pensam revoltas entre as nuvens
soberanos de nenhum capital,
aves raras nas ruas da manhã
sem muda ou mudez que o tempo mude.
Namoram sobre o mármore cantigas
do outro lado da caixa de caudais,
abraçados à liberdade amiga,
registam os seus sonhos sem aval.
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