CADENET (inícios do século XIII): S’anc fui belha ni prezada (tradução de Graça Videira Lopes)
– S’anc fui belha ni prezada, ar sui d’aut en bas tornada, qu’az un vilan sui donada tot per sa gran manentia; e morria, s’iéu fin amic non avia cui dissês mo marrimen, e gaita plazen que mi fes son d’alba. – Iéu sui tan cortesa gaita que no vuelh sia desfaita leials amors a dreit faita, per que·m don guarda del dia si venria e drutz que jai ab s’amia, prenda comjat francamen baizan e tenen, qu’ieu crit, quan vei l’alba. S’iéu en nulh castelh gaitava ni fals’amors i renhava, fals si’iéu si no celava lo jorn aitan quan poiria; car volria partir falsa drudaria; et entre la leial gen gait iéu leialmen, e crit, quan vei l’alba. Be·m plai longa nuech escura e·l temps d’ivern, on plus dura, e no·m lais ges per freidura qu’iéu leials gaita no sia tota via, per tal que segurs estia fins drutz, quan pren jauzimen de domna valen, del ser tró en l’alba. – Já per gap ni per menaça que mos mals maritz me faça, no mudarai qu’iéu no jaça ab mon amic tró al dia; car seria desconoiscens vilania, qui partia malamen son amic valen de si, tró en l’alba. – Anc no vi jauzen drut que·l plaguês l’alba. – Per çó no m’es gen ni·m plai, quan vei l’alba. |
– Se já fui bela e prezada, de alto a baixo estou mudada, pois a um vilão fui dada, só pela sua riqueza; e morreria se um amigo não tivesse, a quem minha mágoa dissesse e amável vigia que me faça o som da alba. – Eu sou tão cortês vigia que não quero ver desfeito leal amor e direito; por isso vigio o dia, se já vem, e o que jaz com sua amiga despeça-se livremente, beijando e abraçando, que eu grito quando vem a alva. Se vigiasse castelo onde falso amor reinasse erraria se não ocultasse o dia, quanto pudesse; pois quereria quebrar falsa mancebia; mas entre gente leal vigio eu lealmente e grito quando vejo a alba. Bem me apraz noite longa e escura e o tempo de inverno, em que mais dura, e não desisto, por friúra, de ser eu leal vigia, todavia, para que esteja seguro fino amante, quando prazer sente com dona valente, do serão até à alba. – Nem por pragas ou ameaças que meu mau marido faça, deixarei eu de jazer com meu amigo até ser dia; pois faria uma ingrata vilania quem separasse rudemente o seu amigo valente de si, antes da alba. – Nunca vi ditoso amante que gostasse da alba. – Por isso me é custoso e não me apraz, quando vejo a alba. |
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