Contam que há muitos anos, no centro da China, um jovem foi ter com o vidente que habitava a montanha sagrada. O jovem, quando se encontrou com o sábio, perguntou como é que eram -no caso em que existissem- o Céu e o Inferno. O velho vidente, após ingerir alguma substância e mudar de ânimo, pôde informar ao peregrino de que vira claramente Inferno e Céu, pediu-lhe para pôr suficiente atenção e declarou:
“O Inferno é uma terra em que há uma enorme
montanha de arroz, rodeada por um profundo anel
de água, à volta do qual há muitas pessoas cheias
de fome, providas de pauzinhos muito longos; as
pessoas podem chegar até o monte de arroz com
os pauzinhos, mas não conseguem trazer o arroz para a
boca porque lhes cai no longo trajeto.”
“O Céu é uma terra em que há uma enorme
montanha de arroz, rodeada por um profundo anel
de água, à volta do qual há muitas pessoas cheias
de fome, providas de pauzinhos muito longos; as
pessoas podem chegar até o monte de arroz com
os pauzinhos, mas não conseguem trazer o arroz para a
boca porque lhes cai no longo trajeto.”
O jovem, perplexo, perguntou então qual a diferença entre ambos. O vidente respondeu: “A diferença está em que, no Inferno, as pessoas não dão levado a comida para a boca e estão sempre insatisfeitas e esfomeadas, mas no Céu, onde as pessoas têm o mesmo problema, conseguem facilmente chegar-se mutuamente o arroz, uns aos outros, ficando todos alimentados e satisfeitos entre si”.
[Publicado na revista Poseidónia, nº 1, Corunha: 1998. Na rede em Çopyright 60]
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