Flor essência. Neste livro de apenas 96 páginas, Tere Tavares (amiga escritora e poeta, Brasileira) confirma aquilo que tenho dito nos últimos dias, «os modelos são todos para todos». Odeio os ensaístas que têm a tendência para comparar uma escrita com a outra. Toda a escrita que não seja plagiadora é singularmente de quem cria. Por mais que haja imagens criacionais numa, assim como na outra letra é patético igualmente inserir um poeta ou escritor no feto pronto, ou imagens semelhantes. Tere Tavares concebe a sua escrita com uma perfeição ao nível da língua, letra-poética, imagens tinta e voz. Tornando a sua escrita para o leitor “ecrã” de projecção cinematográfica. Neste caso, o leitor vem ver nesta escrita o mínimo e a essência dos objectos que ela descreve sobre a sua agradável letra: “a lagrima não diz/ o rio que me percorre/ nem o riso me define / … a nudez é/ sempre forte demais/ na continua fluência/ de buscar o íntimo mistério”. Tere Tavares emociona e apaixona o leitor, leitor que dá significação aos mínimos detalhes da escrita e da letra, dos exercícios e da prática, da arrumação e da perfeição: “as coisas que digo/ não me dizem/ já as que calo me contam …”. Há um descrever muito íntimo e profundo que só uma poeta madura, como Tere Tavares, nesta escrita pode fazer: madura? Eu não disse madura, talvez esteja equivocado entre os radares desta letra, cuja semente foi lançada pela Tere Tavares “… Tua saia toda vida/ toda sorte o teu seio/ e branca toda lágrima que molhasse a boca/ das flechas que atiras ao destino”. Há igualmente um exercício que é muito importante em criação da letra literária, em particular a poesia: “a abelha chegou/ bebeu o néctar da flor de limoeiro/ vestiu-se de me// o pássaro chegou pousou no galho em meio aos espinhos vestiu-se de ninho// homem … vestiu-se de mel/ … ninho/ … limoeiro”. Tere Tavares não só é poeta e/ou escritora, é também “gostadora” de palavras de forma mestra e especial: “noiva do sol/ veste-se de olhos negros/ núpcias da noite”: esta poeta é concreta! Isso sim, caracteriza a sua escrita singular, pelo menos neste livro, que para mim livro não sei se é (isso transcende o ser livro), mas autêntica viagem. Talvez se justificado pelo facto da mesma poeta Tere, para além de pintar em telas de papéis, igualmente em telas de tinta plástica (arte): “sou incapaz/ de chorar uma lágrima de cada vez/ vejo-me cachoeira/ chorando todas as chuvas juntas/ e a cada poente/ tépido … no anseio de um sonho ressôo”. Esta escrita inspira e ensina não a escrever, mas a pintar imagens lindas e perfeitas quando o jogo na escrita ganhar outro conceito como “aprimorar” a beleza, e o gongorismo desta perfeição erra apenas o que é: “o sol vermelho/ acalma o horizonte/ fico assim/ a perder-se no avesso do dia/ até que a unidade de um sopro me contemple” nesta mesma escrita, para além do amor ao mínimo do concreto das coisa(S?), existe igualzinho a essência de preferência e aqui eu me encontro: “a madrugada é mãe santa/ traz flores silvestres/ as únicas que valem apena” esta poeta também gargalha a letra sem limite. A letra fica frustrada e ri-se com ela e volta a estar furiosa. Contudo, Tere Tavares é uma das poucas escritoras com estas características, até porque não pretendo comparar! Comparar, comparar o quê?
Lino Mukurruza
Lichinga, Moçambique, 04 de Maio 2015.
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