O rapaz estava exercendo de vendedor de roupas, numa dessas lojas de pau e cana com teto de lata, sem outra transcendência que varie das outras lojas assentadas na periferia de Quelimane. Mas ele tinha um carisma e um ar de gentil-homem que atraia a gente a seu estabelecimento comercial. Conversei com ele e mesmo não divagava nas artes de regateio e, também, de superar opróbrios de supostos compradores malandros. A cada palavra que eu dizia ele concentrava os olhos nos meus, um verdadeiro psicólogo a ler os meus gestos. Falava quase a interpor metáforas muito sábias. O rapaz esteve poucas vezes sob a sombra dum cajueiro, a repousar cansaços da lavra, de carregar feixes de lenha e caldeiras de água, desde longínquas terras. O miúdo estava modelado pela velha estirpe de mercadores que praticaram os seus progenitores. Porém, ele estava adaptado à superfície de aquele mínimo retângulo, um lugar ótimo para criar poupanças. Naquele lugar a vida infantil tinha outra passagem, talvez alheia aos mistérios que sucediam além da sua loja.
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