Na minha visita ao Hospital Provincial de Quelimane, na mesma entrada, vi uma cena que me deixou muito magoado, arrepiado! Uma imagem brutal que nos faz meditar sobre o que se passa na África toda, com tantas doenças e com poucos médios para erradicar uma das mortíferas pestilências como é a SIDA. Na entrada do referido Hospital estava tombada, sobre um mísero tabuleiro, uma menina que aparentava não mais de quinze anos, a espera de ser acomodada num colchão vazio dentro do Hospital. Sobre as suas costas estava a dormir o seu filho de poucos meses de idade, sustentado pela capulana (lenço que serve para atar as crianças). Estava debruçada sobre umas chinelas de plástico barato, única riqueza material que ela tinha. Dois seres sozinhos à espera de serem internados numa das residências de saúde mais saturadas de Moçambique. Esse quadro tão surrealista repete-se em tantos lugares de África que esperam a dádiva dos países ricos, mas nada chega e nada inquieta. O Hospital Provincial de Quelimane abre ferida na nossa consciência, mas esta não acorda, sempre a dormir e a sonhar com outros interesses. Ninguém sente o pavor de milhares de vítimas despossuídas e insuladas por esta fatal doença. Para elas a palavra irmão não existe. Nada sei desta criança e de seu filho, mas os dois fazem batucada no meu coração.
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