I
Quando este texto for publicado, passado terão já várias semanas da participação no meu último e derradeiro ato literário para realizar uma apresentação do meu último e derradeiro livro.
II
Indica o “Priberam” que “derradeiro” é um adjetivo que significa:
“1. Último.
2. Que termina a série de.“
Por sua parte, o “e-Estraviz” indica nas suas duas primeiras acepções que significa:
“(1) Que vem detrás. Que está depois. Último.
(2) Final, estremo“.
III
A canseira de não ganhar nenhuma batalha, a consciência de que a resistência é -quando menos no meu caso- inútil, junto com a perda da imprescindível coragem para manter a escrita, levam-me a aceitar a derrota e dar a guerra por perdida.
Sim! Explicito para quem poda ter dúvidas: isto é uma Declaração formal de entrega unilateral, incondicional e definitiva das armas da literatura, a publicação e a edição.
Se num futuro, próximo ou longínquo, as circunstâncias mudam, as necessidades se modificam e/ou a realidade se transforma, e resulta novamente imprescindível agir neste frente de luta, já não serei eu quem recolha estas armas.
IV
Igual que na grande maioria da literatura galega, a minha escrita teve sempre uma forte motivação e tensão militante. Perdida a vontade e desaparecida a tensão, não faz sentido manter uma prática oca, erma e sem pulsão.
V
Uma das caraterísticas da literatura é que permite escrever tudo, absolutamente tudo, mesmo aquilo que nunca antes foi escrito ou imaginado. Mas “possibilidade” não significa “obrigatoriedade”. Não há que esforçar-se em escrever tudo, quando chega o momento do convencimento de que já não há nada mais que escrever, nada mais porquê escrever. Para mim, isso é hoje.
VI
Livros, documentos e textos não publicados permanecerão inéditos. Alguns, em gavetas de velhos armários; outros em arquivos de computadores que ficarão em breve obsoletos; outros, em papel nos velhos cadernos nos que foram escritos, sendo já em ocasiões alimentos para ratos e ratas nos galpões onde ficaram arrombados.
VII
Hoje assino como Josephine Baker, porque não por acaso foi uma mulher que também não se chamava assim; com origens familiares incertas; e que conheceu o significado do compromisso. Hoje sou eu Josephine Baker, porque o menos importante é quem seja eu.
VIII
Com certeza, há já muito tempo que não nos víamos nos bares. Para mim chegou o momento de lermo-nos já só nas bibliotecas.
Assdo.
Josephine Baker
1 de Julho de 2016
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