Morgado Mbalate
Doce Setembro
Nasci do amor entre o senhor Henrique e a dona Palmira, numa madrugada de 6 de Setembro de 1993, pela graça de Deus. Ao som do Afrobeat de Fela Kuti, a madrugada abriu caminho para que anjos tocassem flautas e música africana no jardim de casa. Meus pais escreveram um poema de amor no âmago da minha alma, e como anjos, cantaram louvores em agradecimento à Deus, pelo nascimento do menino. Sou fruto da engenharia de Deus, dos seus mais belos sonhos e pensamentos. Recém-nascido, eu chorava outonos e respirava primaveras. Batizaram-me com o nome de Morgado. Passados alguns anos, cresci e ganhei um nome carinhoso de casa, Gadinho, assim sou carinhosamente chamado, pela família e pelos amigos mais próximos. Meus olhos castanhos tinham luz e brilho, que até hoje permanecem. Meu sorriso brilhava mais que o sol de Setembro, e até hoje ainda brilha. Nasci no rio de Deus, e me tornei um sonhador incorrigível, meu espírito carrega grandes doses de esperança. Sou um africano, nascido no mar moçambicano, numa África dos africanos e não africanos. Sou um jovem que escreve, luta e sonha viver numa África Africana. Sou um poeta ambientalista, o meio-ambiente me torna poeta, e através da bússola da poesia reencontro os sonhos da minha infância. Sou apaixonado pelo meu país, pela África, pelas causas humanas, pelo mundo e pelas ternuras da poesia. Amo a vida e ela me ama também. A minha força ancestral e a energia do meu corpo negro caminham de mãos dadas com a herança e a grandeza dos meus antepassados. Minha africanidade e moçambicanidade estão sempre presentes em tudo que escrevo. Sou uma paisagem desconhecida.
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Morgado Henrique Mbalate, mais conhecido por Morgado Mbalate ou o Anjo das Palavras, é escritor e poeta moçambicano. Nasceu em Maputo, a 6 de Setembro de 1993. Licenciado em Filosofia (USTM). É membro da Associação dos Escritores Moçambicanos (AEMO); Cofundador do Círculo Académico de Letras e Artes de Moçambique (CALAM). Autor dos livros Odisseia da Alma (2016); A Arte Suave da Palavra (2020); Co-autor do CD de Literatura Negra O que nos a Bala (2018). De entre prémios e distinções, destaque para o Prémio Bicentenário de Dostoiévski (2021); Prémio Mundial de Poesia Nósside (2014) e Prémio Fernanda de Castro do IVº Concurso Internacional de Poesia e Prosa (2017). Participou da 4ª edição do Festival Internacional Earthquake Terramoto (2021). Seu poema “Africanizando” foi reproduzido em vários livros didáticos do ensino fundamental brasileiro, e seus textos foram traduzidos para francês, inglês, espanhol, italiano, e são estudados em escolas e Universidades em Moçambique e no Brasil.
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