Hoje celebramos o reencontro com um poeta português muito querido na Galiza, Vergílio Alberto Vieira, a quem conhecemos Táti Mancebo e mais eu em Braga da mão do também grande poeta e amigo Amadeu Baptista, por volta do ano 1994.
A. Ferreiro
A ÁRVORE DO VIAJANTE
Do génio a que deu abrigo,
Sem ser por obrigação,
Ninguém sabe, ser amigo
Não exige condição.
Para o que casa não tem,
É sempre longa a viagem.
Dar, pois, sem olhar a quem,
Que caminho é passagem.
Por muito mais receber,
A seu favor o que dá
Nada lhe falta para ser
Quem mais tem, se nada há.
Sombras podia vender
Aos que o sol castigava,
Mas antes pôr a render
Consolo a quem passava,
Deserdado, peregrino,
Andarilho, mercador,
Umas vezes, sem destino
Buscando seja o que o que for;
Outras, terras demandando,
Da promissão desejada
Que não se sabe até quando
Um dia, nos leva a nada.
*
O INVENTOR DE RIOS
Atraídos ao engano,
Pelo homem, que os esqueceu,
Sobem à terra, que o ano
A terra desmereceu.
O sol bebe-lhe o sangue;
Cansa-a, de fome, o arado.
Pobre terra, terra exangue,
Quem, pois, lhe dará cuidado.
Terá, o homem, o que quer,
Quando aperta a carestia,
Se assim a Deus aprouver
Como ao pão de cada dia.
Nasça, das mãos, a promessa
De outro tempo, outra vontade.
Qual jornada que começa,
Quando a vida é novidade.
Nasçam mares, onde o deserto
Castigou quem nada tem,
P’ra que o mundo então liberto
Não seja terra de alguém.
Inventem-se novas ‘speranças,
Novos caminhos, sinais,
Laços de amor, alianças,
Entre povos imortais.
Vergílio Alberto Vieira (inéditos)
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