“E isto é o Amor” é um dos temas musicais que fazem parte do último trabalho publicado até agora por Caxade. Na Palavra Comum, sempre aberta a todas as intensidades criativas, procuramos atingir um novo diálogo entre artes baseado nesta obra, para o que recolhemos o vídeo-single do tema, que dirigiu Leandro Lamas, com Javier Antelo Seoane na câmara e edição, a letra de Séchu Sende que foi musicada por Alonso Caxade, junto a várias das fotos feitas durante o processo de gravação (de Leandro Lamas), e os poemas de Eugénio Outeiro, Susana Sánchez Arins e Ramiro Torres.
Vai, mais uma vez, o nosso agradecimento expresso a Caxade e a tod@s @s participantes por permitirem a reprodução das suas obras e facilitarem estes diálogos tão irradiantes para nós!
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SÉCHU SENDE
Da tua mão direita
á minha mão esquerda
tendemos um tendal de roupa
de todas as cores entre nós
e isto é o amor
Erguemos os braços
e com a roupa ao vento
vamos caminhar
secar a roupa ao sol
e isto é o amor
Entre fábricas valeiras
dentes de leom
e prados com bubelas
assubiamos esta cançom
e isto é o amor
E no tendal levamos calcetins,
camisolas e cuecas violetas
e o teu sostém
e a minha camisa negra
e isto é o amor
E a gente olha para nós
e pensa que é um sonho
e pensa: Isto é amor
e isto é o amor
*
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EUGÉNIO OUTEIRO
Eu não te necessito.
Se não estás
estou sozinho ou com outras pessoas
e não se passa nada.
A tua ausência
não enche o coração de ausências,
porque a minha vida
não és tu.
O meu coração,
que tu tão bem conheces,
também não te pertence.
Afinal, estou a usá-lo
e necessito-o
também com outra gente.
Mas contigo estou melhor que sem ti.
Tu dás valor a coisas que antes nem considerava.
Há algumas que com mais ninguém
consigo compartir.
Contigo o coração é terno
mas não eterno.
Contigo é mais fácil sentir amor à vida
e talvez seja por isso
que a vida te ama
através de mim.
E isso
é
tudo.
E mais nada.
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SUSANA SÁNCHEZ ARINS
e isso é o amor
visionando a verbena
do caxade
acordou-me
que marina ia de socos
e balouçava na mão
limpos sapatos de salto
brancos
e guardava os socos
tão tosquinhos e de madeira
entre as pedras de um valado
e calçava os brancos sapatos
de ponta descoberta
[sandálias ló, dizia eu]
cala e escuita,
que este conto é nosso:
e luzia unlhas pintadas
e botava a baila com pepe
e outra baila e uma rumba
e três carinhos clandestinos
e mudava sapatos [sandálias]
por socos e voltava ao carreiro
de lama com a música e os beijos
ainda a dançar
no rosado das unlhas dos pés
abrigados na camurça dos socos.
e acordou-me
que uma noite
alguém levou os socos voaram
ou marina esqueceu o agocho
ou pepe escondeu para durar a festa
e houve de fazer o caminho todo
de curantes ao fojo
com os sapatos da mão
para não estropiar-lhes a brancura
e os pés descalços
e as unlhas rosas
e a música e os beijos
e o amor todo a dançar
na frescura da lama.
acordou-me isso.
arcos de arriba, 12 de junho de 2016
O trabalho “e isso é o amor” de Susana Sánchez Arins está licenciado com uma Licença Creative Commons – Atribuição-CompartilhaIgual 4.0 Internacional.
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RAMIRO TORRES
Desnudar no presente
os afluentes do amor,
sonhados por lábios
detidos no assombro
de um tacto insurreto,
aves num céu invisível
que arde bocas adentro,
enfeitados de nuvens
os corpos irreprimíveis
onde crepitam astros
de um tempo abolido:
casas abertas ao meio
nos braços da espuma
em que se dissolvem,
exaustas, as formas
e os nomes no uno.
*
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