Assim “faire la peau”, literalmente “fazer a pele”, pode significar “matar” (também se diz “querer tirar a pele de alguém”). “Fazer” adquire um sentido violento e antifrástico: apossar-se de e desfazer, estragar, destruir a pele enquanto invólucro e proteção do outro, enquanto sua demarcação (Jean-Luc Nancy)
A metamorfose intensiva e interior da pura imagem [eidolon]-passarinho torna-se à volta de espaços ilimitados de areia plenos de objectos do sensível (en sómatón skhémasin) onde pintura e vida se friccionam, se mudam e se entrecruzam por meio do exprimível (lekton) de uma potência (dynamis) rítmica do in-corpóreo (asómaton) e de forças invisíveis de uma aprendizagem oceânica, fazendo com que a sensação (aisthétikon) impulsione o sargaço do impensável e alcance o singular de um desenho-sensação a perfurar o real vigoroso com os comprimentos de onda de Mémoires d’Aveugle, de Derrida: há uma gestação de um acontecimento-outro-sendo à-flor-da-pele envolvida pelo vazio do espaço onde o transcendente nietzschiano vitaliza os sentidos das cores de uma escuridão que se intersecciona noutras cores adentradas pelo fora energético através de um movimento espasmódico e pático. Se David Hilbert e Alexander Byrne dizem que as cores deslizam e pululam no mundo físico, aliados a Kalderon sobre as problemáticas das ritmicidades, cores-refletâncias (albedos), juntamos aqui também George Boeree e JJ Gibson, que afirmam ser a luz a fonte geradora das cores, religando estas forças conceptuais à ciência da visão de Paul e Patrícia Churchland onde localizam as cores na oponência espectral das células retinianas e a suas transcodificações em complexas teias neurais. Entramos na estética do inacabável com as peugadas nómadas, mutáveis de Bete Gouveia, já contagiadas pela materialização das cores do sensível a irradiarem pela próprias partículas de rochedos erodidos que sobem por todo o corpo da pintora a fulgurar entre variantes alotrópicas: há uma apreensão de forças singulares dos respiros das conchas, das bordas dos entulhos, dos godos litorâneos, de aves errantes e de granulações inesperadas que intensificam os enervamentos disformes, lisos, elásticos, estriados fora de qualquer visão totalmente discernível na movência dos dedos que por vezes escapam ao cérebro por detrás de pinceladas em desvio e simultaneamente concentradas nas trilhas deformantes da pintora que despontam já como golpes duráveis no que está por acontecer: há forças invisíveis a transbordarem ritmadamente o olhar, o cheiro, a tactilidade e as escutas hesitadoras das polimorfias colorantes que buscam o anónimo e o incógnito dentro das fragmentações rochosas por erosão onde descodificações arenosas expandem, contraem e fazem vibrar cristalinamente a pele da pintora interiorizada na tela-ondulatória de um entrever: há uma pele-luminescente em dança a tentar criar esgotamentos nos objectos ocasionais com as forças da carne que se faz grito no avesso compositivo antecipador de uma visão com tramas sedimentares de um fora-íntimo em recomeços arriscados blanchoteanos: surge uma catástrofe levantada por um detrito rés a feixes de luzes a entrarem numa onda artista da dismorfose fisiológica onde a neuroestética se torna indeterminável, ininteligível e irrepresentável, através de uma correnteza vigorosa de um olho goetheano que se esculpe para a luz e com a luz perturbando a escala de Wentworth entre danças microângulares de areia: concha-peugada-destroços-quartzos-sensação extraindo o que anterioriza a tela como uma vaga de depósitos de sedimentos arenosos que ainda não construiu o seu lugar: aqui-agora: Bete Gouveia exercita as cores no vazio e nas ruínas e sobre-dentro linhas abíssicas, desconhecidas, inapreensíveis: pele-irritada pelo acidente da des-figuração já-envolvida por luzências transmutadas em colorações intermináveis e irresolutas: o cérebro penetra nas sensações, insubordina-se e é alavancado pelos transmissores das cores-passarinho ao redor de polifonias do monstruoso que o tornam indeterminado e desmedido por dentro da complexidão de um tempo insano: sinapses-micro-enervadas por cores-tectónicas: cérebro-olhante-hiperestésico dentro de hiatos heterocónicos, de interrupções feitas de infinitos espessos de uma existência com sintomas intemperísticos a atravessar vértebras do real: concha-infância salta pela janela multiangular de Bete Gouveia e vibra delicadamente à volta da psykhé (alma) de um olhar canino e das forças corporais entre incisividades do monstruoso inconsciente e desbotamentos das distâncias que o vazio gera: corpo-areia-descentramentos em fluxo e em saturação sensível de um olho que assoma e desaparece infiltrado nos milhares de interstícios da areia inactual: areia-corpo-em-demudança e uma peugada onde ressoa o animal-desenho que se torna visão do corpo através de uma geografia por vir, um território vidente, sem mapas e pleno de hieróglifos e de aprendizagens de cabeças de peixe em putrefacção erguidas para os chinelos de um viajante que já passou sem avisar, descoagulando… descoagulando entremarés: explorar pela boca psicodélica e pela velocidade leve do olho a epidemia das cores, que abre sentidos numa espreita acidental entre brechas neuroquímicas, traçaduras químicas, linhas argilominerais, detalhes microscópicos, prismas, mosaicos, reminiscências, luzes, penumbras que encarnam o cristalino do pulsátil sígnico que faz saltar a matéria intempérica: areia-expressiva com pirilampos de Didi-Huberman, objectos assignificantes e envolvidos por estranhezas celulares fotossensíveis e por mãos estrangeiras que saem dos extremos da pintora mergulhada na sensação-cor de uma tela a convergir e a escapar simultaneamente: composição acontecimental e fabulada por quebras mentais subtis e violentas ao lado de uma estrela totalizante de Klee: uma cartografia de espectralidades solares enlaçadas na sombra de uma claridade que afecta o olho já com linhas sensoriais a percorrê-lo até à tona de uma superfície nerval: o som do absurdo e do alógico no bico do passarinho incitam Bete Gouveia a criar cores com ecos espirituais que se contagiam a incógnita matérica por meio dos vazios propulsores de pensamento: desdobras alógicas e inactuais compõem vestígios das peugadas da pintora que já pervagaram autónomas e ainda espelham uma areia estilizada por si-mesma perante zonas indeterminadas bergsonianas onde o olhar da pintora se faz síntese durável e compositora de um elan-vital: um olhar que se de-compõe para fugir, desviar e extrair materiais plenos de ondulações rítmicas que escarificam as peugadas-sensoriais: um olhar que se indetermina com o indiscernível existencial e com a celularidade do inconsciente doltoneano: sim, a pintora questiona: como nos compomos entre as opacidades dos espelhamentos das travessias deformadas pelos pés-caminhantes cheios de pontos de fuga? Como nos transmutamos envolvidos pela luz-areia-desarenação-cascalho-pedra na reinvenção dos choques espirituais com vibrações intensivas do tempo crónico para lá das peugadas cartográficas? Ou será a infância em si o figural-corpo a contemporaneizar-se ininterruptamente com um pedaço de areia-colorante nos dedos fiandeiros por dentro das conchas em fulguração-aquarelada? O subtil da epifania, da centelha do avesso, do lampejo, das profusões de uma des-aparição-corpo dentro da vida marítima que exige o des-criativo como fonte de movimento das traçaduras em risco por dentro de possíveis espreitas de um aglutinado de singularidades, de levezas de linhas e de gestos cruelmente maleáveis entre o vicejo da verdade (parresía foucaulteana): uma entre-espera em fuga múltipla de uma cor-luz-areia que hesita e rouba forças ondeantes ao punho da pintora em delírio fora do logos porque suas pisadas pulsam, desformam-se, ecoam para saírem obsessivamente da tela: um macaréu pré-pictural invade as imagens oceânicas, arenosas, entulhadas e captura as energias cinéticas e potenciais ao longo da trajetória do olhar já contorcido pelas ondas insurgentes doutro olhar-endotérmico-Passeriform-em de-composição: serão dobras espirituais na tela do acaso-experimentado pelas linhas diferencias do real onde o inesperado-marítimo é sempre um fluxo vertiginoso na ponta caótica e sensível do pincel? O cântico do passarinho torna-se uma vértebra vomitada pelo mar contido nos seus pulmões composto pelo caos em fricção com as tendências que atravessam a natureza: o monstruoso é dobrado pelo indiscernível da cabeça animal que cria seus próprios desvios em catástrofe perante a desmesura da areia e os pulsos gérmicos da pintora escapam de um olhar perseguidor por meio de sombras de coexistências clásticas: as deformações rítmicas levadas para dentro de uma pedra, de uma concha, de um pedaço de pano, despontam alcançadas por prismas de um inconsciente infindável e magnetizado pelo risco da desumanização delicada que acolhe o jogo das imagens anómalas, lançando a visão da pintora para as falhas abstractas e para arrastos interrogadores de uma in-completude criativa: o gesto desmancha-se, dissipa-se rés à devastação e ao acidente da areia e incorpora a teoria ondulatória da luz para se transvazar noutro gesto indeterminado e pleno de duração dentro do enervamento sensorial da pintura: cores escovam e escavam areias acidentalmente e histerizam os sentidos das peugadas da pintora. Há uma desbotadura do objecto que se coloreia ao colorear na energia da aprendizagem do falso estético e das impressões fugazes da Natureza, que, com linhas animistas, impulsiona forças espirituais das imagens por meio de estilhaços rítmicos geradores de tempos acronológicos: há uma invasão do pensamento-cor que cria espessuras do impensável por meio das forças regerminativas e impulsoras de conceitos afectivos com limiares energéticos paradoxais dentro de problemáticas visões que provocam uma perturbação-animalizante já envolvida por um tempo aiónico e porque não uma eternidade kairótica, refazendo uma escolha de potência do criativo com velocidades sensitivas, misturas genéticas, forças abstractas, experimentações informes e fragmentos traçadores de diferenças que atravessam torceduras de areias e travessias extremas dos dedos-pinceis de Bete Gouveia: aqui-agora: rastos de um horizonte absoluto das cores fazem mover eixos incansáveis através da ritmicidade constelar do inconsciente ao cimo de uma condensação expressionista delirante onde corpo-tela-peugada e sensações-cores fazem nietzscheanamente encontros-extremados-de-vida.
Os apoastros e os opérculos do instante adensam uma contemporaneidade, um todo de transmutações inomináveis, que criva, entrecruza, experimenta e dá espessura às reminiscências em devir, arremessando a pintura de Bete Gouveia para correntezas de vigores anacrónicos onde o vazio acósmico se estende para o impensável de uma cor sempre em construção caótica e simultaneamente rumo a um objecto que é já-escombro: há uma multiplicidade de tempos a interseccionarem-se por meio de embates sígnicos e de vibrações turbulentas e infinitesimais para rasgarem obscuridades arenosas de um agora com os pinceis plenos de materiais extraídos do presente de um passado-futurível onde os detritos inesperados despontam sintomaticamente entre tempos e fragmentações espirituais como uma energia testemunhal imprevisível, abalável e disruptiva, relembrando Didi-Huberman, que, em contágio com Aby Warburg, assimilou o conceito do LEITFOSSIL dentro das fluências do múltiplo dos destroços na areia que movimentam o olhar-intratemporal geológico da pintora sobre o que está em fossilização descontínua e fracturada: as peugadas ondeantes da pintora concomitantemente por dentro da movência de um real infinito e em subducção larvar absorvem a ritmicidade tectónica das ruínas, dos resvaladouros, dos acometimentos clásticos onde forças colorantes e incodificáveis se soltam das brechas e arremessam-se intempestivamente contra a crueldade sensível da nossa visão, enchendo-a de novo com vazios e alumiando-a com relâmpagos aiónicos de vestígios oceânicos: aqui-agora: os rastos fazem parte da singular e vertiginosa existência onde as cores fluem nos objectos em destruction e a duração molecular e impulsora da diferença-colorante também dimana dos confins sem núcleos-áxis que atravessam os pinceis-dedos-paradoxais da pintora já submergidos e alterados pelas cores de um possível futuro aberto por dois chinelos a fazerem de balizas sem metas na eternidade da areia: tudo é ampliado por partículas voltaicas das peugadas rítmicas carregadas de silêncios, de mutações e de sentidos inéditos da areia onde as cores criam tendências e distâncias que se diferenciam a cada detrito-cor e impulsionam o movimento durável do corpo da pintora envolvido por novas geografias metamórficas, por novos olhares a irromperem do vazio e do acaso por meio de uma composição vibrátil, ondeante e com semióticas coalizadoras de mapas marítimos em disjunção fabular.
Um macaréu de almas vitralistas do caranguejo com um azul em garrafa de plástico espelha mais um elemento marinho do que qualquer material orgânico polimérico sintético, cujo desenho intercessor de texturas matéricas expressivas, de calores pneumáticos colorantes é recortado sobre a areia turbilhonar que o regurgita e retira da cena qualquer vestígio de poluição mas sendo respiro na linha quebrada da catástrofe onde pelos orifícios passam cores centrífugas, abrindo outras passagens através do imperceptível. É um bicho de cor testemunhal indeterminada que a areia fractura, dissipa, espessa por dentro de uma abertura das superfícies de uma leveza-ÉLAN que nos faz exacerbar a distância das puras linhas do vazio espongiário que incorpora a natureza de uma duração ínfima do improvável inumano e do indiscernível: cor-por-dentro-de-diferentes-níveis-de-ondas-rítmicas-da-areia-cárnea a expandir e a arctar as sensações-tela até à deformação das travessias gradativas dos dedos desabalados e subvertidos da pintora: partículas extraídas da grandeza caótica das passadas-cores-flutuantes de Bete Gouveia. A roupa escura em estado de degradação entre o resto pulsátil de água marinha e uma capa embrionária e arenosa, quando vista num ângulo sublunar, é um pedaço de tecido a fixar-se moventemente à volta de um plano de Cassavetes, de Godard, de Antonioni ou de Robbe-Grillet, estremecendo o olho cristalinamente, um olho-cinema-tempo, um olho de coexistências variáveis e de tricotagens dilatáveis com múltiplas traduções a capturarem cores que não cessam de se transmutar. Uma cor do inqualificável atravessa o indizível do entulho e Bete Gouveia exercita esteticamente os seus pulmões colorados à superfície das ondas diastólicas e sistólicas dos espasmos da histeria que acontecem por deformação-expressiva-da-luz adentrado no exterior do mundo-matéria. O desalinho marítimo em variação ininterrupta, mas as suas forças autopoiéticas dentro da própria resistência se confundem nos planos pictóricos com a Ré-EXISTÊNCIA daquilo que é escuro dentro dos deslizamentos do negro, a lembrar uma barata com entradas múltiplas no cadoz do Kafka, e dessa grande angular quando voltamos a novas maneiras de olhar o tecido já não é mais apenas um pedaço de pano a afrontar a variação contínua da natureza. Passamos a vê-lo como uma grande alga simulacral e retorcida. Admiráveis os equívocos detalhados à volta da tampinha radicular vermelha, que mais parece uma pedra do tempo da experimentação dentro do excesso marítimo, ou a diferença intensiva de algum bichinho que a incapacidade de contato com as metamorfoses das profundezas impede qualquer nomeação, identidade ou instância, e ela acentrada se mescla ao povoamento do branco já-disforme daquilo que parece de fato habitante da contextura reminiscente do mar, mas que se visto mais aliado ao rigor deve ser um copo de plástico desmanchado acidentalmente pelo tempo puro, sim, o mar pensa contagiado pelas tonalidades das almas-altivas-lucrecianas da pintora. O objeto se faz heterótopo como mancha anómala de uma zona híbrida a modificar-se e a compor-se com uma natureza de tradução histérica que não divide propriamente o palco do acaso mais abstracto com o díspar, mas interfere nas singularidades resplandecentes da coisa-colorante, chamando-a para algum ritmo ou recomeços problemáticos que se sobrepõem em parte uns aos outros molecularizados pelo mistério caótico do sensível.
O guardanapo com multiplicidades incisisivas brancas parece uma alga difundida por afluências instantâneas já-implicadas por súmulas disjuntivas de um roubo microperceptivo sugere-nos também como uma pura génese de um vestígio humanamente inumano dentro de uma fenda feita de indefinições onde salta uma existência traduzida pelas afluências vigorosas da mão-cor. A saída de banho pink modificada em esteira de partículas sensoriais para banho de sol com espessuras dos avessos é a protagonista intransferível da tela em que uma perna humana de mulher sentada em cadeira de praia a bronzear-se já não importa quase nada porque o olhar é capturado pela sensação diferencial da invenção de um corpo-phaneroscópico que dança o espaço tonalizado com experimentações hápticas. São as cores das estranhezas dos objetos em desumanização expressiva e entre o alargamento da inesgotabilidade do pink e os ritornelos da espiral do azul-cinza-cintilante que despontam dentro de dobras da exuberância coexistencial, mas para não dizer o quê? A criação arenosa pensa inocentemente por dentro e ao redor dos objectos-de-brisamentos-inacabáveis pintados com a cor do corpo da pintora, criando atravessamentos anorgânicos etológicos com a invisibilidade do sensível imanipulável que incita à transbordância dos poros das infinitas sombras perceptivas, de intermináveis istmos de forças em mutação-acontecimental perfuradoras do corpo da pintora: há um caos a desvendar os dedos rítmicos da pintora à volta dos objectos, eternizando-os na sua repetição inobjectivável onde as cores cruzam signos ininterruptamente, pontilham, escavam e crivam limites para perscrutarem a complexidão das autofagias marítimas por meio de espaços-tempos acósmicos que fazem o olhar construir novos lugares existenciais, novos ritmos emancipadores da vida, subvertendo os objectos com a phaneroscopia da pororoca dos sentidos. É a vastidão de um sintoma plasmado a defrontar o desconhecido e o inexplorado com as rupturas ínferas, espasmódicas dos gestos da pintora quase ilocalizáveis porque as areias ondulatórias penetram seus orifícios infinitesimalmente até embaralhar todos os órgãos, estilizando-os com as magnitudes de um inacessível caleidoscópico pictural quebrador de qualquer decifração contígua: as zonas intervalares e as correntezas energéticas dos objectos estão sempre em composição sulcada, afectiva e cingidas por recomeços de processos paradoxais que se aglutinam no absoluto da visão dentro dos gradientes do real onde a durabilidade-matérica juntamente com o puro espírito das cores evitam qualquer predominância das leis humanas. Aqui, o olho está sempre em confronto com as linhas nervosas da luz marítima que com fluxos de uma plasticidade intensiva cria o inexaurível vibrátil de uma sensação que andarilha a mão-areia da pintora: entre o olho e a mão há misturas matérico-espirituais e há cores que se esburacam e se adensam, flutuando no imprevisível durável dos objectos rítmicos e com fugas lúcidas que estetizam a tragicidade imanente da areia-tonalidade dentro de uma visiva que se desgasta e renasce entranhada num prisma sensorial do arroubamento, subvertendo o corpo da pintora que se transmuta e abre ininterruptamente perante a catástrofe compositiva. As cores entranham-se nas esfoladuras do pensamento que assimilam o gesto circunflexo da pintora, ligam e desligam objectos com mudanças múltiplas do sensível, transvazam imagens do monstruoso-ínfimo e da deterioração com as partituras contemplativas do passarinho que é cor, sobretom de um real que se dobra e desdobra até à torsão do ar quase ilegível, da vastidão do ínfimo da gravidade, do inacabável e do acaso fabulatório de uma superfície tremenda arenosa: aqui-agora: um pincel-colorante absorve as probabilidades de uma deformação anorgânica e as desmesuras heteronímicas do mar, reforçando a errância ondeante e o intermitente animal dentro da tela que faz do entulho irrepresentável uma visageidade corporal poderosamente amplificada pelas des-aparições dos movimentos ínfimos, fugindo a territórios taxionómicos: uma esquivança-cor.
Que uma mulher ama tanto a instabilidade criadora da sua solidão a ponto de ficar quase de fora das conexões da tela para bosquejar o anónimo de uma sensação cruel onde uma quase-devastação insituável relança a sua pele-cor para os múltiplos hiatos das matérias que des-centram os movimentos das tessituras da visão para assimilar os instantes do impossível que percorrem a incomensurabilidade ínfima dos objectos já-desviados da imunização perceptiva. Há um estranho sol nublado a remexer hormônios etológicos, impessoais, heterogéneos de uma mulher recolhida à beira-mar, alcançando o sublime com a enunciação dos tremendos desvios sensório-motores dentro de um barco imóvel e em perturbadora autopoiésis. O silêncio matérico do fundo simultaneamente sombreado e luminoso da estrela do mar entre os barulhos moleculares dos grãos de areia molhados é como um útero acentrado e hesitante em alteração rítmica defronte ao caos ralentado da cor e das mónadas desmedidamente finitas de vida que a pintora contém em cada vitral dos seus poros. Possivelmente as maiores epifanias que a pintora teve no seu corpo foram à beira-mar, entre cores aiónicas, micropercepções alógicas e labirintos borgeanos a infiltrarem-se numa tela de fuga Turneana: um imenso e fulgurante raio de sol a partiu ao meio devastando melasmas e ceratoses como uma visão das dobras contraentes colossais onde o íntimo desejo de aceder às voltagens de um mundo oculto que se cria desde as aprendizagens marítimas, as topologias estrangeiras do sol e o espelhamento mais intuitivo do espírito, isto é, a artista envolve-se com o que mais existe de inexprimível e inacessível em si-mesma e usa a lucidez vesânica para acontecer na errância. As tendências que percorrem a pintora despontam dos instantes duráveis do insulamento e do sagrado dos materiais cortantes em fricção-CONATUS com a euforia insituável da natureza: surgem alteridades, incisuras, rastros policromáticos onde há sempre impactos espiralados de objectos que se desviam da percepção e os gestos da pintora se refazem dentro das afecções gérmicas que a arremessam para um entrecruzamento sígnico, uma estremeção interna e o mar ergue as suas funduras, se abre com todas as sinopses convulsivas e se torna violentamente real por meio da experimentação inconsciente e do indeterminado. A expressão do sensível feminino está nas peugadas fragmentárias e densas da pintora que bordam as vizinhanças das passagens ritmáveis e heteronímicas dentro das tecelagens esfíngicas que fazem Bete Gouveia criar e recriar com o absoluto encontro de consistências caóticas envolvidas pela SOLIDÃO e a arremessam sempre para as intensidades lúcidas dos seus monstros que desfazem os encarceramentos da significação com desenhos afirmadores de uma vida de movimentos duplos infiltrados e sobre a memória futurível de uma guache em mutação viscosa, lisa, alocromática e imperecível: guaches babelescos e rigorosos a eternizarem matérias indeterminadas com feixes, limiares e ressonâncias geradoras de tempo. A respiração RÍTMICA se modifica a si-mesma religada ao tempo da experimentação da pintora que inventa nos objectos, em exílio incontrolável, dicionários detalhados e matérias rigorosamente informes através de sentidos expressivos fora das identidades fixas e das ilustrações e com a existência obscura do corpo enlaçada por almas infinitas, bruxas entre os fluxos dos sargaços atraídos pelo incognoscível à volta das topologias arenosas esquissadas contra o medo da devastação epidérmica: por vezes guache e desenhos com lápis de cor não se discernem porque escapam da fisionomia e se disseminam em todas direcções dentro de um detalhe com respiramentos espirituais dentro da falange-cor-matéria onde o pássaro se desvia da morte por meio da des-aparição com todas as forças acósmicas que advêm do corpo da pintora.
Gestos em fulguração, ar fractal e cores inalcançáveis se mudam, se removem ao cartografarem a ressurgência abíssica dos objectos com atracções e expansibilidades de pontos de vista dentro de um intervalar de percursores de tramas e da dilatação do tempo que testemunha a singularidade das fissuras: Bete Gouveia absorve os fluxos cósmicos através da desumanização dos seus objectos em des-figuração que levam as exultações da pele para o extremo relance do criativo onde nada é superior aos vestígios das suas passadas na areia: em cada passo há uma experimentação estilizadora de vida, há uma avaliação do impossível feita pela existência que exige o sublime do inexplicável nas forças compulsivas de um lápis de cor já mergulhado na matéria dos guaches que defrontam as simultaneidades das repetições da natureza e activam a transcodificação rizosférica do olhar, ultrapassando balizamentos com as superfícies indomáveis de areia em movimento trágico: é a paridura de um gesto espontâneo dentro de uma composição de encontros de rastos a diferir com problemáticas desenhadoras de novas coexistências de quereres na vontade e ritornelizadas pelo extremo rigor de uma ponta nervosa, anómala e vidente do lápis de cor-aguarelado: o risco caótico impregnado por uma possível perfeição de um salto pleno da cor dentro de uma visão inacabável, intrusa e impulsionada pela dor rés ao contínuo intensivo testemunhal e ao esquecimento que busca mapas de areia únicos e plenos de obscuras cores dentro do real. Há reencontros de forças incontroláveis de um sombrio topológico e de restos estetizados pelas singularidades reais impelidas por uma visão-impermanente-pela-janela-aformal e com outras grandezas de tempo a resvalarem sobre os acasos das cores e dos interstícios das ressonâncias das ruínas onde reminiscências, fabulações, afectos e conceitos despontam traçados por disjunções de compêndios regerminativos que fazem voltar forças de composição colorante entre tramas de entulhos e em delírios e atravessamentos da pintora: aqui-agora: o quase-inaudível do guache atinge a extrema força do indefinível envolvido por intensidades puras do inominável onde a cegueira da pintora é uma força inexplicável do indiscernível cheia de movimentos energéticos escultores do mar-areia em modificação cirandada pelo caos-pincel-mão: objectos pulsam, se diferenciam na génese da natureza, que é sempre indestrutível e quase indecifrável: há uma espécie de melancolia como força inumanizada e fonte criativa diante das águas dormentes e brownianas que têm a cor nómada de um charco quebrador de formas numa floresta úmida, uma melancolia sem opressão a esponjar acasos lentamente dentro da imagem indirecta do tempo e à volta da tremenda luz polinizadora de um tempo crónico onde um detalhe ínfimo de um corpo ou uma perna dolorosa sobre a areia faz do braço de madeira da cadeira uma correspondência do esforço supremo ontológico que nos faz acreditar na vida como um aroma eternal e efémero e emana do ser-do-comunal-do-sensível como um cheiro de uma guinada cósmica ocasional a emanar da variação inexaurível de afeCtos: reparem na planta do riacho a ressumar o espírito intuitivo da água: se a pintora tivesse que reviver por sua conta o mito filosófico da estátua de Condillac, que encontra o primeiro universo e a primeira consciência nos processos dos cheiros, em vez de dizer como ela: “Sou cheiro de rosa”, possivelmente diria: “sou primeiro cheiro de menta, cheiro da menta das águas”. Os detalhes dos encontros extremados da natureza geram-se desabaladamente à volta da afirmação desejante das minúcias pictóricas que povoam as bifurcações do lápis do incorporal, azulando-acizentando linhas infinitas com ritmos anorgânicos rés às lógicas delirantes de um movimento absoluto da luz que escora o vazio do branco.
Bete Gouveia re-torce vértebras encharcadas de têmpera-solar para melhor ver o que pode durar na adivinhação demoníaca e luzente de um objecto já dissolvido pelas interacções das cores entre as cisuras de cada grão da geografia litorânea: minúsculos efeitos de irradiações dolorosas batem na sua coluna vertebral adornada por partículas brilhantes provenientes dos contágios caóticos dos guaches como brincos de lusco-fusco a deslizarem de órbita em órbita e a reflectirem como falhas móbiles das pedrinhas a magnetizarem-se nos cristais sem tachinhas (o atrito dos godos sob o movimento da espinha inflamada da pintora assimila o ímã de superfícies transbordantes até às exuberâncias cutâneas) – os tímpanos tocam no chão vertical como peugadas-escutas de brisas marítimas a ricochetearem as fracturas refractárias num chão verticalizado por ecossistemas de cores paradoxais e de irrupções estranhamente dançantes a subirem pelo pincel-cérebro, alcançando os sentidos inéditos de bosquejo vegetal-animal espelhado pela de-composição sem finalidade: está ali como uma matéria-prima de uma horda do vazio a infinitizar o lápis de cor por meio e um real inexistente e tão perturbador e desviante da visão da pintora. O chão-pele virou mar-brilhante a tornear os cortes coalizadores do desenho com os impulsos das sensações inesperadas e a pintora não precisa estar sempre com os pés no solo, as suas distâncias com espíritos altivos e os seus lapsos singulares resvalam na escoadura do tempo que constrói os rastos imprevisíveis do pincel: dizem: um detalhe improvisado cruelmente pela sua própria dor: germinação a espalhar luzes pela areia quase desmaterializada pelas cores dos guaches onde o pincel é activado por um vínculo, um enlace de voltagens acidentais. O pincel usa o real que atravessa as aguarelas para exigir afastamentos adjacentes dos desastres sobre objectos atomizados e atraídos pelas aspirações intuitivas dentro de aberturas máximas geodésicas e inumanas onde as tangências do clarão sobre a areia aparecem por meio de uma miríade de visões enciclopédicas e expressivas: dizem: instante insonoro a avizinhar-se dentro de um histeria minuciosa para libertar as alterações do acósmico que absorvem do pincel de Bete Gouveia os respingos energéticos de uma pintura com desenhos a intersectarem a problematização de vestígios de uma caminhada mutante e a coexistirem nas transductoras forças rítmicas dos detalhes e dos ínferos onde cores começam a transvazar, arrasando origens e alvos com conchas, luminosidades e areia. Há um ouriço formigante de cor azul celeste a arranhar as vértebras da pintora com hiatos de cores antiquíssimas dentro do contemporâneo a experimentarem os silêncios de sopros dos guaches que incitam os objectos a resvalarem entre as dismorfoses e as formas onde os limiares das rizosferas das rebocaduras ressurgem como poros de bivalvias de imensa sofreguidão entre as envolvências das laçadas e das capturas de um tijolinho abóbora quase movimentado por feixes esgotados de areia: aqui, o acaso se transmuta na tentativa aberta de uma queda respiratória com luminosidades dentro de um abismo espiralado em furtiva invasão de areia. Há mar sem umidade a vazar estranhamente a duração das cores na inaudita opacidade extasiada de um desenho com micromapas dilacerados pelo imperceptível que constrói novos sentidos em recomeço indomável para expandir margens, litorais na sua própria eternidade que está em acontecimento vitalista, resultado de estimulações das zonas in-corporais inexauríveis da pintora: agora: o garimpo das potências das tonalidades apreende o saber vibrátil do ritmo de uma estilização inexplorada e abre silêncios nas camadas do invisível, expandindo existências a-subjectivas e supralógicas desabaladamente fluidas por partículas de guaches entrecruzadas por encontros sensoriais rasgadores de entropias porque uma cor ao soltar-se do lápis e do pincel absorve o estilhaçamento da areia, mostra os afectos do corpo de Bete Gouveia através das vastezas dos impossíveis onde o objecto-desenho-figural é exercitado pela irrepresentabilidade do real até ao sentido liso da sua desaparição. Maldito enceguecimento das colorações abstractas a roçar pálpebras que nunca fecham perante a solidão que busca aliados de um ser do sensível para fazer durar a espiritualização de um traço do futuro com passagens ressonantes nas bermas de uma catástrofe de guaches porque exigem deformação detalhada num esboço ininterrupto feito de mar, areia, luz e contágios espectrais de vestígios. Piscis da fissura atlântica em peugadas de um fora mesclado com os espaços indeterminados das metalurgias de uma cor afectada por outra, já sem qualquer atalho de alma pétrea porque num instante turbilhonar era uma vastidão emoldurada na profundidade da luz e no outro um fluxo distendido nas imagens a cingirem-se com seringas de amolecimentos de pictura melasmática no interior de pedras viradas em colares de espelhamentos intersticiais a misturarem-se com os desassossegos criativos dos ínfimos. Uma pintora toca o colo-cabeça-carcaça de uma ave pequena ainda muito jovem, metaboliza todas as cores possíveis nos guaches para traduzir as forças vertebrais de uma mulher nas semióticas de um coral de argila com todos os elementos a convergirem dispersamente até a uma quase-forma que se diz desenho ou monstruosidade delicada em mutação inconsciente dentro de uma peugada, atraindo o ritmo do pincel e do lápis para os materiais sensíveis de uma presença tremendamente residual: aqui-agora: despontam imensos intervalos com velocidades estonteantes saturadas de luz, religando micropercepções ao intensivo paradoxal de um olhar canino perante a contracção do acaso. Poderá ressurgir uma visão perdida nas imagens, uma visiva subtil emergida no caos da areia por vir ou será a luz infinitamente inscrita na sinopia pigmentada de um cão-pensador a arrastar o olhar do nosso falhanço caológico perante as levezas dos escombros dos desenhos ritornelizados de Bete Gouveia onde nos seus pinceis o tempo está sempre em construção etológica entre minerais, vegetais e objectos abandonados pelas suas próprias desfigurações quase-im-perfeitas? As peugadas de Bete Gouveia buscam em si o infinito, através de densidades alógicas que dilatam os graus das cores em contacto com as micropercepções da areia, quebrando as tentativas de determinar as imagens ocultas por detrás dos tecimentos intervalares dos pinceis: as cores se voltam para a luz consistente e móbil do objecto em des-aparição onde o espírito detalhista do anómalo gera diferença através da pele da pintora impregnada de transfronteiras enfebrecidas de tons mercuriais que se afectam por espaços embrionários tecidulares para elevarem dobras sensoriais de uma estilização do ínfimo que é múltiplo, é esgotamento no eternal de uma minúcia fractalizante. O olho extrai de si a rasura da catástrofe da goma arábica contagiada por outra catástrofe subtil para transcodificar as cores dentro do desenho em processo instantâneo e a pintora evita o enfolamento do papel cheia de sentidos inexauríveis, levando os pinceis e os lápis de cor ao extremo de um eco dos pigmentos plásticos folheados por múltiplas entradas e saídas envolvidas nas fugas de imagens vivas onde o tempo se desvia do movimento e é capturado pelo impensável da aguarela: aqui-agora: a plasticidade das imagens luminosas das areias, do cachorro, das conchas já se dilata, se expande e se contrai no olho repleto de sínteses germinais até fazer dos esboços gérmicos um desenho no interior dos pontos translúcidos das expressões simultâneas da existência-aguarelada: a mão da pintora se tece ininterruptamente ao crivar e recolher os hiatos dos objectos com a dor de uma duração intransferível: Bete Gouveia tensiona-se intermitentemente ao libertar o cérebro com as peugadas-guaches de uma areia do impensado e em contacto absoluto com as cores disruptivas que absorvem as grandezas impessoais dos objectos-ruíde-compostos por meio de aisthesis. As ressonâncias das cores dobram os interstícios dos pinceis e dos lápis e as incisões do corpo da pintora não revelam a total nomadologia nos seus ressaltos porque é sempre uma abertura a um porvir do informe metamórfico que exige o sublime das claridades inventadas pelo improvável residual ao cimo das distâncias indecomponíveis e dolorosas de uma relação vertebral-colorante: os guaches in-corporais (asómaton) dobram a coluna da pintora espasmodicamente e as forças cósmicas-inumanas reinventam as peugadas o tempo todo, fazendo do mais obscuro das aguarelas um espaço topológico voltaico onde as ressonâncias dos lápis de cor se infiltram, se experimentam no mais fundo da visão para espelhar as texturas dos objectos dispersos por meio da tradução espácio-temporal da luminosidade: aqui-agora: os desenhos plenos de velocidades demoníacas e de absolutos sentidos espontâneos e ocasionais despontam ritmizados por detalhes inconscientes e a génese da cegueira da pintora permuta-se até alcançar uma imagem já deslaçada pelo vazio da areia com vestígios da eternidade na ponta do lápis que a redobra, a extrai, a desliza com bifurcações gérmicas de tremendas reluzências contidas na percepção mais ínfera de um passarinho: a memória de um cântico expressivo dentro do entulho de mónadas e de voragens do real que se transmutam interminavelmente: eis, a bastura do espírito da impureza dos desenhos sobre as sensibilidades extremas dos guaches de Bete Gouveia. Olhar tactilmente os desenhos de Bete Gouveia com as intensidades da areia-mundo dentro da alteridade da cegueira de Derrida questionando o vazio, o tempo e o espaço e ultrapassar a luminosidade com visões de um Khôra-(absoluto): aqui-agora: o acto de ver com o invisível que se faz imperceptibilidade perceptível pontyana, torna-se uma experimentação da cegueira, preenchendo vazios até à duração e às imagens da incompletude de um objecto que arremessa e infiltra energias no olho lacunar, descontínuo, intervalar de Bete Gouveia porque a visão é uma consciência fracturada com afluências subtis dos afeCtos a assimilarem as drenagens do que há de mais frágil da visibilidade. Busco as forças conceptuais de Lyotard que também nos avisam que os signos artísticos se desviam da interpretação lógica por meio dos impulsos do figural que exigem distância e abjunções perante as forças diferenciais do desenho, criando forças germinais nas cores dos pinceis que estão por acontecer entre limiares in-conscientes: aqui-agora: absorver involuntariamente o inédito da visão dentro de espaços topológicos e por meio dos vestígios da cegueira que arrasam pontos de vista e balizamentos como a entre-rasgadura derridiana onde a revelação osciladora escapa sempre através de construções dos próprios véus em contágio com outros corpos em germinação e… arrasto para estas distâncias-hápticas as transparências paradoxais das cores nas sombras da pele com um dentro sígnico a encarnar-se na claridade exteriorizada pelo fora-areal-tempo-crónico que nos leva para os ritmos cristalinos de Tarkovsky. As aguarelas de Bete Gouveia mostram as zonas voltaicas da interrupção do distanciamento criando fendas múltiplas e espessuras disjuntivas para compreender sobretudo os espaços da escuridão que envolvem os instantes inconscientes dos desenhos antes das luminiscências e impregnados por macaréus sensoriais. Os desenhos de Bete Gouveia exigem uma cegueira turbilhonar que impulsiona o brotamento imagético dentro da visão espessa de luzes, sim, as opacidades das luzes intensificam-se por meio de uma penetração na escuridade e no invisível subtilmente a irradiar nos opérculos da percepção movente, para isso há que rupturar o sensório-motor, o tempo cronológico, as estruturas, os modelos, as formas como se os desenhos de Bete Gouveia esculpissem o eco da agoridade de um objecto no obscuro ou na incógnita do visível e colocasse tudo em risco: há uma desconstrução colorante, uma fuga nas pregas e nos franzidos dos desenhos já granulados por uma inversão criadora de uma luz prenhe de forças opacas a cingirem-se na alteridade indizível onde uma falha do guache no desenho liberta sentido, impelindo o visível dos sensíveis a interrogar e a desassossegar a visibilidade com os lapsos, os poros, os interstícios e fendas da pele-tela que interrogam as peugadas ocultamente conscientes da pintora ao exigirem a in-completude imaterial do olhar.
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