– Palavra Comum: Que é para ti a música?
– Alonso Caxade: Umha paixom e mais um modo de comunicaçom, pois permite conectar com as pessoas, explicar o que se passa pola cabecinha de um própio de umha maneira mais simples, o que a converte (à música) num jeito de desafogo ou alívio pessoal, um jeito de dar saída às cousas que um sente com necessidade de transmitir. Para mim também é um meio para o compromisso social, um modo de contribuir a que haja esperança de futuro.
– Palavra Comum: Influi na tua música o teu trabalho pedagógico com as crianças?
– Alonso Caxade: Com certeza. As crianças entendem o mesmo que as pessoas adultas, só que tenhem outros preconceitos, para isso é que se inventa a didáctica, para explicar o mesmo doutra maneira. Os adultos também temos preconceitos diferentes mesmo entre nós, é por isso que neste projecto uso muito figuras metafóricas, o surrealismo e o (aparente) absurdo como um recurso mesmo didáctico para o público. As nenas e os nenos gostam muito das músicas, dos vídeos e também das letras ainda que nom podam perceber o 100% do seu significado, mas isso também lhe acontece a algumha pessoa adulta.
– Palavra Comum: Como entendes o processo de criação artística?
– Alonso Caxade: Como infelizmente nom me podo dedicar à música ao 100%, o proceso que sigo é disperso e mesmo inicialmente desordenado, pois tem que ser feito nos poucos momentos livres que tenho ao dia: às vezes começo pola letra, outras pola música… Vou anotando ou gravando no telemóvel as ideias e logo dou-lhes forma. O que sim é certo é que sempre parto dumha ideia ou tema do que gostaria falar, procurando visualizar como ficaria esteticamente essa ideia num vídeoclipe. Em casa trabalho com umha modesta equipa de gravaçom: um PC, interface de som e microfone, nom há mais. Uso o editor de áudio mais simples do mundo (Audacity, que é software livre) como se fosse um bloco de notas e quando está rematado, passo essa gravaçom junto com a partitura ao resto de colegas do grupo.
– Palavra Comum: Que outras artes te chamam? Procuras diálogos com elas?
– Alonso Caxade: O audiovisual. O proceso de criaçom audiovisual é complicado e, para mim, desconhecido. Há muito trabalho detrás para um resultado de apenas uns minutos (ou segundos). Acho cousas parecidas com a criaçom musical: o inicio é barulhento mas logo precisa ordem, limpeza e reparar em todos os detalhes.
– Palavra Comum: Pensas num público concreto para o teu trabalho musical?
– Alonso Caxade: Sim, mas é um público amplo. Penso na gente que tem ânsia por mudar as cousas, por contribuir a fazer que outro mundo melhor seja possível, mais centrado nas necesidades das pessoas e nom só dumhas poucas poderosas. Pessoas que entendem que as revoluçons se fam pouco a pouco, nom só ficando na reacçom dum dia. Porque detrás de nós venhem as filhas das nossas filhas.
– Palavra Comum: De quem te sentes, criativamente, filho ou irmão?
– Alonso Caxade: Sinto-me filho da tradiçom musical de Galiza, pois é de onde venho, onde aprendim, mas som construtivamente crítico: penso que sobra folclorizaçom e musealizaçom e que falta dar o passo do Samba à Bossa Nova, construir umha nova MPG: Música Popular Galega. Seguimos tratando a música tradicional com preconceitos do Romantismo.
– Palavra Comum: Que músicas/músicos reivindicarias por não serem suficientemente conhecidos (ainda)?
– Alonso Caxade: O nosso país tem muitos músicos que nom som conhecidos mas que som grandes artistas, nom há mais que ir ouvir as Bandas de Música para nos dar conta. Reivindicaria mais ainda aos musicos com os que tenho a sorte de tocar no projecto CAXADE: Manu Paino, Manu Espinho e Xosé Tunhas.
– Palavra Comum: Que projetos tens e quais gostarias chegar a desenvolver?
– Alonso Caxade:Desde há uns meses estamos trabalhando na ideia de fazer umha série de concertos com Banda de Música. É um projecto para o que estamos trabalhando fazendo um grande esforço: preparar as músicas para mais de sesenta pessoas e fazer umha pequena gira de apresentaçom. Gostaria de poder gravar isso em vídeo e mais em áudio, mas infelizmente nom há mecenas, de momento.
Mais para adiante gostava de fazer umha pequeninha intromissom na música electrónica como proceso de criaçom experimental, mas isto ainda está mais nu.
– Palavra Comum: Que achas de Palavra Comum? Que gostarias de ver também aqui?
– Alonso Caxade: Gosto muito, pois é onde se pode ver isso que muitas vezes dizemos: que temos um país dumha grande criatividade. Gostaria de ver que se apoiam mais iniciativas deste tipo, na esperança de que a administraçom perceba que a indústria cultural pode existir verdadeiramente (nom só deve).
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