– Palavra Comum: O que é para ti a arte, nas diferentes formas que tens experimentado até agora (música, literatura, etc.)?
– João Sousa: Para falar da arte em geral, não posso deixar de falar da vida ou do ar que respiro e, acima de tudo, como tudo se processa conceptualmente na minha cabeça. De uma forma muito simples, explicado sinteticamente, a arte é todo o processo de intelectualização do que me rodeia, isto é, todas as minhas questões sobre quase tudo, ou aquilo a que me permito aceder para duvidar. Por isto tudo, ler um livro (ouvir um disco, ver uma peça de teatro, etc.) é das formas de arte que mais me impressiona e mais me persegue. Aquele que se coloca no lugar do receptor é, em primeiro grau, uma espécie de artista. Fora isso, tudo o que escrevo, a música que componho e toco, as fotos que me aprazem tirar, os desenhos que finjo saber fazer, tudo se insere no processo de resposta. Toda a tarefa artística parece-me ser um enorme abrir de respostas para uma pergunta apenas. Ainda não sei qual é a pergunta, no entanto. Resumindo, para mim, a arte é parte essencial dos meus dias: acordar, saudar os gatos, saudar a minha companheira, abrir o estore, levantar, preparar o pequeno-almoço, preparar o dia… tudo isto acaba por culminar num poema, numa faixa de música, num telefonema para projectar um concerto ou um evento, numa trocar de palavras, em todos e em nenhum ao mesmo tempo.
– Palavra Comum: Como entendes o processo de criação artística?
– João Sousa: Se falar do meu processo de criação artística, talvez não tenha muito mais para acrescentar. Também não sei dizer se existe um processo próprio, ou melhor, um processo individualizado. Tenho escrito sempre porque leio. Tenho escrito sempre porque o companheiro Nuno Mangas-Viegas me mostrou a escrita (nos primeiros anos de faculdade, fui-lhe pedindo que me mostrasse poemas seus, o que gerou desde logo a criação do projecto de poesia e música, O Poema (A)Corda e, de certa forma, potenciou a minha actividade de escrita). Tenho tocado com diferentes projectos, porque há sempre uma sede de conhecer os integrantes de uma forma diferente. Considerar um processo de criação é considerar o domínio de uma linguagem diferente, que se actualiza, que se reforma, que serve para não falar mas sim sentir. No que toca à poesia, tenho-a em conta como um filtro quase imperativo ao meu quotidiano – costumo expressar todas as minhas revoltas, todas as minhas incompatibilidades com a sociedade e o mundo, todas as minhas ânsias, sentimentos, desejos carnais e/ou espirituais, naquilo que chamo a minha poesia. No que toca à música, apesar de adorar trabalhar sozinho (seja na gravação de sons diversos, na programação de música electrónica, na manipulação de ficheiros gravados, ou até mesmo nos projectos a solo que nunca existiram), o que me interessa quase sempre é o entender com quem toco de uma forma que nunca entenderia no quotidiano. Acredito que é impossível conhecer alguém a 100%, ou sequer saber que se lhe passa na cabeça, mas sei que viverei obcecado por esse desejo de conhecimento; penso também que o processo criativo que é a música em grupo abafa essa necessidade de contacto directo, pois estimula a criação de pontos de contacto e afastamento essenciais. Portanto, toco música quase sempre acompanhado, com grandes amigos, com almas gémeas que me têm seguido, conquanto nunca renego a ‘conhecer’ novos artistas. O carácter das/os nossas/os amigas/os, a maneira como nos relacionamos, a previsibilidade das suas acções e reacções, a forma como sempre se imiscuem no nosso imaginário, cresce paralelamente ao ‘conhecimento mútuo’ que a criação artística propicia.
Para não me perder, talvez use a criação artística como maneira de sentir que há mais pessoas que são (ou não, e ainda bem) como eu. Não tenho um grande anseio pela fama, mas sim pelo contacto.
– Palavra Comum: Qual consideras que é a relação -ou qual deveria ser- entre as diversas artes (literatura, artes plásticas, música, audiovisual, etc.)?
– João Sousa: Bem, como estudante de Literaturas Comparadas, tenho estudado exemplos perfeitos dos processos de intercomunicação entre artes. Óbvio exemplo (do que oiço e consumo enquanto ‘espectador’) seriam os álbuns conceptuais do rock progressivo e sinfónico dos anos 70. Mas para além disso, tenho em mente o exemplo da língua galega, no que toca à necessidade da música para fixar cânones literários (quantos poemas de Rosalía de Castro se espalharam na voz dos tantos cantores).
Quando se aprofunda o tema, mais academicamente (embora não seja algo que me interesse tanto como praticá-lo), a dependência que existe entre palavra e tantas formas de arte, faz-me pensar na íntima relação dos processos criativos e decorativos que existem entre poesia e cinema, música e poesia, música e teatro, pintura e poesia, e todas as infinitas combinações.
Com ‘Deslize’, por exemplo, eu e o Hélder José combinamos a experimentação e exploração das guitarras com sua modificação com peças de ferros, com leituras de poesia, manipulação de samples, e projecção de vídeo. No seu conjunto, as palavras de ordem são a forma como lidamos com o espaço rural, o espaço urbano, o espaço suburbano, a posição da arte nesses espaços, entre milhares de outras coisas. Agrada-me muito mais saber que existem diversos estímulos para um público do que apenas um clássico duo de guitarristas. ‘Deslize’ é, simultaneamente, uma recolha de fotografias, um ‘masturbar’ de técnicas, um misturar de fluídos artísticos, um elaborar de vídeos amadores e temas musicais complexos mas improvisados.
A internet tem possibilitado diversas coisas neste campo: em primeiro lugar, o acesso a diversas formas de criação artística tornou-se massivo, assim como o comércio online de uma série de coisas tornadas sistema (o que, por outro lado, levou a uma nova dimensão a criação independente, underground, o cultismo de formas de arte fora do sistema, provocatórias e inteligentes); em segundo lugar, se já houvera havido uma democratização da arte através das vanguardas e dos ismos do século XX (vêm-me à cabeça imediatamente Duchamp, mas também os libertários do surrealismo, entre tantos outros), que se pode também colocar em paralelo com a democratização da música com aquilo que depois se vulgarizou com a palavra punk nos 70’s, a actual democratização de ‘ser artista’ é também uma realidade, perigosa, escorregadia mas deveras interessante (todos somos críticos de música, de literatura, de teatro; todos somos fotógrafos; todos temos blogs; todos fazemos de tudo, mas cada vez menos se consegue ter conteúdo interessante para se ler, ver ou refazer); dentro deste caos de múltiplas existências, as ferramentas são prolíferas – a Creative Commons e a noção de copyleft, o actual Bandcamp, o Internet Archive, as plataformas quase gratuitas de construção de sites e/ou portfólios, são exemplos de como podemos fazer uma colecção de artistas que são, de certa forma, nossos ‘vizinhos’ graças ao clique. Enquanto músico, a internet tem sido meio de difusão, ferramenta para encontrar espaços e concertos, espaço de contacto entre pessoas. Enquanto escritor, ou pseudo-poeta, tenho usado a internet para difundir a minha escrita e a do grupo AEQUUM; tenho feito revistas incompletas em formatos digitais. Enfim, um sem fim de possibilidades. Basta olhar para o site da Palavra Comum para perceber quanta quantidade e qualidade (de tantas e inúmeras formas de arte) podemos ter compiladas num portal apenas. Cabe-nos a nós, interessados e interessantes, seleccionar o que consumimos e o que queremos dar a consumir (palavra demais associada ao capitalismo).
– Palavra Comum: Como consideras que se combinam -ou se deveriam combinar- arte(s) e Vida?
– João Sousa: Ufa! Julgo que não tenho escrito outra coisa senão sobre isso até este momento (e agora sorrio). Esta é a pergunta que faço a mim mesmo todos os dias, à qual respondo de todas as maneiras que sei e que quero saber. Deveria talvez ter salvaguardado que a minha relação com a arte é muito pouco sectorial, ou elitista se preferirmos. Eu não sou um consumidor assíduo da arte de massas, pelo que me vejo sempre mais interessado por situações espontâneas e, quando não, locais, independentes, ou círculos comerciais mais restritos. Portanto, é muito fácil, para mim, acreditar que a arte está directamente ligada à Vida.
Não falemos de dinheiro ou de sustento económico, pois isso não conheço. Todo o dinheiro que tenho feito com arte é para manter a realização de arte. Se eu não tiver por onde canalizar tudo o que está em mim, desde a flor da pele ao mais íntimo buraco do meu ser, não sei se vivo (para usar uma grande hipérbole e redundar a coisa).
– Palavra Comum: Que referentes tens no teu trabalho criativo?
– João Sousa: Em primeiro lugar, todas as criações daqueles com que crio. Eu oiço muita música de companheiras e companheiros, oiço muita música de projectos que estão num ‘patamar’ idêntico àqueles em que me insiro. Mesmo no que toca à música que está englobada na enorme indústria de massas, são os mais efémeros e misteriosos que me fascinam. Depois há o rock progressivo, o jazz de fusão, e toda a década de 70 a atormentar os meus dias (King Crimson, Area, Gentle Giant, Brand X e tantos outros) – de certa forma muitas coisas hoje que bebem destas água também são coisas que me influenciam. Os 90’s americanos (não apenas Seattle ou o que se comercializou via MTV) são também uma grande influência na forma como toco e percebo a música rock. Algumas bandas e artistas para completar a lista: Dead Kennedys; Black Flag; Disastro Sapiens; Violência Violeta; dUASsEMIcOLCHEIASiNVERTIDAS; Mudhoney; Caetano Veloso; Alice in Chains; ASIMOV; e eu sei lá quantas bandas de math-prog-pseudo-psy-rock-fusion-não-sei-das-quantas.
No que toca à poesia e literatura, procuro sempre as obras de ruptura (mas não exclusivamente), obras ditas ‘complicadas de entender’ ou de catalogar, os subterfúgios do imaginário e do absurdo. Gosto muito de Camus, Kafka, Vergílio Ferreira. Sou um viciado em Surrealismo. Adoro poesia simbolista e decadentista. E depois, adoro ler tudo o que é escrito pelo dito ‘humano comum’. Costumo dizer que tenho o privilégio de conviver com o meu poeta preferido e, ainda por cima, toco com ele!
Em todas as formas de arte eu espero ter matéria para um busca individual, secreta, que apenas eu entendo. Quero algo que mexa comigo e me faça pensar – seja algo político, existencial, violento ou absurdo. Por isto mesmo, julgo que será o grande referente no meu trabalho criativo. Aquilo que faço procura ter resultados idênticos nos poucos que lêem, ouvem ou vêm.
A nível de postura e/ou filosofia, há o punk e o anarco-punk, no qual comecei as experiências como ‘músico’. O faz tu mesm@ (diy) é algo que sempre me fascinou e inspirou no meu (nosso) modus operandi. Portanto, para além de espelhar algumas questões essenciais sobre a vida e os outros na minha ‘criação’, costumo também recorrer à crítica política, ao reclamar de direitos, ao provocar certas ‘mentalidades’ vigentes.
Em suma, costumo procurar as coisas livres para me libertar. Costumo criar livremente para ajudar a libertar. Gosto de saber, tal como numa conversa com alguém de quem gostamos ou passamos a gostar, que um concerto meu (ou texto, um poema), deixou perguntas na outra pessoa.
– Palavra Comum: Que caminhos entendes necessários para transitarem a música e o resto das artes hoje, nomeadamente na comunicação com o público e a sociedade?
– João Sousa: Bem, aqui entramos na parte mais frágil. Será que o público e a sociedade está realmente preocupada com o que se faz na música ou resto das artes? Ou melhor, será que tudo aquilo que difere do “normal” é interesse do público e da sociedade em geral? Será que me preocupo realmente com isso?
Crio, com a ‘arte’ que faço uma relação emocional muito profunda, – da mesma forma que usufruo da criação para me aproximar dos outros, talvez seja melhor reconhecer que, primeiro lugar, a uso para me conhecer muito bem a mim, todos os dias – o que acaba por deixar pouco espaço para a parte da divulgação ou difusão. Tenho muito prazer em colaborar com revistas (online e físicas), enviando poemas (para A Ideia, A Batalha ou A letra livre de Portugal e para o Diário Liberdade da Galiza e Países Lusófonos); gosto muito de lançar álbuns dos meus projectas, seja digitalmente ou seja fisicamente num concerto; gosto muito de saber a opinião de tod@s. Mas, no fim, um reconhecimento de um outro ‘artista’ vale ouro ao pé de avaliar o impacto que as coisas têm no público que desconheço directamente.
Talvez seja uma postura egoísta, individualista, até arrogante, que não parece coadunar-se com a minha perspectiva colectiva da música e da performance em geral, mas, na verdade, julgo que o meu ego é o motor do que faço, para mim, para os outros, sozinho, ou com os outros. Quero muito difundir as coisas que faço e, julgo eu, é muito importante que haja pessoas que sabem o que faço e que são ‘afectados’ por isso – mas se forem 10 pessoas, perfeito.
– Palavra Comum: Que opinião tens sobre as relações entre a Lusofonia e a Galiza? Tens experiências neste sentido?
– João Sousa: A minha experiência com a Galiza é dos eventos recentes da minha vida que mais impacto nela gerou. Vou certamente atrapalhar-me na cronologia dos factos aqui narrados e, muito provavelmente, esquecer-me de mencionar algumas pessoas que conheci neste processo, a quem devo amizade e respeito, admiração e saudade.
Tive um mês em Arteixo, que valeu por muitos anos da minha vida (por breve que seja). O (re)descobrir de um berço cultural uniu-se ao descobrimento de um novo universo. Logicamente que a minha visão sobre a Península Ibérica mudou (quando comecei os estudos em Língua, Cultura e Literatura Portuguesas e Espanholas, abracei de certa forma as várias formas de um iberismo libertário, mas hoje desconfio sempre do que coloca, ou pode sugerir a predominância de, ‘Espanha’ no centro de qualquer coisa). O eterno gosto pela literatura em língua castelhana viu-se substituída pelo enorme gozo em conhecer o sistema literário galego (desde os primórdios, ao renascimento, aos dias de hoje) em língua galega.
Sempre me senti atraído pelo lado ‘rural’ das minhas raízes – não me considero um ser urbano no sentido completo, uma vez que não sou a pessoa que mais viver numa cidade – no que toca à língua, à música, aos jeitos e costumes. Quando comecei a estudar Cultura Galega com o então leitor da Faculdade de Filosofia e Letras de Cáceres (Universidade da Extremadura), um novo universo se abriu perante o meu gosto pela raiz cultural do que chamavam de meu povo. A relação com o (então) professor Alberto Pombo rapidamente se converteu em amizade (apesar de minha -ou nossa, uma vez que tudo se passou com Nuno Mangas Viegas e Marta Ferreira, meus colegas de casa e estudos- tendência para tratar todos os professores por você) e fui (fomos) parar à Corunha para fazer o curso de verão de língua e cultura galegas. O curso rapidamente se tornou em algo secundário quando me deparei com tamanha hospitalidade da família do Alberto, amig@s e conhecid@s. Rapidamente nos envolvemos no estudo do Reintegracionismo, colaborámos (e colaboro muito esporadicamente) com o Diário Liberdade, unimos os projectos O Poema (A)Corda com a banda Avante! do companheiro Alberto e Diego Bernal, participámos activamente no dia da pátria desse ano de 2011, enfim, abraçámos a romântica (mas real!) ideia do parentesco galego-português. Há que frisar também que tudo isto aconteceu pela escolha de fazer a minha tese de mestrado (em Literaturas Comparadas, pela Universidade de Évora) sobre a Galiza – o que me fez conhecer professores como o Prof. Doutor Elias José Torres Feijó, ou Dobarro Paz. Acabei por escrever “A construção do símbolo pátria nas obras de Rosalía de Castro e António Nobre”. Já de volta a Portugal, colaborei nas aulas do Prof. Emílio Cambeiro na Universidade Nova de Lisboa (FCSH) assim como noutras palestras por ele sugeridas.
Tento acompanhar o dia-a-dia da Galiza (principalmente via Diário Liberdade) e, de certa forma, ‘espalhar’ a sua ‘existência’ quase ignorada ou desconhecida em Portugal – isto é, a ideia demasiado simplifica. Não sendo muito patriota, acredito na preservação das culturas, na riqueza da diversidade e na necessidade de diálogo directo, ‘limpo’ e liberto das malhas da globalização mercantilista.
– Palavra Comum: Que projetos tens e quais gostarias chegar a desenvolver?
– João Sousa: A nível da música trabalho com um projecto, dito central, de rock progressivo, os a-nimal. É talvez o projecto a que dedico mais da minha energia criativa, uma vez que componho o ‘esqueleto’ dos temas que depois desenvolvemos em estúdio. É um projecto que se tem centrado no desenvolvimento pessoal (de cada música) e numa crescente complexidade das nossas composições. Nesse projecto em particular tenho a função de guitarrista (toco guitarra eléctrica) e, sendo que gravamos as coisas nós mesmos, sou uma espécie de técnico de estúdio. De resto a banda compõe-se com a bateria de André Pires Calvário e o baixo de José Santos. Adicionámos recentemente um teclista, o Tiago Eira. Lançámos o ‘curta duração’ A Volta e estamos a trabalhar em dois novos discos, sendo que andamos em mão com um trabalho instrumental inspirado em distopias literárias (1984 de Orwell, Brave New World de Huxley e The Dispossessed da Ursula Le Guin).
Ainda na música estou com O Poema (A)Corda desde 2008/2009. Eu e Nuno Mangas-Viegas batalhamos numa constante e renovada simbiose entre poesia e música. Quando vivemos em Cáceres, no primeiro ano do mestrado, demos uma actividade regular ao projecto, com concertos e aulas-concerto nas Escolas de Idiomas da Extremadura, através do Instituto Camões. Durante o curso na Corunha, tocámos no Festival da Terra e da Língua e no Faluya na Corunha. Temos feito diferentes coisas e fundido O Poema (A)Corda com todos os outros projectos em que me insiro. Contamos com discos independentes também: Mãos…poesia lo-fi gravado em Montemor-o-Novo, e o duo O Deserto e O Deserto Vivo.
Finalizando os projectos musicais, o filho bastardo mais recente, Deslize com o Hélder José Azinheirinha. Tem sido meu companheiro de cultura e contra-cultura, do DIY e da exploração individual enquanto ‘artesãos’. Deslize é um projecto de música experimental, que consiste na modificação das guitarras (uma clássica e uma de cordas de aço) com jacarés (peças de ferro usadas em electrónica) modificando o timbre e fazendo soar notas parciais que passam a ser fundamentais. Com Deslize temos fundido vídeo com música, poesia com vídeo e música, improviso com ‘noise’, etc. Junto a este trabalho o Hélder tem desenvolvido a construção de pedais de efeitos e dispositivos de circuit bending, tudo experimentado em Deslize em junção com manipulação de samples.
Tenho colaborado também com DV no projecto experimental (este tendencialmente mais negro e pesado) Saraband.
Todos estes projectos estão englobados num grupo a que chamamos A Besta que é, simultaneamente, a nossa ‘editora independente’ e o nosso laboratório. Em nome d’A Besta temos realizado diferentes eventos na Estudantina Recreativa de São Domingos de Rana (na linha de Cascais) e em bares de Lisboa (como o Bartô do Chapitô). Temos experimentado trabalhar com outros grupos informais como a Associação Terapêutica do Ruído, a Fábrica de Alternativas e o programa de rádio online Arquitectura do Ruído.
Associado à música vem todo o trabalho de edição de vídeo, masterização de som, gravação e edição em suportes físicos menos convencionais, entre inúmeras tarefas. Considero-me um amador polivalente nato!
No que toca à escrita, apesar de mais travada ultimamente, tenho colaborado com o blog AEQUUM-EQUIDADE, que fundei por volta de 2009 com o André Pires Calvário; tenho colaborado com o Diário Liberdade; publiquei um poema no Jornal de Expressão Anarquista A Batalha (antigo órgão do anarco-sindicato C.G.T., fundado em 1919); tenho colaborado (embora com mais ausência do que a desejada) com a revista de cultura libertária A Ideia (por sinal uma revista que existe, irregularmente, desde os 70’s); entre outros que receio ter-me esquecido.
No que toca ao ensino (para além da actividade profissional como explicador/tutor), tenho-me dedicado a dar aulas de bateria e guitarra na Estudantina de São Domingos de Rana. É também neste espaço que A Besta tem desenvolvido grande parte do seu trabalho: ensaios, concertos experimentais, workshops, sessões de gravação abertas ao público, etc.
O que gostaria de desenvolver? Temos em vista, entre músicos d’A Besta, a criação de um álbum colectivo dedicado à Galiza para, depois, percorrermos o país fazendo concertos em diferentes espaços (salas, tascas, galerias, bares, etc.).
De resto conto continuar com esta existência dependente da arte e vice-versa.
– Palavra Comum: Que achas de Palavra Comum? Que gostarias de ver também aqui?
– João Sousa: A minha impressão é cada vez mais positiva. As plataformas que unem o mundo da lusofonia têm uma utilidade extrema, principalmente depois de tudo aquilo que tenho vindo afirmar ao longo desta entrevista. Tenho aprofundado o meu conhecimento sobre a cultura galega actual, tenho lido cada vez mais sobre a questão galega (política e social), entre outras questões. Graças ao Palavra Comum, tenho lido coisas interessantíssimas, tenho aprendido muito sobre grandes artistas que desconhecia. Existem artigos muito bons sobre figuras da arte galega, mas também trabalhos que fundem fotografia com poesia, poemas, narrativas, crónicas. Estou muito entusiasmado com a existência da revista, muito interessado em colaborar assiduamente. No que toca à minha actividade enquanto músico/artista, considero que tenho nesta revista uma excelente ferramenta de divulgação e conhecimento de outros artistas da Galiza e mundo lusófono – e quem sabe até (pelo que já se vê com Deslize) um manancial óptimo para novas criações e co-criações.
Conto colaborar regularmente com poesia e música (algo que vejo que está a crescer no site também e, nesse caso, seria também o que mais gostaria de ver – vídeos, temas musicais, poesia gravada, coisas do género), assim como a aliciar o máximo número de pessoas a participar, ler e divulgar nas redes sociais este maravilhoso site.
Este texto não segue as normas do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, pois o autor não acredita que a nova norma possa unir os povos, acreditando que serve mais para unir os mercados. Línguas não se deviam vender.
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