– Palavra Comum: Como foi o processo de trabalho de Fake?
– Quim Farinha (Talabarte): Deu começo há quase dous anos (ano e meio antes da saída do disco), quando estávamos a fazer umha gira na que misturávamos música e cozinha, empregando como fio condutor certas histórias de um livro chamado “Notas de cozinha de Leonardo da Vinci”. Este fantástico livro dá a conhecer umha série de receitas do mestre renascentista, assim como alguns inventos que se lhe atribuem na sua relaçom coas artes culinárias, tais como o garfo, o guardanapo, a máquina para fazer pasta, etc… ou mesmo umha série de protocolos a seguir à hora de sentar num banquete quanto a normas de comportamento e outras observaçons do autor. Mas a nossa surpresa foi descobrir que quase todo o contido deste livro era falso. Nom era mais do que um fake dos seus autores (…) co único objectivo de servir de entretenimento para seus leitores. Eles fundamentavam o seu trabalho numha copia manuscrita de um suposto Codex Romanof atribuído a Leonardo e que se encontra, segundo explicam no limiar, no museu de L’Ermitage em Sam Petersburgo, existência mais do que duvidosa, a propósito.
Consequentemente, como os Talabarte tínhamos decidido basear o nosso disco na cozinha de Da Vinci e resultou ser umha falsidade, esta ideia serviu-nos como ponto de partida para falarmos dos “Fakes” da história… A partir de aí, o trabalho consistiu em compor umha série de músicas para mais ou menos a metade dos fakes, assim como procurar a outra metade dos fakes para algumha outra música que já estávamos a arranjar.
– Palavra Comum: Que vínculos e conexões tiveram lugar entre diferentes artes (audiovisual, fotografia, literatura, música, etc.) nesta obra?
– Quim Farinha (Talabarte): Fake é um disco/livro que contém um cd com 12 temas compostos por Talabarte ou tradicionais também arranjados por nós (78 minutos em total), 12 histórias ou fakes escritos polo jornalista e escritor Carlos Meixide, e 12 ilustraçons realizadas a jeito de “collage” (mais a fotografia da capa) polo artista gráfico Pablo Giráldez “O Pastor”. Assim pois, trata-se de um trabalho multidisciplinar em que se fusionam música, literatura e arte de um jeito natural, sem artifícios, dando como resultado umha viagem particular, surrealista, atemporal, onde os sentidos se movem ao seu gosto…
– Palavra Comum: Qual é a vossa visão sobre a música galega de hoje?
– Quim Farinha (Talabarte): Estamos a viver um dos momentos máis criativos na história da música galega, tanto polo seu volume coma pola sua qualidade. No entanto, botamos em falta umha maior projecçom na sociedade galega e no exterior, devido, na nossa opiniom, a umha muito escassa (por nom dizer inexistente) presença nos meios, poucas ajudas e pouca promoçom. Evidentemente, quanto ás músicas nom comerciais se refere…
Pensamos que a música é um sector produtivo mui importante na Galiza, polo que mereceria um reconhecimento muito mais claro, reflectido em linhas abertas de ajuda para a produçom discográfica, merca de instrumentos ou material de sonorizaçom, saídas ao estrangeiro, etc. do mesmo jeito que existem ajudas noutros sectores como o agro, pesqueiro, etc…
– Palavra Comum: Fala-nos de Ao Son da Cociña…
– Quim Farinha (Talabarte): Como bem dizia no começo, é um espectáculo em que misturamos música e cozinha, do qual fixemos umha gira de concertos coa particularidade de que forom levados a espaços singulares onde nom se adoitam fazer este tipo de eventos. Lugares como o faro de cabo Vilám, o moinho das marés de Muros ou o dólmen de Dombate, acolherom o som da música de Talabarte misturada coas artes culinárias de Xián Herrera, que foi o restaurador (e músico) que nos acompanhou em todos os eventos. “Ao son da cociña” é um espectáculo que provavelmente voltaremos a representar, pois funciona mui bem e atopamo-nos mui cómodos as vezes que o fixemos.
– Palavra Comum: Que projectos gostaríais de fazer nalgum momento (por impossíveis que pareçam)?
– Quim Farinha (Talabarte): Musicar umha película ou documental mudo, e se pode ser a tempo real melhor… É algo que sem dúvida faremos algum dia.
***
POEMA-DIÁLOGO DE RAMIRO TORRES
Os pés dançam no fogo
de animais infatigáveis
correndo cabeça abaixo
por esta gramática branca,
a imediatez absoluta do vulcão
abraça a casa infinita onde
se afinca a boca do sonho
como um sol dentro do corpo,
enquanto um rumor áureo
desce às vértebras e ilumina
o lago mergulhado em sons,
o planeta indecifrado do vivo.
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