Há nomes que nunca se esquecem. Na verdade, alguns merecem uma vigília pela noite fora. Mas o corpo é que paga. Toda a gente hierarquiza tarefas. À sua maneira. No dia-a-dia nenhuma surpresa tem que ver com originalidade. Esta relaciona-se com economia de palavras.
“Nem a terra nem os céus querem resolver o meu problema…”
Com efeito, é possível mostrar rotinas quer nos computadores quer na humanidade. O tema da incompatibilidade multiplica-se mais no Homem. O jogo era às três da tarde. A equipa jogava no Sul e a futebolista ia a caminho do estádio. Após aplicar um pouco de máscara com a mão do anel reajusta o retrovisor e mexe no cabelo. A futebolista tinha cabelo loiro. Uma porção de cabelos caía junto ao nariz. Não ficou bem, a cabeleireira atendeu-a às pressas. Com ou sem lugar para queixumes há já algum tempo que não havia qualquer pedido de desculpas. A futebolista conhecia-a, de seu nome Rute, amiga da família, há anos. Na verdade, o profissionalismo parecia estar lá sempre. Segundo a futebolista, Rute parecia estar aluada ou alienava-se. Uma luz vermelha batia no cabelo da futebolista. Era um telefonema de Luís. Naquela estrada havia uma dezena de automóveis. Ela, que parecia um boneco bobblehead, virava o volante na direcção da berma.
“Diz!”
“Já chegaste?”
“Mais cinco minutos, amorzinho”, disse a futebolista.
“OK! Vai com cuidado!”
“Tranquilidade.”
“Há dois dias que sei uma coisa. Sabes o que é? Foi de morrer a rir. A tua amiga Rute gosta de lamber cricas…
Fragmento do conto “ESTÁDIO” de A Cor Vermelha (Editorial Novembro, 2020).
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Jaime Soares nasceu a 14 de Janeiro de 1987, em Vila Nova de Famalicão. É licenciado em Línguas, Literaturas e Culturas (Português/Inglês) e mestre em Estudos Anglo-Americanos (Literatura e Cultura), pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Apresentou algumas comunicações em conferências no Porto, em Braga e em Boston (neste último caso, in absentia). A revista da Don DeLillo Society inclui um artigo da sua autoria intitulado “Don’t blame the players, blame the ‘system’: a systemic reading of Don DeLillo’s The Names” (2017). Por outro lado, em 2018, conquistou o Prémio Literário Germano Silva – Rotary Club de Penafiel com a obra A Cor Verde (Editorial Novembro, 2018). Actualmente Jaime Soares trabalha na indústria têxtil, e lê e escreve nas horas vagas.
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