Amosse Mucavele, nascido em 1987 em Maputo (Moçambique), onde vive, é poeta, ensaísta, antologiador, tradutor e cronista. Dirige o projecto de divulgação Literária Esculpindo a Palavra com a Língua, é chefe da redacção de Literatas, Revista de Literatura moçambicana e lusófona, membro do Conselho Editorial da Revista Mallarmagens (Brasil), Revista Eisfluencias – Portugal, colaborador do Pavilhão Literário Singrando Horizontes – Academia de Letras do Paraná, Jornal Coruja, Revista Triplov e outras. Membro da academia de Letras de Teófilo Otoni-Minas Gerais e da International Writer Association (IWA-Ohio-USA). Publicou textos em diversos jornais do mundo Lusófono.
Guerra Popular
A cidade é um inventário de angústias
uma música cega
um eco que se fecha em silêncio
Na veloz saudação dos chapas
***
Bairro Magude
Regresso ao avesso
com luzes apagadas
faço da escuridão a condição pela qual vivo
arrasto o silêncio para onde o sonho se abre em charco
***
Subúrbio
Nas margens da cidade
as acácias são como almas adiadas a arder
na melancólica procura de um sonho
para enxugar os pés
e sei que nenhum peão restituirá os buracos
***
Macaneta
Nessa praia tínhamos perdido o caminho para o mar
o resto da terra caiu em lágrimas
num rio calado pelo tempo
feitos de náufragos
(choramos com a bússola na mão)
***
Inhaca
Haverá ainda este sol
a murmurar na água
se a fome dos barcos alcançar a terra
Haverá esta tamanha glória
no corpo insaciável dos remos
que sugam o mar todo
se com os olhos continua(r)mos a desfolhar o distância?
***
Na maré do meu diário – o incerto
reescrevo com os olhos
a fonte do imaginário desta cidade
sem rumo, anoiteço no corpo do poema
onde voa o sol em toda sua glória
***
Eu vi o sol em toda sua glória
a procura de refúgio longe do florir da noite
sem nome, os barcos vacilam geometricamente
no corpo húmido de silêncio
(tal como as estrelas a apodrecer no charco)
***
Magumba
Se tu remas e eu remo
eu me remo rumo a ti
é no mar onde desnorteia-se a vítima
***
Canção do Pescador
Tenho muito mar – o rumo
onde sílaba a sílaba, remo
os dias todos
como uma pedra na água
encosto o ouvido sobre o barco
oiço
uma oração natural do anzol
(pela boca morre o peixe)
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