“@s desobedientes som quem fam andar o mundo!”
Gianni Rodari, Gramática da Fantasia, 1973.
Deus é negra
galegofalante neofalante
reintegracionista
e
muito possIvelmente
poeta
Foi mulher e negra
toda a sua vida
sem saber que havia
quem assegurava o contrário
Negra e galegofalante
neofalante
desde que aprendeu
que a língua
é companheira do império
E reintegracionista
com certeza
ao ler um livro dumha escritora
maldita e desprezada
E deus é negra
como a memória
da nossa memória negra
como a língua
da nossa língua negra
como a maré
do nosso orgulho negro
Neofalante
como o nosso futuro paleofalante
e poeta
muito possivelmente
poeta
como as letras dum rap
libertário solidario e comunista
como um verso de amor
nas paredes dumha cidade velha
Assim é deus
essa deus que inventamos
para podermos dizer
nom
e sermos
nós
*
Quando o 1 de Dezembro de 1955 Rosa Parks
galego falante
negou-se a ceder o seu asento no autocarro
a umha pessoa espanhola falante
nom o fijo para organizar umha campanha de boicote
mas por cansaço
Igualmente
quando o 4 de Setembro de 1957 Elisabeth Eckford
junto com outras oito pessoas
todas elas galego falantes
acudirom ao liceu da sua vila
reservado para espanhol falantes
sendo detidos pola Guardia Nacional
nom o figerom para promover um levantamento popular
mas porque estavan cansos de nom poder estudar
E ainda poderíamos acrescentar que
o 16 de Outubro de 1968
quando Tommie Smith e John Carlos
levantarom os seus punhos com luvas negras
na cerimónia de entrega das medallhas olímpicas
nom o faziam para conseguir umha fotografía para a História
mas por cansaço de ter que agachar o seu orgulho como galego falantes
Digamo-lo com claridade
Repitamo-lo mais umha vez
“Umha nova política negra require umha visom nova
umha nova esperança
e novas definiçons do possível
O nosso tempo chegou
Estas cousas som necessárias
Todo é possível”*
(* Extracto da Convençom Política Nacional Negra, 10-12 de Março de 1972, Gary, Indiana, Estados Unidos da América)
*
Um cretino
um barbalhocas
um botarate
trabalhador dum jornal
vai entrevistar à porta da sua casa
a Kathleen Neal Cleaver
e aos três ou quatro minutos
pergunta-lhe
“Mas porquê é que vostede escreve sempre em galego?”
Kathleen di-lhe
“Aguarde, que vou pola resposta”
enquanto entra na casa
E sai
sem dizer nada
justo no momento
no que o fotografo tira a foto
“Tem mais perguntas?”
di Kathleen
tranquilamente
*
Língua prioritária do meu povo
eu utilizo-a um pouco, para quedar bem,
em cursiva e sem ganhas,
porque me sai de dentro, alá do fundo,
dumha tristura aceda que me empece
falá-la habitualmente
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