Logo de começar a Segunda Guerra Mundial, a Argentina, que acolhera meia Europa esfomeada por culpa da Primeira, estava dividida entre os partidários do III Reich e os que viam o horror que o hitlerismo encarnava. Nessa altura formou-se uma comissão na Câmara dos Deputados para analisar pelo miúdo o que era a União Alemã de Grémios, florescente no país de acolhida. No seu informe de Novembro de 1941 a Comissão Investigadora de Atividades Antiargentinas vem dizer que não quadram as contas da tal assembleia inter-gremial dos alemães de origem. Singelamente tem que ser financiada por alguém alheio a ela. Quem? Tudo apontava à Embaixada da Alemanha em Buenos Aires…
Pode-se-me perguntar a conto do quê trago isto num artigo que, pelo título, pareceria dirigido a tratar da organização chamada Galicia Bilingüe; mas a seguir respondo: há tempo que a gente se pergunta na Galiza quem sustém esse negócio (e uso “negócio” como o fazem os irmãos brasileiros). Esta pergunta repetiu-se ultimamente ao sabermos que os tais bilíngues andam a confundir rapazinhos com um jogo que tem prémio, algo do que gosta muito a tropa juvenil: um dispositivo portátil. Pais vigueses, alarmados pelos panfletos que os da GB repartiram às portas dos liceus, logo levantaram a voz e, mais uma vez, surgiu a questão: por quê um parlamento que celebra décadas de Leis e Acordos de Normalização Linguística não investiga o quê há por trás da professora Glória Lago et caterva?
Ao meu entender, simplesmente porque o senhor Rueda, a senhora Rojo (ou Roxo: não será apelido galego da serie Moreno, Louro, Roxo pela cor do cabelo?), o senhor Vázquez (que deveria ser Vásquez: Filho de Vasco) e o senhor Feijó (que não se pronuncia Feikhó) estão em conivência com quem apoia um objetivo comum: despejar a Galiza dum sinal de identidade perigoso, um idioma de projeção universal, não mais uma linguinha das que recolhera Meic Stephens no seu monumental Linguistic Minorities in Western Europe.
Qualquer observador da realidade espanhola atual logo vê que este “Reino” do Absurdo é governado pela Caverna Madrilena, gêmea de Caverna Sevilhana, ambas conectadas pelo túnel do Nacionalismo Espanholeiro. O solteirão do Monte Pio obedece às mesmas consignas que a inglória Glória Lago. E atuam em paralelo.
Bem que se diga que Galicia Bilingüe foi abandonada pela sucursal galega do PP. Isso parece, mas, no fundo, se houver essa pesquisa que ninguém faz, se os parlamentários da AGE e do Bloque no casarão do Hórreo fossem ativos nesta área das doenças do Impaís, não se tardaria em saber como são as conexões PPdeG – Galicia Obsessivamente Monolingue.
O caso é que as estratégias de ambas as formações coincidem de face ao mesmo alvo: varrerem o galego da Galiza, como já dito.
Organização “linguística” e partido político sabem que no sistema diglóssico galego a Língua A é imensamente poderosa frente à Língua B. Aquela conta com o aparelho mediático das Cavernas e esta, coitadinha, só com uma CRTVG minada desde dentro por profissionais que se exprimem em castelhano a micro fechado. Quanto ao ensino, logo de três décadas de “bilinguismo harmónico”, é milagre que um rapaz acabe o bacharelato capacitado para manter um conversa em galego engolível.
Ainda mais, salvo grupos resistentes e meritórios –como os de “Eu nunca serei yo” –, a maioria dos jovens galegos seguem a pensar que o idioma dos avôs não presta para nada, e que o que importa é o inglês (que apenas alcançam a pronunciar de jeito ruim).
Eis então como colabora o poder político com Galicia Bilingue: Feijó, Rueda, Rojo e Vázquez, mais o rebanho que comandam, entraram a falar neocastrapo (madrileno mal traduzido ao galego) com a intenção de dissolverem o galego na Língua da Caverna Suprema. No entanto, a show woman Glory Lake e os seus vassalos promovem nas mentes dos mocinhos a ideia de que o galego lhes é alheio e imposto, mesmo quando os apelidos indígenas os marcarem a ferro…
Como diz o fado, “quem dorme na minha cama / e tenta sonhar meus sonhos…”, já se sabe; e ainda poderíamos juntar algo doutra letra, esta, de tango: “revolcaos en un merengue / y en un mismo lodo todos manoseaos”. Assim vejo o PPdeG e a GB, contando eu com a vantagem de ser conscientemente multiglóssico, não multilíngue (que isso, Glorinha, como vocês bem sabem, é uma quimera).
Em fim, à bientôt, que a GB tem muitos ociosos e não vão demorar em responderem, como responderam com explicatio non petita ao meu artiguinho titulado Galicia monolingüe de Janeiro de 2008 em La Voz de Galícia.
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