Os avanços da tecnologia e da ciência desde sempre despertaram reações contrárias baseadas na intuição e nos obstáculos criados à evolução. Essa realidade que se opõe à ciência e ao conhecimento é Negacionismo.
Assim sucede com as alterações climáticas, a vacinação e, num plano diferente, o negacionismo assume a forma de revisionismo histórico como sucede com o holocausto revestindo ainda formas de populismo insano que se traduz no desprezo pelo conhecimento e as elites.
Numa obra oportuna de Tom Nichols a que deu o titulo A morte da competência, o autor aborda as dificuldades dos peritos, cientistas e dos mais eméritos pensadores de divulgarem as suas ideias.
Lembra o autor o exemplo de Peter Duesberg, professor da universidade da Califórnia, negacionista da SIDA que, por mera intuição, enfrentou a comunidade cientifica.
Baseado nas opiniões de Duesberg, o então presidente sul-africano, Thabo Mbeki defendeu que a SIDA se devia a fatores de desnutrição e ao estado de saúde debilitado dos doentes e não a qualquer vírus. Há estudos que referem que esta atitude negacionista terá custado mais de 300 mil vidas.
São célebres as atitudes negacionistas da Igreja no caso de Galileu Galilei e na proibição secular de realização de autópsias.
No tempo presente, emerge de forma sibilina o negacionismo dos que emitem opinião sem saber o que dizem, por mera intuição, porque ouviram, baseados em consultas sumárias e breves em meios de informação duvidosos.
Tom Nichols chama a atenção para a ignorância ostensiva dos americanos que, na sua tese – ele é americano – têm orgulho de não saber tendo muitos cidadãos evoluído do estado de não informado para o de agressivamente errado.
Rejeitar a opinião dos especialistas e da ciência, do escol e dos pensadores converteu-se numa espécie de proclamação de autonomia da ignorância.
Esta atitude baseada na ideia de que as opiniões valem todas o mesmo põe em crise os sistemas democráticos levando à eleição de políticos ignorantes como tem sucedido.
A este proposto vale a pena conhecer o pensamento de Isaac Asimov que refere, citamos:
«Existe e sempre existiu nos USA o culto da ignorância. A corrente do anti-intelectualismo tem sido um padrão constante… alimentada pela ideia falsa de que a democracia significa que “ a minha ignorância vale o mesmo que o teu conhecimento».
Tem isto a ver com Pandemia do Covid-19. Vamos seguir as recomendações dos especialistas em saúde pública que dispensam as nossas opiniões de ignorantes na matéria.
*
Ernesto Salgado Areias é advogado e escritor.
You might also like
More from Ensaio
A poesia emerge das grandes ruínas do presente
A poesia emerge das grandes ruínas do presente: ensaio de Hirondina Joshua no Templo d’Escritas, 1ª edição. O tema em …
Assi(m) morreu ũa língua
"Onde cresce o perigo também surge a salvação" F. Hölderlin Ninguém pode negar que muitas das críticas realizadas por Fernando Venâncio ao …