Mais a Norte do que nunca
Mais a Norte do que nunca
Descubro a casa em abandono
E sento-me para sentir-me,
Eterno Aprendiz da Vida.
Sei que na grande baía
Baleias vêm à tona
E respiram compassadamente
Antes do aceno das caudas
Rumo à escuridão.
A conquista do alimento
Exige mergulhos em apneia.
Suspendo a respiração
Para que a mente encontre as ideias
E, de olhos fechados,
Nado sob os escombros das memórias,
Sob as ruínas do desalento,
Até que os pulmões me doam.
A prodigiosa bocarra abre-se
Para capturar os cardumes
Que já se não me podem escapar
E regresso da saciedade dos mergulhos
Com originais peixes-palavra
Aprisionados no papel.
Na luz de cada súbita emersão,
De olhos bem abertos,
Revejo sempre a casa em abandono
E respiro compassadamente
Para novo aceno de cauda erguida sobre o mar.
Mais a Norte do que nunca
Abandono a casa em descoberta
E levanto-me para levar-me,
Eterno Aprendiz de Mim.
**
Paulo Ricardo Corticeiro de Sousa Moreira, nasceu em Coimbra, a 11 de setembro de 1976. Com três anos de idade emigrou com os seus pais para o Brasil, tendo vivido em Campo Grande e Corumbá, no Estado do Mato Grosso do Sul. Regressou a Portugal em 1990, para a região de Aveiro. Publicou os livros de poesia e prosa poética “SER” (junho de 2016, com segunda edição em outubro do mesmo ano) e “AINDA DO SER” (junho de 2017), ambos pela Seda Publicações. Viveu na região de Mývatn, na Islândia, de junho de 2017 a dezembro de 2018, onde principiou e concluiu o seu terceiro livro, a publicar ainda este ano. Actualmente, reside em São João da Madeira, Portugal.”
Nota do autor: este video-poema faz parte de um conjunto de três que foram filmados em Mývatn, na Islândia” e foram produzidos por Lucas Torres Ausejo.
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