A morte sempre surpreende e escurece os dias claros em que um intenta ser feliz. A notícia do falecimento de Maria Sofia Mendonça Veiga Leitão na cidade do Porto, não deixa de comover-me e retrotrair-me aos inícios da nossa amizade, desde há perto de quarenta anos. Uma grande mulher que albergou uma imensa e notória dignidade em favor das liberdades do seu país. Ela sofreu as repressões do salazarismo que recaíram sobre o seu marido, o excelso e comprometido poeta, Luís Veiga Leitão (1912-1987), tantos anos preso nas cadeias da ditadura, e autor do célebre libro: “Noite de Pedra”, escrito na prisão. Toda uma vida completa, a de Maria Sofia, que finda aos seus noventa e quatro anos. Maria Sofia era a irmã mais velha de uma família de vários irmãos que ela sempre uniu de uma maneira singular e que protegeu com amor e constância. A família Mendonça perde a sua presença física, mas não a sua exemplaridade. Também os amigos perdemos uma enorme referência, mas a sua generosidade e hospitalidade continua viva e inesquecível.
Maria Sofia Mendonça Veiga Leitão foi essa enorme mulher com plenitude e consciência de liberdade, incapaz de dobrar-se e silenciar-se ante o fascismo de Salazar: firmeza inaudita fronte aquela devastação criminosa. Quando o seu filho, Luís António, tinha todas as possibilidades de que o regime ditatorial o enviasse à guerra colonial em África, os seus pais saíram de Portugal e instalaram-se no Brasil, após do 25 de Abril. O seu filho estudou arquitetura em Rio de Janeiro e é um dos grandes pintores e escultores da atualidade em Portugal. Uma mulher com consciência política social e cívica, como toda a família Mendonça. Pessoa teimosa que estava informada do que se passava no seu país. Pontualmente foi muito crítica coas políticas de governos que não favoreciam à sociedade mais empobrecida. Toda uma vida que esclarece as suas atividades humanas, cívicas e populares.
Maria Sofia gostava da Galiza, ela vinha á minha casa de Merlán, com o seu marido, o seu filho e a sua neta Sabina. Era uma pessoa que lhe encantava andar e ver. Também de falar à sombra do meu castanheiro de histórias de mocidade nas suas terras de Lamego e do Portugal obscurantista e medonho. Tantos encontros com ela e família no Porto, Barcelona, Coimbra, Chaves e por várias geografias galegas. Gostava do pão de Cea e da vitela da Chantada, dizia que eram as melhores coisas do mundo. Tantas experiências que eu e a minha família lembraremos e guardamos duma pessoa tão íntegra e generosa, como Maria Sofia Mendonça Veiga Leitão. A minha mais sentida homenagem.
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