Lua Awel comunica-se através da boa música e do humor. Recebe e atende as situaçons e espaços através das melodias sonoras, da energia, dos ânimos. Esta mestra lembra-nos diariamente as cousas simples, essas pequenas cousas que cantava Serrat: respirar bem, sacar o teu melhor humor, jogar e banhar-te em boas músicas, cagar, respirar, mexar, comer bem. Lembra-nos constantemente o essencial e necessário.
A música fomo-la empregando como impulsora de acçons. Como tenho escrito noutros artigos: hard-corde ou heavy para baixar a cólera e mamar o biberom quando nom queria ou nom sabia nos primeiros meses de saída do hospital, concertos de jazz para chamar a sua atençom e concentrar-se, música bretoa que bailava no colo de Pierre para o sistema vestibular…. E o passo do tempo foi-nos indicando a transformaçom da recepçom, mudando as percepçons e os sentires dumhas músicas e outras. Aquelas que começarom calmando-a, agora som ativadoras de grande concentraçom. Aquelas que promoviam o movimento agora deixam-na estática. Aquelas que a faziam sorrir agora nom lhe fam mais encanto. Umhas que a relaxavam muscularmente agora provocam elevaçom de tom. Nestes últimos meses está mais curiosa com tudo e vai aceitando novidades muito rápido, interessando-se por novas questons sonoras e a sua play-list de luxo, essa que a fixo escachar, brincar, rir… cançons que memorizou e conhece desde o primeiro compasso tam variando em funçom e sensaçom.
Lua vai ao colégio de Educaçom Especial El Cabillón de Tapia, um colégio especial por particular e único. Ali uns poucos pícaros da contorna Astur-Ocidental e A Marinha tam cuidados por bastantes profissionais entre plantas, prados, vacas, via de Feve e umha imensa horta de agricultura ecológica com tenda onde alguns deles aprendem acçons. Com carinho, mimo e esmero. Lua é a mais pequecha e está três horas ao dia polas manhãs entre logopedia, fisioterapia, pedagogia, música, requetedesaiuno. Algumha vez que chego ao colégio e escoito Malú ou reggaeton entro em grande tristeza no centro, polas circunstáncias vividas e conhecimento, vejo constantemente umha perda de oportunidade para abrir janelas com outras músicas sendo conscientes do momento-espaço da escuita de cada indivíduo ou este em grupo.
Cada estado de ánimo reque de umha cançom para provocar mudança ou nom, e ao revês cada cançom produz um diferente em quase todo-as. Estamos ante um fluir emocional, umha repleta paleta donde a música nom embelesa somente o ouvido, ou é um ocio, ou um gosto. É uma oportunidade única introduzir a curiosidade musical para todos-as porque se a esta arte ocupa tantas partes do cérebro e pom em conexom os hemisférios, as ganas de explorar e a curiosidade construi um caminho sem fim de novas aberturas. Há milhares de estudos que falam da música desde a química cerebral libertando dopamina (hipotálamo, prazer), presente em processos de aprendizagem motora, no sonho, na atençom, na maior habilidade lingüística, na calma da dor, no ritmo cardíaco, na pressom arterial, ajuda ao tempo-espaço-sequência, às matemáticas, a combinaçom hormonal, ao sistema límbico (emoçons) ….
No caso de Lua é umha bençom poder viajar emocionalmente assim, nom se move muito, mas cada vez mais, nom codifica o que vê, mas cada vez mais, sente o que toca e cheira, e vai em aumento, e ao melhorar a escuita pode captar como umha antena o que tá passando energeticamente ao redor. O mesmo poderia dizer eu no referente ao entendimento com Lu. Nom me movo como umha bailarina profissional, às vezes nem codifico nem entendo, mas vai em aumento. A música entendida como alimento, cacho de comida, é um valor energético onde também se podem fazer combinaçons, permutaçons, e a qualidade si ou si é primordial. Entendida como alimento, há alimentos de horta com confiança e outros que se mercam facilmente e nom tenhem o mesmo efeito na saúde, isso mesmo creio que acontece com a arte, neste caso musical.
Que tem a ver o efeito auditivo-corporal dumha orquestra de pachanga com um quarteto acústico de instrumentos de madeira, ou umha cançom de rádio mass media de ritmos latinos de moda da rapaz-a de moda com uns cantos tibetanos, ou Nina Simone, por ex.? Que terá a ver a mestura de som feita num estudo de gravaçom ou outro? Por que nom experimentar com outras cousas sonoras enquanto estamos ademais em situaçom “especial”, investigaçom, exploraçom, criatividade….? Por que nom se aproveitam os tempos, os ritmos, as situaçons como parte dum todo -continuado no processo de estar e ser no mesmo presente-? Por que tenhem que existir aulas de música se a música pode tar por toda a parte?
Pedro Pascual compuxo a cançom Kuun-Laun e enviou-no-la há meses em gravaçom de Whatsapp. Era umha cançom composta para Lua. Levamo-la no móvel muito tempo até que dixo que ia introduzi-la em Talabarte. Queria que papá flautista e mamá pandereteira colaborassem na peça e viu até Rinlo um dia enteiro de charlas, confidências e gravaçom. No final da tarde pensamos que seria bom que Lua também participasse. Puxemos a cançom e logo gravarom Pierrot, Pedro e Lua livremente. Sons afinados saírom da garganta desta pequecha. Alguns ficarom na cançom. Poucos, creio eu, Sr. Produtor, na opiniom dumha mai orgulhosa. 😉
Dim que dum corpo afinado sai umha voz afinada. É incrível como é capaz de afinar tam certamente notas a sua fala cantada. É incrível que deste corpinho com supostas capacidades reduzidas poda sair um som tam afinado. Isto muda também a visom da discapacidade e abre novas discapacidades humanas. Pregunto-me, como isso afecta ao seu ánimo, ouvir sons desafinados e também que efeito terá sobre ela e por que umha afinaçom ou outra. Suponho que essa é a harmonia do Ser, ou o equilíbrio mente-corpo, seja qual for.
As aulas de movimento de Siero com Irina fam-se com música e depende um pouco dela para que a mobilidade e tom muscular seja um ou outro. Creio que som de bailarina a bailarina que tenhem já estipulado esse espaço de dança impro (Feldenkrais-Contact Improvisation). Tanto as sessons de ABM e estas som assim impulsadas. Umhas vezes é a música elegida a que impulsa um movimento como Eagles ou, ao contrário, congela-o como Matt Corby, outras é umha música quem relaxa o corpo como alguma do Tibet, outra entra em rigidez de atençom, como com Tatám, e outra é quem apuxa o ritmo corporal como era antes La Barona y el Palenque de Paco de Luzia ou mesmo com umha move-se, ri e canta, como no caso de Aznavour. Esta riqueza nom homogénea e diversa é, pois, rica para a diversidade funcional e segue esta mesma nomenclatura de maneira natural, como seguir o ciclo da vida e os múltiples estados e ritmos que podemos viver num dia. Nas manhãs, no momento pequeno-almorço, em que tá muito receptiva, tamos na procura de novidades sonoras para incluir na sua play-list, e no desfrute também do silêncio, entre tanto introduzindo as composiçons de papá-mamá na sua informaçom sonora para ir aceitando-as ou nom, interiorizando-se ou assimilando-se com sorte nelas, ademais da maior consciéncia de três da fala melódica.
Entre o material sonoro que agora manejamos também estám os documentários em francês, concretamente de paleontologia ou sobre animais com Pierrot, come com eles e de vez em quando comenta o filme. Enquanto tou rematando este artigo aí estám eles dous nisto. Escuito algo assim que di Lua como “agui agui” entre as vozes do documental (Rio). Achamos que entrou em interesse pola língua francesa paterna, outra vez polo interese fonético diverso.
Também começou a interessar-se por desenhos animados onde as vozes som agradáveis, parecem mais para adultos, as mudanças sonoras nom som bruscas: Totoro, A viagem de Chihiro, A cançom do Mar…
Começa a cantar comigo, um canto mais consciente. O feed-back entre as duas produze-se com os alalás, pausados, longos, deixando silêncios, tribais, identitários, poderosos, ou mesmo tá atenta na minha construçom de melodias, na improvisaçom destas. Também começa a cantar com Lola Membrillo, com Natalia Lafourcade, Ali Farka Touré, Silvia Perez Cruz, Amy Winehouse, com vozes que lhe interessam estes dias, às que lhes resposta, ou potentes, grandes vozes de rock ou do jazz.
Em Paris debuxamos umha nova etapa com Abm e Sophie (praticante de Feldelkrais com estudos em ABM e JKM, e diretora cénica). Ela insistiu em falar-lhe enquanto a movia. A nena protestou-lhe, nom chorou, mas nom aceitava o reto nas primeiras sessons. Sophie aumentou a fala, explicando-lhe cada situaçom, parte do corpo que moviam, começou a falar no seu idioma, umhas vezes com sílabas e vogais mais claras, outras com linguagem inventada e sempre no mesmo sentir vocal que Lua. Isto provocou umha curiosidade da pícara e umha maior atençom entre as duas e por fim movimentos com objectos, adicados a umha funçom, umha maior consciência cognitivo-motora acorde com a etapa evolutiva em que está.
Ugia Pedreira.
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Alalá popular. Arranjo Lua e Ugia.
Letra Elia. Melodia Lua e Ugia
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