A vida é tremenda! Estudei psicologia infantil na USC e nunca exercim mas sempre fum lendo o que me caía nas maos referente à psicologia musical. Uma mai, Eva, irmá da amiga Mercé de Rande tivo o seu primeiro filho e convidou-me a preparar um obradoiro sobre cantos de berço para impartir num grupo de lactância. Grandemente agradecida pola proposta tou.
Foi assim que comecei a dar aulas de nanas atendendo ao poder da voz no útero e aos primeiros anos de vida duma criança.
Depois de tanta teoria chegou-me a prática e esta dixo-me que voz e movimento iam unidos como parelha de feito.
No processo de comunicaçom palavra-conteúdo, timbre, melodia e linguagem corporal formam o conglomerado para o entendimento.
É a linguagem corporal mais a melodia quem sobresae neste processo.
Durmir a Lua Auel depois dum ano três vezes ao dia fixo-me replantejar aquelas aulas, recolher, rectificar e mudar tantos pequechos detalhes e mais para uma nena que nom tem danado o sistema do Sentir. É Sentir em estado puro. Bem sabemos que socialmente as emoçons e os sentimentos se inibem na “vida normal” ou manipulam-se para a publicidade subliminal ou nom entram nos currículos educacionais. Mergulhar-se no planeta do Sentir ainda tá por chegar.
Ante este caso na casa e sem fundamentos racionais durmo a Lua de noite: Durmo a Lua abaneando-a em vibraçons corporais, a 2/4 a ¾ de mais a menos intensidade e velocidade. Apoiando-me muito no sentir da gravidade, pois tem uma luita interna com o sono como tantas crianças. Sentir a gravidade no corpo fai-na concentrar-se nele (creio). Durmo a Lua com cantos improvisados de palavras inventadas e melodias que lembram aborigens, ou indianos cantares que parecem chamar á água ou ao vento mais que ao sono. Durmo a Lua em voz grave cum poema de Avilês de Taramancos que musicou Servando Barreiro ou cuma letra que fixo Uxía para ela, à qual lhe puxem música a medida que ia fazendo os colos.
A sua posiçom no meu corpo foi variando, passamos de ter a cabeça caida de lado e as barrigas juntas sentindo as respiraçons a uma posiçom mais fetal para melhorar a sua espasticidade, sobretudo nos braços. A colocaçom de Lua no berce deve ser de lado com a chupeta bem agarrada e sem variar muito a posiçom corporal entre o meu corpo e a horizontalidade do colchom. Uma vez no berce, continuo o cantar e remato a acçom dando-lhe pequenas massagens ou “golpecinhos” no sacro, mantendo-a com certo movimento. Por último devo ter muita atençom ao roce das maos com as mantas. Uma vez que se relaxa tem as maos totalmente abertas e muito mais sensíveis, por isso é importante tapá-la delicadamente sem deixar de cantar até a saída do quarto.
Lua agora mesmo nom fai colecho. Som tantas as horas adicadas corporalmente a ela que precissamos um descanso e uma independência sanadora. A sua avoa dorme-a com meneios e passeios enquanto fai “chiss”, seu pai dorme-a bailando com música de R.E.M, a sua madrinha também com movimentos firmes e seguros… e assim vamos chamando ao senhor sono reparador, onde reseteia e recoloca o aprendido. Dorme toda a noite e nom a despertamos para comer, pois como di a sabedoria popular: mentres dorme, medra. Ela gasta muita energia no dia entre exercícios, rigidez, cólera, frustraçom e informaçom.
“A lua pensa que hai sol
debaixo do cobertor
calor da bela nai mariñá
e do lanzal pai bretón.
Que ten, ten música nas veas
que ven, ven de pisar a terra…
Que sente, sente a semente da guitarra
que sente, sente a voz da cigarra,
que sente, sente o difónico son…”
Letra de Uxía.
Deixo-vos esta peça porque é património galaico, bem interessante, e Lua relaxa-se muito o corpo com esta cançom, deixa o seu peso completamente. Pertence a Cantiga de berce. Cantigas da Terra. Estampas Coruñesas 1921- 1928:
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