Vários fôrom os temas tratados no “VI Congreso de Escritores/as Galegos/as: Para que(n) escribimos o futuro?“, celebrado em Ponte Vedra em 26 de setembro de 2015, todos eles propostos polas interessadas e participantes no evento. Como três eram as mesas de trabalho a que uma pessoa podia acudir, falarei das três em que me coubo participar.
A mesa de trabalho de “Dereitos de Autoría e Profesionalización”, comandada por Francisco Castro, tinha começado por interessantes considerações suas e por uma pormenorizada síntese das nefastas experiências com editoriais de Xavier Queipo, que valorizou a situação que habitualmente o escritor sofre a respeito da sua falta de proteção no sistema literário e particularmente face aos interesses editoriais. Mas se estes fôrom os conteúdos de partida, logo no encontro propiciado polo Congresso outras questões fôrom trazidas à mesa.
Maria Xosé Queizán, perante a precária situação das escritoras perguntava onde era o muro das lamentações, ao que Francisco Castro replicava que se quadrar lamentar-se não servia. Elena Gallego solicitava referências atualizadas sobre honorários e contratos e arguia a necessidade de formar um critério próprio à hora da estratégia.
Eladio Medel recomendava acordos não superiores a 5 anos para os contratos; pedia cuidado nos adiantamentos a conta; rejeitava os contratos em exclusiva; mostrava a necessidade de conhecermos a diferença entre reedição e reimpressão… Avertiu-se que os direitos habituais são até 10%, enquanto em Espanha são 7-8 %. María Xosé Queizán considerava estas cifras um roubo e algo estranho no sistema capitalista.
Anxo Farinha opinava que não se pode permitir que o único que não cobre seja o escritor. O profissionalismo dá-se ao cobrar. Para ele é necessário cobrar adiantamentos. Eduardo Estévez estimava que há que prescindir das perspetivas dos editores, porque a maioria abusam ou não cumprem; e que não temos um sistema literário a apoiar-nos.
Dixo-se que as tarifas não são realistas se se baseiam nas dos catalães. E que a Associação, embora exista uma grande necessidade, não pode assumir lavores de agente literário. Susana Sánchez estima que não há mercado, e que por isso temos é criá-lo. Muito polo contrário, Francisco Castro opina que há mercado, e valoriza positivamente que conste no contrato o fato de se tratar de um original galego traduzido.
Perante os discursos dos colegas da sala que começavam reconhecendo-se como profissionais de diversa índole, Gustavo Pernas afirmou ser dramaturgo, não advogado, ilustrador, informático, etc, como os companheiros que tinham intervido com antecedência, e que na discussão que nos ocupava havia um problema de referências; que os do teatro sempre defendêrom um caché e fôrom às vezes substituídos por recitais poéticos em que os recitadores não cobravam… Era, evidentemente, referência a uma espécie de “concorrência desleal” entre colegas, e isto trouxo-me à memória casos deste tipo acontecidos mesmo entre poetas ou leitoras de pregão festeiro. O caso dava para argumentar que só um trabalho em equipa, solidário e de carácter sindical podia fazer com que se forçasse os meios a pagar uns mínimos estipulados, mas a diversidade de critérios e interesses semelha fazer difícil a AELG se comportar como ou se converter num sindicato.
Sabela González estimou que as autoras devem sair ao mercado exterior como puderem. E Xosé Antonio Perozo lembrou que os agentes passárom de cobrar o 10% a cobrarem o 15%. Finalmente, valorizou-se a saída a outros mercados com a ajuda de uma hipotética agência literária, ou ao menos de um serviço de orientação para autor@s oferecido pola própria AELG.
No grupo de trabalho intitulado “Novas formas de edición”, comandado por Rosalia Fernández Rial, começamos mostrando interesse polas grandes mudanças que estão sofrer mesmo os gêneros literários, com o caso paradigmático dos romances que, sendo o gênero que sempre sustentou os outros, está a ver a sua própria crise. Considerou-se que a chegada do audiovisual, e nomeadamente das narrativas de ficção inseridas nos videojogos estão a deslocar a criatividade literária fora do quadro do produto de papel. Neste sentido, ressaltou-se a oportunidade que isto supõe para os criadores que se acharem em contextos propícios para a indústria audiovisual.
A seguir, comentárom-se os recentes dados que falavam em quedas de vendas de livro digital perante os ascensos das mesmas no âmbito do papel. Se bem semelhavam uma inversão da tendência dos últimos anos, descobrimos que os dados estavam, se calhar, manipulados: as vendas constatadas só tinham a ver com os livros registados no ISBN; sendo como é cada vez maior o número de livros digitais editados sem ISBN (a causa dos custos que recentemente produziu a privatização do serviço), a conclusão foi clara em favor da progressão ininterrupta do mercado do livro digital, porém ainda sem consolidar.
Em síntese final, considerárom-se os formatos impressos e digitais como complementares, e as autoras e autores como creador@s de conteúdos que podem empregar diversos meios para as suas manifestações literárias.
Por último, na mesa “Lusofonia como renovada oportunidade”, comandada por Carlos Quiroga, valorizou-se a aproximação aos referentes lusófonos para não ver-nos permanentemente acossados por uma espanholidade abafante ou usurpadora. A história recente das decisões institucionais em termos de normativa ortográfica fôrom rijamente criticadas, à luz dos preocupantes dados no uso atual da língua galega assim como da sua presença no ensino, nos meios e na administração.
Conscientes a maioria de que novos tempos são chegados, estimou-se positiva a lei nascida da ILP Paz Andrade e as obrigas institucionais ainda não cumpridas sobre a receção dos meios de comunicação portugueses na Galiza, e por enquanto estimou-se conveniente a promoção de uma estratégia conducente a uma tolerância gráfica necessária, por vezes existente mas quase sempre invisível ou desvalorizada. Neste sentido, ressaltou-se a falta de censura gráfica no seio da AELG, nos poucos prémios literários que apoiam a liberdade normativa, assim como nalgumas editoras e noutros escassos âmbitos de liberdade gráfica no quadro do nosso incipiente sistema literário.
Na mesma linha, decidiu-se solicitar à AELG que promova publicamente a tolerância gráfica que a caracteriza e que visibilize oportunamente a obra e as autoras lusógrafas que a integram.
Tudo isto aconteceu numa jornada, e muito mais que eu não pudem presenciar, num ambiente de camaradagem e vontade de refletirmos sobre os assuntos que mais preocupam os autores e autoras de hoje. Nunca deixarei de agradecer a iniciativa à AELG, porque sem dúvida nesta época de mudanças e incertezas é mais necessário do que nunca questionar o sistema e procurar alternativas para todo aquilo que, com certeza, ou nunca funcionou bem ou definitivamente não está a funcionar. E não estamos já para carregar com o que não funciona.
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