Foto de Nuno Mangas-Viegas, após leitura do poema de João Sousa
Ouviam-se pontos cintilantes
quando os olhos se cruzavam
em furiosa melancolia
espelhada em folhas cortantes
Os olhos diziam coisas graves
que pesavam em todos os membros
Unissem-se os pontos
e frases saltariam da folha
cortando os membros, partindo os óculos
furando as estrelas
penetrando o tempo
Um desenho tosco sobraria
um violento, ou nem tanto,
encosto no que vai cá dentro
um regresso ao que não sai de cá
uma aproximação à letra primordial
ao primeiro espelho
Da voz das árvores sabiam-se os sonhos
Os sonhos saiam da voz dos bosques
das florestas dos pomares
E a figura brilharia
quase sorrindo contra as nossas caras
dando razão à criança
na sua insensatez profética
E eu aqui
jurando lealdade ao palpável
ansiando pela segurança da matéria
fingindo um gosto pela ciência
falando de pessoas
traçando linhas
Eu, a minha maior prisão,
uno os ponto cintilantes
e adormeço em seguida.
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