Fotografias de Nuno Mangas Viegas.
apenas um salto, um pulo intuitivo,
da cama para o chão, contra a parede,
um despertar indesejado e um role
de rotinas opacas, como mecanismos do amanhecer
instalados prévia e cuidadosamente nas imensas
camadas cutâneas de um casaco, da roupa
que salta também e abre os estores
rasgando os olhos com feixes alvos
rápidos demais para serem filtrados
o olho pausa e pensa no passo seguinte
diz ao pé que poise, que amacie chão
que trace os sulcos que marcam caminhos de volta
na rua os outros pés cruzam fronteiras minuciosas
os estores ficaram abertos e os gatos esperam o sol
na rua todos os olhos gritavam pedindo o próximo café
movimentos mecânicos das mãos ao pegar numa escova
na rua o vento não passa, ruge
apenas um salto, de volta para a primeira caixa
os ossos saindo da pele, pousando-se nos sulcos,
espalhando o cheiro no chão macio
cruzam-se as pernas, arrumadas no canto da sala,
perto da cama os estores esticam-se na esteira
na linha só luzes tremelicantes ficam
abrilhantando faseadamente os pontos de luz que sobram
na rua não há palavras de alívio
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