Carolina Bataier
Café com Português
“Vamos sentando, tirem os sapatos, vou buscar um cafezinho”
É assim que a escritora Carolina Bataier inicia a entrevista ao Café com Português. Uma poesia jovem e fresca é o que propõe a nossa autora no seu primeiro poemário Pia Cheia (Editora Patuá, 2023). Por detrás deste belo título esconde-se uma coleção de poemas que mexe com a leitora e o leitor. Tive a oportunidade de conversar com a Carolina sobre o seu trabalho, a sua forma de escrever e os seus planos para o futuro.
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Bem-vinda, Carolina. É um prazer entrevistá-la.
Olá. Boas-vindas para quem nos lê. Eu agradeço a oportunidade de falar um pouco do meu trabalho. Vamos sentando, tirem os sapatos, vou buscar um cafezinho. Haha.
Antes de mais nada, fale-nos um pouco sobre você.
Bom. Eu tenho 38 anos e sou nascida em Duartina, uma cidade pequena do interior paulista. Eu acho importante começar pela minha idade e por onde eu venho, porque nossa geração e o nosso lugar de origem definem muita coisa sobre nós, né? Além disso, sou mãe, jornalista e escritora. Minha relação com a escrita começa na infância, eu sempre li muito e sempre tive vontade de escrever. Então, ao longo da vida, fui buscando caminhos para praticar a minha escrita. Primeiro, nos diários, aqueles de papel, onde a gente contava sobre as descobertas da adolescência. Depois, nos blogs. E, por fim, de um modo mais formal, estudando jornalismo e publicando livros.
Até agora, eu escrevi dois livros, um de crônicas, O pôr do sol dos astronautas, publicado em 2018 pela editora Letramento; e o Pia Cheia, de 2023, pela editora Patuá.
O que encontraremos em “Pia Cheia”? Como você pensou no título?
Pia Cheia é um livro de poemas muito livres. Livres de métrica, de rima, dessas coisas todas. São poemas que eu fiz para me divertir, para brincar com a escrita e para marcar o meu lugar na poesia. Antes dele, eu tinha medo de poesia, pensava que não dava conta, que não era pra mim. Então, em 2022, eu participei de uma residência literária on-line, e uma poeta muito danada, a Giselle Ribeiro, me provocou a brincar com as palavras. Fui criando uns poemas, encontrando meu jeito de escrever poesia e gostei. A Giselle assina a orelha desse livro. Durante a residência, eu estava grávida. Comecei a escrever poemas naquele momento e, como era uma fase de muita inspiração, porque eu me senti muito inspirada enquanto estava gerando uma nova vida, fui fazendo o rascunho do livro. Mas o livro mesmo nasceu depois da chegada da minha filha. Concluí a obra nos primeiros meses após o nascimento dela. Então, esse livro fala sobre maternidade, coragem, sobre ser mulher e, a partir de quem eu sou, eu também uso a palavra para recontar a história das minhas antepassadas, para brincar com a memória e homenagear minhas avós e bisavós. O título veio no fim, quando eu entendi que, para seguir me dedicando à escrita, de vez em quando as tarefas domésticas ficariam pendentes. A pia ficou cheia de louça para que as páginas em branco pudessem se encher de versos.
Conte-nos sobre seu estilo de escrita. Como você o definiria?
Eu não sei se consigo definir o estilo da minha escrita. Acho que é uma escrita do banal, do cotidiano, do ordinário e da memória. Eu escrevo olhando as coisas bestas do dia a dia ou pensando no passado. Não sei se isso é um estilo, mas é mais ou menos por aí.
Você segue algum ritual para criar seus poemas? Conte-nos um pouco sobre sua metodologia de escrita. Passatempos, rituais, horários?
CB: Eu gosto de anotar tudo. Sempre que uma ideia aparece, eu anoto em bloco de notas do celular ou no computador. Às vezes, no papel. Depois, vou lapidando, melhorando, transformando em poema.
O livro mostra o seu lado pessoal? Foi fácil para você tomar a decisão de publicar estes poemas?
O livro tem inspiração nas minhas vivências, mas ele é ficção. Eu gosto daquela frase do Manoel de Barros, “Noventa por cento do que escrevo é invenção. Só dez por cento é mentira”. No meu caso, acho que a mentira tá nuns 30%, porque eu sou meio mentirosa.
Você publicou o seu primeiro livro em 2018. Como foi a experiência?
Foi no susto! Risos. Eu sempre quis publicar um livro, mas parecia uma coisa muito distante. Eu nasci e cresci no interior, em cidades muito pequenas e meu contato com o universo literário sempre se resumiu às minhas visitas às bibliotecas públicas e das escolas. Eu não fazia ideia de como se publica um livro, até que vi, no Facebook, o anúncio de uma editora, que estava recebendo originais. Eu tinha algumas crônicas guardadas e muitas outras publicadas em um blog. Fiz uma curadoria, mandei para a editora e fui aceita. Daí bateu a insegurança e eu demorei quase um ano para enviar o arquivo final. Quando recebi os livros impressos, fiquei muito feliz, eu e um amigo abrimos um espumante! Agora, penso em uma segunda edição desse livro, O pôr do sol dos astronautas, com algumas correções e com novos textos. Se alguma editora se interessar, eu estou disponível.
Você tem predileção por algum dos poemas? E há alguma que seja especial para você?
Eu gosto do poema petit plaisir, porque acho ele safado, despretensioso e divertido. Não sei se é o preferido, mas gosto muito desse. Os poemas sobre minha avó e minha bisavó também são especiais para mim, porque eles são uma brincadeira, com invenção de passado e possibilidade de futuro.
Se você tivesse que definir brevemente os objetivos do seu trabalho, o que diria?
CB: O principal objetivo é ser lida. Depois, causar uns espantos em quem lê. Sabe, aquela coisa gostosa de quando a gente lê um texto que leva a gente pra outro lugar, ou faz a gente rir ou se sentir meio estranha? É isso que eu quero.
Você acha que a literatura é uma forma de exteriorizar – até mesmo expulsar – ideias ou emoções?
CB: Não necessariamente. Eu acho que a literatura é um trabalho, antes de ser válvula de escape ou qualquer coisa do tipo. A explosão de emoções pode acontecer, mas não é o objetivo, não é o foco.
Sempre tive a sensação, corrija-me se eu estiver errada, de que deve ser difícil publicar um livro. Como você conseguiu? Como é a relação escritor/editor?
Hoje, não é mais tão difícil. Tem muitas editoras independentes abrindo espaço para autoras e autores iniciantes. Com meus dois livros, foi assim. Há prós e contras nesse modo de publicação. Por se tratar de editoras independentes, a autora precisa ajudar na divulgação do livro, já que as editoras nem sempre têm condições de investir em propaganda ou de fazer grandes tiragens e mandar para livrarias. Além disso, algumas partes do processo podem precisar de uma atenção extra, como a revisão. É indicado que a autora pague pelo trabalho de revisão, embora as editoras façam a leitura do texto.
Conte-nos sobre seus planos futuros no campo literário, o que podemos esperar da escritora Carolina Bataier?
Eu quero finalizar um livro de contos. Tá quase pronto, falta melhorar alguns textos. Um tempo atrás, ele já tinha até nome, mas acho que vou mudar. Vamos ver. No mais, quero continuar escrevendo, espero que o cansaço da vida não me tire a dedicação para a escrita.
Para concluir, gostaria de compartilhar algumas palavras com as leitoras e os leitores?
Agradeço a leitura. Continuem lendo. A literatura independente precisa de vocês.
Muito obrigada pelo seu tempo, Carolina! Muito sucesso. “Pia Cheia” está disponível aqui. E, claro, incentivo a segui-la nas redes sociais para conhecer melhor a escritora no Ig e no seu blogue.
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Como escrever um poema
A pena que você gostaria de
mergulhar no tinteiro
use para fazer cócegas
nas palavras.
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Notas:
Os poemas de Pia Cheia não devem ser levados a sério. Tudo ali é desejo de brincar com as palavras, criar cenas saborosas e reinventar o passado.
Carolina Bataier nasceu em 1985. É escritora, jornalista, mãe e apreciadora da vida sem pressa. É autora dos livros Pia Cheia (poesia, editora Patuá, 2023) e O pôr do sol dos astronautas (crônicas, editora Letramento, 2018). É mestra em mídia e tecnologia pela UNESP (Universidade Estadual Paulista), trabalha como repórter e tem textos publicados em revistas e portais de relevância nacional.
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