Sou do tipo que se sente mal quando fico sem poder ler, mas se quer me fazer parar basta pedir pra eu ler algum livro que o Vagner, o Vagnão do Sarau da Brasa, me emprestou.
Não é de hoje que a gente conversa sobre literatura, recita por aí, lê as prosas um do outro, mas peguei uma mania feia de não ler seus empréstimos. Pensava que era pela falta de interesse em ler os Bukowski que ele me indicou e que devolvi na maior dignidade, dizendo que não li. Só que essa semana organizando a estante, me deparei com alguns do Ondjaki, Mia Couto, Emmanuel Dongala e Pepetela (até o Pepetela!) e vi que eram livros do Vagnão. São obras que sempre ameaço pegar, mas deixo na fila, e fiquei me perguntando: Porque diacho não leio esses livros?
Pensei no complexo do livro emprestado e tenho alguns palpites:
1º) Acho que o Vagner já leu esses títulos e como sempre lê algo diferente, não precisa revistar essas páginas com urgência.
2º) Imagino que ele esteja com alguns livros meus na casa dele, que nunca leu ou não pretende devolver e isso me faz relaxar e ser vingativo.
3º) Meu camarada deve ter lá suas dúvidas se sou um leitor, ou um picareta que mais escreve que lê.
4º) Tenho que devolver os livros do Allan da Rosa e da Érica Peçanha, que já li, pra eles não pensarem o mesmo.
5º) O palpite anterior prova que só não leio os livros do Vagnão.
6º) Certeza que mais alguém vai ler esse texto e me cobrar algum livro.
7º) Se alguém está com algum livro meu, considere o perdão e devolva!
E antes que o Vagner confirme uma dessas máximas e me ligue pedindo o que é seu, vou separar o Pepetela pra ler e, se tudo correr bem, em poucas semanas deixo de perseguição com meu amigo.
A não ser que eu possa ficar com os livros mais um pouquinho, porque comecei um da Chimamanda esses dias e na paralela tenho lido a primeira parte do Engenhoso Fidalgo D. Quixote de la Mancha, que a cada página fico lembrando da risada do Sergio Vaz, vai vendo. Enfim, já tô enrolando aqui, querendo mudar de assunto, mas será que é tranquilo ficar com seus livros só mais um pouquinho Vagnão? Você aceita esse literário pedido de desculpas ou sem chance?
NOTA DA PALAVRA COMUM: a fotografia do autor é de Sonia Bischain.
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