O Patriota
Eles uniram-se há milénios
para dividir-te.
Os senhores escuros
tentam controlar todo teu mundo,
através da utilização dos poderes
que tu ingenuamente acreditas
abençoados foram
para fazer regressar a justiça.
Hoje manipulam ao Patriota
como ontem fizeram com Internacionalista
E o Patriota chega depois de tu depositar
todas tuas ânsias escassas na urna bem corrompida.
E o patriota entrega todos os haveres
da pátria que sonhas mais livre,
aqueles que lhe deram a bênção para governar em teu sitio.
E o patriota regala vossa energia, vossas mais valias,
dando-lhe o controle da nação,
a grupos de inversão espúria, sediados longe,
muito longe da tua visa, onde em realidade se joga
esta violenta partida.
E o patriota doma e dona tuas florestas
a empresas mineiras preenchidas de insaciável avareza;
e o patriota desmiola das suas casas
aqueles teus vizinhos mas precarizados de miséria,
quebrando as mínimas garantias salariais
e todos os “obsoletos” trabalhistas convénios.
Finalmente ele regala o Banco Central, o ouro, a moeda
e decisão definitiva àquelas escuras, inominadas famílias.
Depois o patriota promete lindas guerras,
para aliviar o cansaço, sem fervor adormecido,
contra a ingerência continua do espertinho comunista,
do colossal Golias fardado de ingerência imperialista.
E tantos e tão bem organizados são
os externos e internos bandidos,
que o patriota começa a retirar nossas liberdades
da rua, em troca duma segurança maior,
no tempo bem diluída, que nunca chega a tua morada,
por causa de tu viver sempre fora do magico círculo.
Não entanto, não importa, nada agora mesmo importa,
a ele por ser teu senhor, nem a ti por ser seu súbdito,
nem ao teu bem amado camarada de ofício;
pois não deves esquecer que ele te dou-o alivio
em forma duma linda bandeira, fardada na linha das praias
promiscuas,
e de todas as desilusões, pela rádio, mal vestidas,
na TV mal vendidas.
Uma bandeira é o melhor, uma bandeira equivale a uma vida.
Uma bandeira pintada na capa do livro,
na toalha da mesa, junto ao retrato familiar na cozinha
que pode valer de apelo ao vosso imenso sacrifício:
os povos são assim se entregam se dás bom serviço
e se não fores serviçal, entregar-se-ão por desígnio.
A Bandeira, nada mais tem agora importância,
nem sequer a falta de comida:
pois em trocas ele nos entregou
um pano hipnotizante na mesa de cabeceira detido,
ao lado do altar familiar, junto aos livros de oração
ontem proibidos.
Pois o patriota falou sempre
do amor que os seus filhos lhe devem aquele hino,
àquelas cores da bandeira e aqueles que nos dirigem
com o maior dos honores outorgados por eles mesmos.
Assim o patriota patrícia sua ética
a conta da tu entrega no compromisso.
Ele arrecada milhões, transfere de conta a conta
bancariamente tua alegria,
enquanto tu ficas, a cada dia, mais pobre e encolhido
os amigos do patriota
medram e medram sem nenhum perigo,
o dinheiro por eles tesourado é para o formoso objetivo
da pátria objetivar em torno dos pátrios símbolos
que nunca jamais, no teu leito ao erguer, se concretizam.
E o patriota fala para tu saber qual tem de ser teu discurso.
Ele fala no púlpito da tu igreja
por boca dos Padres, que te estimulam todos os domingos.
Fala na sala da escola, nas aulas da maçonaria,
enquanto nos obriga a denunciar, a cada um de nós,
aos infiltrados inimigos,
que sempre teimam acochar-se, muito perto dos nossos filhos.
Por isso preciso o patriota criar guerras na tua contorna pacifica,
a favor dos senhores cujo nome ninguém, já de cor, pronuncia.
E finalmente desolada toda nação,
arrasadas as convivências vizinhas,
os povos com imenso suor, lágrima e sangue vertido
tem de expulsar os patriotas
do mesmo trono que ontem lhe entregaram submissos.
Finalmente já não queres saber mais de pátria, da terra, do hino,
pânico a ver a bandeira, perto da tua bota, rendida…
Para finalmente entregar todas tuas esperanças perdidas em favor
duma governança global, com anterioridade, bem estabelecida,
que evite matanças nas fronteiras, nos valados antigos.
Já vês o patriota que ia impedir
o governo mundial dos senhores escuros,
deu-lhe a chave, sem ele saber ou sabendo,
para comandar todas nossas vidas.
E agora tu, voltas ser enganado, atrelado de novo ao poder dos ocultos.
Ate que aprendas a lição de que o problema não é pátria,
nem o pano de fundo, nem sequer o governo mundial,
ou o destino do homem quando a mulher for livre;
nem a camisola do homossexual, nem a dor menstrual das feministas,
nem do jovem que quer encontrar neste enredo social seu sitio.
Nem do liberal, social-democrata, nem sequer do comunista.
O problema é quem vai a governar no real a paixão do nosso umbigo,
quem tem verdadeiramente o poder, de nós sempre escondido.
Quem governa e para quem, com que ajudas e sentido.
O problema é que tu aceitas ser, por eles, sempre dividido.
Enquanto quebram à humanidade em género, ideias, arquétipos…
Todo em suas mãos continua, permutando o continente
jamais o improvo conteúdo.
Dai terás de entender esta bela narrativa:
o patriota foi outro belo conto a maiores,
para eles continuar legalmente permitidos
(por causa da nossa inconsciência,
habilmente em relatos entretida),
por um século ou um milénio mais, para exercer sua tirania…
*
Foto: Artur Alonso Novelhe
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