Para que serve a filosofia?
(Notas para uma Nova Crítica da Economia Política)
Hoje me pergunto, amigo, para que serve tanta cousa
para que serve o mundo, simplesmente,
pergunto qual o serviço desta vida
de armas e de tanques
de escolas e de grades
de sistemas políticos
de ideólogos e génios
para que servem os discursos
as cátedras e os palácios
as virtudes
e as ruínas
para que servem, eu pergunto,
os gestos mecânicos, as palavras vazias
as leis corruptas e as incorruptas
as proclamações de paz
as proclamações de guerras
os sistemas económicos
as matemáticas os médicos
para que servem?
os políticos honestos e os desonestos
os professores
simplesmente: para que servem?
Ainda mais: para que serve o universo
e a vida e a morte
para que um velho sábio
e a lua solitária
e o pássaro
e o sorriso da criança
e o encanto da noiva namorada
para que servem?
Para que os lírios dos campos
a brisa da noite nos amantes
para que tu
e eu
para que este poema
para que a voz
e a palavra
e os olhos
(sempre me lembro dos teus olhos!)
E o amor
e a sabedoria
E o amor
e a sabedoria
E o amor
e a sabedoria
Diz lá, meu amigo,
para que servem?
….
E este poema que parecia morrer
recomeça aqui
e continua uma divagação obscura pois…
…pode vir o professor
com arte pedagógica e discreta
e assim fazer a pergunta mais precisa:
A pergunta não é correta
a pergunta deve ser:
A quem serve a filosofia?
e os guindastes e as portas automáticas
os vândalos e os suíços
as pedras dos sapatos
a quem serve o quartzo
e o feldspato
e a mica
a quem servem os títulos
e as artes
as máquinas e as canetas
os sábados
as prostitutas e os proxenetas
a quem servem
os inúteis e os úteis
e os fúteis
e as horas do futebol
e a farola e o barco
e a onda do mar de Vigo
a quem servem, diz lá!
meu amigo
Na verdade
eu sei muito pouco de economia
sem jeito pra o negócio
lanço palavras ao vento
sou um poeta um ser inservível
uma nulidade andante
um filósofo de circo
um acrobata
e olho para as estrelas
e ás crianças pintadas
nos bairros da lata
e aos índios da mata
E os teus olhos
(sempre me lembro dos teus olhos!)
amêndoas negras
num mundo de prata
que ninguém pode comprar
vêm a mi
homem de zeros e uns
Nada ao serviço de Tudo
Tudo ao serviço de Nada
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