Poema de Amor em Três Actos
… ESSE POEMA É VOSSA SANGA, VOSSA TIGELA, VOSSO MORINGUE… 1 … mulher na presença de uma bananeira ausente … vejo-te pedra em tua continuada cor de ausência … todas as altitudes da quarta lágrima latitudes … circulam em si inventadas cidades amanhecendo aldeias, sanzalas e matos … sem poder acreditar nos volteios dos veículos desta sólida noite … olhares de sua permanente manhã … nas sombras da matéria desta construção … movimentam-se outros corpos da cidade, da aldeia, da sanzala, do mato tomados pelo quarto gole … o café indeciso dia quieto nas torres palavras de tuas pedras a água do chefe … sujos olhos de estrelas a celênia, o celeiro … vi-te pedra em tua continuada cor de ausência … 2 … enquanto essa dança o mar em silencio himba era o murmúrio de um rio ao falar … atravesso a fronteira uma floresta de imagens aquela imbala de calor seco … vukula oh meso … os meus olhos também os herero de rupestres sentidos … o deserto se desenha a criança que junto cresce aqui o tombwa … não se trata de um bosque em pé, nem sentado … as vozes deixadas trazem leves enxurradas as liquidas texturas do deserto neste ambiente de oxigénio zero como cifra … sem chuvas aquelas árvores altíssimas forradas por sedimentos de sílica … com vozes estridentes das mulheres … as madeiras foram mineralizadas … contrastando com os sons graves dos homens … de floresta os esqueletos à floresta as dunas ao mar as danças … 3 … essas de tanta força brava desenham-se … as sedas de seus lábios jardins de tanto silêncio … nos dias de hoje chega ao sol, eh sisa, o capim, o arbusto … o mar de músculos rijos detalhes os regatos serpenteantes suores e espermas … ondeada a enxada abria meus olhos em pastos menores … às quatro da tarde meu quarto só dizia em pau a pique a casa, coberta, cobertores, lençóis … a certo tempo um beijo meus cinco anos… vez ou outra meus olhos sentidos mokenesa … os laranjais, o tata, o jaja, o palmar, o loge, o vele nkodya dya mpangu … vez ou outra meus olhos: o tubo do kilugeiro… ainda descem os morros em força brava … POR ISSO BEBAM DAÍ
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(Abreu Castelo Vieira dos Paxe) – Abreu Paxe. Poeta, Ensaísta, Performer e Professor. Doutor em Comunicação e Semiótica pela (PUC-SP). É autor dos livros; A Chave no Repouso da Porta, Inald (2003) e o Vento Fede de Luz, UEA, (2007). Membro da União dos Escritores Angolanos (UEA), na qual é, actualmente, Director do Centro de Estudos Literários Angolanos (CELA), entre outras funções de direcção aí exercidas.