Nestes días chegou polo correo ordinario, agora case extraordinario, o novo número da revista Saudade, esa revista portuguesa dirixida e redixida por amigos que muito aprezamos. Entre portugueses, brasileiros, españois e gregos, para alén de Xosé Lois García, un habitual da publicación, tres galegos colaboradores d’ O levantador de minas participamos neste número. Eis os nosos poemas:
AUTORRETRATO
De existir o vento
levaría o cabelo longo sobre os ombros.
De existir a chuvia
as bágoas derivarían por unha face tersa.
De existir os ósos
seguiría as túas pegadas pola terra
e no movemento
o meu corpo acharía unha posición exacta.
Algo está a faltar e non lle atopo nome.
Como designar un arrecendo cálido
de palmas simétricas.
De existir o tempo
dedicaría a cantar a vida enteira.
E aínda agora me pregunto
canto frío son capaz de atesourar.
Tati Mancebo
CORPO TRANSFORMADO
Ao Nacho Baamonde, pelo seu Ígnis.
Ao Levantador de Minas.
Sábio e inocente. obscuro ainda para
Este caminhar entre ruas de outro tempo,
Na cidade em que ninguém nasce,
Estou pronto para abrir a vida ao meio,
E navegar dentro dela à procura do que
Ainda está por se queimar na minha boca.
Serei, por fim, o teu amante sereno,
Como o vinho a se derramar pelo corpo,
Dentro e fora do mapa infinito em que
Chega a minha fome a se facer poema,
Ou casa para a minha mudança, precisa,
Em olho multiplicado sobre o universo.
Ramiro Torres
Ó CORPO QUE ME FOSTE ENTREGUE POR UM CORPO DORIDO
Ó corpo que me foste entregue
por um corpo dorido,
só es terra, lágrimas e sangue
que alimentam um grão de milho.
Hás de fundar-te em mim como ruína
que minha alma sepulte,
e nada queiras ser desde esse dia
senão a mala de mais uma viagem.
Então dançarei com as pedras minhas
em círculos vagos, hierofanias
ocultas restabelecerão
nas prisões tavernas
nos betões flores acessas.
Corpo que a dor trazes
de todas as partes do mundo,
portarás às costas a verdade avulsa,
farol de amor sobre uma torre de carne.
Uma brisa nova tocará tua pele
de animal renascido,
teus bigodes felinos vibrarão
no amanhecer dos sentidos
que um novo mundo percebem
transmutados, humanos,
para sempre de tristeza feridos.
À espera —sentinela perpétua—
do pranto mercurial aguardarei o sinal
que me há-de transportar
sobre a terra e o mar
—criança sorridente—
sob o sol, adormecido.
Alfredo Ferreiro
More from Alfredo Ferreiro
Premios Xerais 2017: equipo de comunicación
Unha galería de fotos tiradas por Tiago Alves Costa & Alfredo Ferreiro, saíndo do porto de Cesantes (Redondela) e traballando …
O centro do mundo | Alfredo J. Ferreiro
Os tempos son duros, e as sensibilidades, inevitabelmente vanse mudando. Deste modo hai sucesos que antes, nun outro marco de …