Co título Sobre “La lámpara maravillosa” de Valle-Inclán, ofreceu Ernesto Vázquez neste Entroido unha nova entrega da súa famosa serie de intervencións De Cânones e Canões, para o Portal Galego da Língua. Nesta ocasión atreveuse cunha obra de Valle de declarado fundamento esotérico, en que este autor demostra ser coñecedor das principais tradicións gnósticas peninsulares:
“Amemos la tradición, pero en su esencia, y procurando descifrarla como un enigma que guarda el secreto del Porvenir. Yo para mi ordenación tengo como precepto no ser histórico ni actual, pero saber oir la flauta griega. Cuanto más lejana es la ascendencia hay más espacio ganado al porvenir. La rosa se deshoja a poco de nacer, y para nuestras ilusiones el cristal no nace ni muere. El Arte es bello porque suma en las formas actuales evocaciones antiguas, y sacude la cadena de los siglos, haciendo palpitar ritmos eternos, de amor y armonía.
[…] Peregrino sin destino, hermano: ama todas las cosas en la luz del día, y convertirás la negra carne del mundo en el áureo símbolo de la piedra del sabio”.
Mais non se pára Ernesto na esencia espiritual da obra, aspecto que para el non semella constituir o verdadeiro obxectivo de Valle. De facto da a entender en diversas ocasións que a seriedade do autor sobre estes temas só pode ser falsa, e portanto unha actitude burlesca ha de existir baixo o disfarce de sacerdote das Grandes Letras. Porén alguns de nós, portadores dunha sensibilidade mais que tradicional arcaica, ou até prehistórica, queremos tomar a serio estas pretensións de anténtica pedagoxía gnóstica, o que fai que nos sintamos abrumados por un discurso directo que ofrece unhas lizóns de esoterismo esencial e facto literario, tema sobre o que intuímos máis do que sabemos, polo que haberemos de falar con tento.
Noutra liña, portanto, Ernesto debulla o seu ben amoblado pensamento sobre a época de Valle e anteriores para deseñar un encaixe reflexivo de primeira orde. É por isto que non fomos capaces de simplemente remeter os lectores d’O levantador para o suporte de orixe, e quixemos apropiar-nos ainda máis dos ben armados argumentos que Ernesto é capaz de edificar. Así, atrevémonos a reproducir aquí a parte final do traballo coa seguranza de que moitas liñas de reflexión poden ser suscitadas nos nosos lectores:
«[…] Seja o que for realmente, “La lámpara” é uma declaração de soberania estética de Valle. Desde Galiza, mas sem o galego. A tradição do discurso literário, das crenças também políticas das elites da Galiza antiga: em Espanha, mas contra a Espanha literária, religiosa e política que querem fazer as elites espanholas. Um caminho que a experiência tem demostrado onde leva: a destruição da Galiza cultural e da sua originalidade.
Mas a “Lámpara” tem para mim uma chave mais, é um farol que permite fixar-nos num salto possível para o futuro com a tradição. Até agora estamos repetindo ciclos já velhos, de jeito individual, geração e geração nos últimos dous séculos. Não podemos romper com a tradição para inovar, pois seica não temos tradição contra e desde a que inovar (realmente não a vemos).
Os mais políticos têm pretendido criar uma tradição (uma língua) e um projeto nacional para mais adiante agir contra e desde ele. Mas não há tempo nem forças. A integração no sistema espanhol castelhano é evidente e histórica, mas é à vez incómoda neste projeto nacionalizador (que prescinde dela e nega-no-la como parte central da tradição). O agachar de forma continuada apertença cultural a Espanha é um dos maiores problemas à hora de compreender parte do discurso literário galego histórico e moderno. Pois, a literatura galega existe a várias vozes (nalgum caso como Rosalia que dialoga a través dum jogo complexo aBBa que lhe dá um sentido de conjunto).
O desocupado leitor agora mesmo estará a sofrer e a pensar em me dizer: Não!, Ernesto, aí já não! Para onde vas que te despenhas! Ainda e sendo entrudo, Não! Mas, caro leitor, isto é deste jeito. Mas, não só. A nossa cultura faz parte de duas tradições: numa quer integrar-se, mas com uma independência impossível. Na outra, para a que não olha continuadamente, faz parte troncal. Pois, as “formas” que escrevem em paralelo ao sistema literário do castelhano dialogam com as “formas” da parte central da tradição literária portuguesa também agachada. E com o português dialogam tanto através das manifestações próprias da erudição galega como das da literatura popular.
No XIX, nas asas do romantismo nacionalista e folclórico o que se produz é uma fusão lógica (e explosiva) das duas ponlas da cultura galega que se retroalimentam e criam um espaço de rotura inexistente, um novo caminho na soberania, mas que permanecem por causas políticas e históricas (e retrotraem em audácia desde 1875) nesse ir onde não e nesse não ir onde sim. O Rexurdimento é o primeiro passo consciente de uma realidade antiga e de um coletivo vivo que ainda está. Defesa, como efeito da pressão do nacionalismo espanhol. Uma de tantas reagrupações ao longo dos últimos séculos. Cada vez estou mais certo que a soberania estética da Galiza, que é o que cá propõe Valle para ele (ocultando que é a forma do colectivo), é mui antiga, sejam os textos escritos em latim, castelhano, mistura ou galego dialectal. E o que está a acontecer agora é que ainda que aparentemente estejamos a ganhar soberania e uso do galego culto, estamos perdendo. Pois, a soberania não é uma cousa que se inicie no XIX.
Quando no Rexurdimento começam a cantar os grandes mestres fazem com uma voz madura e independente, carregada de liberalismo, latines humanistas, com destacada francofilia e muito mais próxima (reinterpretada) do pensamento filosófico e literário de Portugal de fins do XIX (clássico e minhoto dos Camilos, Anthero e Eça) do que se quer acreditar. Compreender isto permite entender e ampliar o conjunto, estabelecer os diálogos, fixar as cronologias, as continuidades, as metáforas, permite também entender o percurso cultural e político de Galiza com lógica. À vez que, precisamente, achega o argumento mais sólido para uma possível virada de rumo. Sair da contracorrente (Espanha) que nos encerra a prol de águas mais tranqüilas, onde a corrente tira ao nosso favor (Lusofonia) para mares nunca dantes navegados.
E se há alguém em que essas tradições e linhas se reúnem é em Valle-Inclan. E desde ele também se entende melhor e como continuidade o polifacetismo elegante, subtil, popularista, lírico, prosaico e erudito de um Ferrin, de um Josê Afonso ou de um Caetano Veloso. Deste conjunto complexo é de onde vai surdir, in crescendo o estilo poderoso e arrebatado de prosa enlouquecida e humor do Valle maduro: o esperpento como visão realista do mundo. A tentativa de reinventar o castelhano ao jeito galego.
Desde esta “Lámpara” filtra-se ao acaso, mas mui envenenador de ouvidos castelhanos, o saber inteiro de Valle, alta erudição e anedota significante a travês da palavra. Nada tem desperdício, como num cocho. Nem as tripas, nem os ossos, nem o ritmo, nem a metáfora. Toda a obra merece a pena. Leitura estética, simbólica, profunda. Mágoa não haver no seu tempo mais esperança na sua própria língua, na única em que se pode atingir e compreender a empresa e tentativa de capitão façanhoso de nobre linhagem galega. Mas, a idéia é boa. É total. Útil, pois nisso estamos ainda, criando uma língua nova. Eu entendo pois, como Murguia, que -contra ele e os seus- Valle é um dos nossos.
Que “La lámpara Maravilhosa” é à vez uma brincadeira festiva, e declaração desesperada e orgulhosa em forma de garrafa ao mar. Mensagem parabólica e espermática cara a matriz do futuro de um mundo que ainda -nisso foi mal profeta- não se perdeu de tudo. Isso enxergo, apenas na tona. Pois, como adoito, a verdade mais oculta está na superfície. Ainda que Valle chegue até ler no “Guia espiritual” (1675 ) daquele Miguel de Molinos, condenado por hereje e teórico do Quietismo (uma falsa mística), ainda que fale de Taboas esmeraldas, de arcanos e monstros bizantinos, de velhas cegas como Homero, de pecados e paixões apetecíveis, de Feijó, G.W. Leibniz é de certo de Erasmo (cuja “Moria” é um texto de poderosa atração para o humanismo galego), ainda que se arraste e chore e peregrine galhofo para nos suplicar perdão e compaixão faz tudo apenas para citar mal Paulo, despistar e cimentar, nesse pacto com ele próprio apenas, mas também com a memória coletiva. Ironias educativas, magistério conversador que nos lega sem querer à vez que se nos quer impor como mestre de sabedoria.
É a nossa obriga, porém pensar por conta própria, escolmar a mensagem, estar atentos e atender com quem estamos a falar: com o mesmíssimo Long John Silver, também cavaleiro de fortuna, mestre canalha e falto de parte:
“La ciencia de las escuelas es vana, crasa y difusa como todo aquello que puede ser cifrado en voces y puesto en escrituras. El más sutil enlace de palabras es como un camino de orugas que se desenvuelven ateridas bajo un rayo de sol. Hermano peregrinante, que llevas una estrella en la frente, cuando llegues a la puerta dorada arrodíllate y medita sobre las palabras de san Pablo: Si quis inter vos videtur sapiens esse, stultus fiat, ut sit sapiens.
Ronca-lhe a ironia, na pena dum erudito plagiador e falsificador como poucos: “Se algum quer ser sábio, seja ignorante para ser sábio”. E diria eu: o que queira ser sábio seja por si próprio, pois será néscio se imita o caminho de outros sábios.»
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