A Nela Abella. Voz.
Aboia o horizonte entre as ondas da brêtema.
Pousa o Outono nos cabelos um segredo antigo.
Nasce o dia pausado do amieiro.
Entre as mãos, nasce o rio.
Nascem a memória, o lume e o sentir.
A manhãzinha é um mundo por criar
com ternuras de colo e cantigas ledas.
Retorno à fé da terra sem caminhos,
lajes lavradas pola chuva e o vagar,
acorda então a entranha e dói o dia.
Medro passos na lembrança.
Palpita a vida de areia e de neónio;
respiro rechouchio e poluição,
autoestradas e ourego, betume e pranto,
verdor e fogo, carícia e lama,
fome e calor, indústria e arcos.
Volta a intimidade e revolta a ferida,
o loureiro e a buzina, o esplendor,
os ventres colmados e a tristeza,
o ruído e o metal, a fervença e o dom.
Dissonâncias das vidas e as histórias.
Quem arrincou o ferro e perturbou
o sono da pedra sobre o tempo?
Por que afogou o som da água
e o carvalho velho assulagou
dias de sombra e sonho vivos?
Quem quer matar o silêncio da campia
e prender a cinza com o sol?
Entre os braços das nuvens
as feridas são fechadas com luz.
Salmodiam as fontes,
pintam aves,
e treme um remanso no sentir.
Volta o canto a moldar
a paz da estirpe.
Na espiral do amor tudo é possível.
(De Memória de Nós)
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