[Grupo de cavalheiros: X; Y; Z e W, desprexuizadamente à mesa de um café.]
X: A mulher nasce e com que nasce? Vive?
Y: A teia que a lacra, velamento, fá-la esperar.
X: E a lexislación?
Y: Que a rasguem. Por um aguilhão erecto, endurecido.
Z: E que a deixe a gotejar.
X: Oh! É esperado como afecção de uma conduta de pureza, honor matrimonii.
Z: O sangue dá garantia incontornável.
X: É tinta perene, mais ríxida, para caligrafiar carnalmente.
Y: Um testemunho de comportamento sem latejar.
Z: Correctíssimo.
W: A pele encerra-a na esterilidade. É a castração uniforme.
X: Gozo de farda livre de manchas.
Y: De enfardar.
X: De follar até encher a pança, impregnar.
Z: Qual o trajecto mais curto para o pénis arrastar-se como lagarta e aliviar os rins?
X: Primeiro sentes que há um véu que não te deixa meter o nariz.
Y: Empurras e lastimas não usares antes a vara de um chuço.
Z: Pasma-se por não ser logo rompido.
W: Como se corta o cordão ao nascer.
Z: A tua faca corta sem as tuas mãos a agarrar.
Y: Isso garante que triunfaste a penetrar.
X: E te regozijas com a proeza do sangue deslindada.
Y: A sua cor atazanada ou sedosa?
X: De estandarte.
W: Bem podes peregrinar agitando o coração sagrado.
X: Baloiçar as lágrimas esventradas, nascidas da candura.
Y: Quebrada.
X: E entenderes como se parecem com bagas de romã.
W: Vais guardar o lençol no relicário.
Z: O odor será confundido com o do mênstruo.
Y: Coalhado, a cor esbate-se.
W: Mas é o galardão da virilidade.
Z: A perda da Graça.
X: A porta estreita fica escancarada para o desexo sexual.
Y: Sem ferrolho.
X: Para venerar, ai mia filha.
Z: Colapsar.
Y: Tens, Y., uma ideia antiquada. Já não é o que era.
X: Se plantares heras gostarão do lar? De lavar cada peúga, catar, cozinhar, obrigatoriamente fornicar?
Y: Já não será assim exactamente.
X: Há os que as compensam penteando o tufo e acariciando a nádega.
W: Que grosseria! A dor doméstica será compensada pelo amor que contém. A eclosão do hímen que a selava… Se não voltar o cinto de fechadura que tranquilize o esposo.
Z: Não será diferente da violação de um contendor num porto.
Y: De qualquer modo, é entendido como equivalente ao arrombamento de um contentor. Há sempre um asno que escoiceia à bruta. Algum facilitísmo.
W: Mais razoável seria vê-lo como cordão umbilical e resolver à nascença.
Z: Porque é sempre um ato de apedrejamento.
W: Por mais que seja embrulhado candidamente em celofane amorosa é humilhante.
X: Cria mal-estar en meu coraçon. É de uma ferocidade que anuncia o que lá vem com a continuação.
Y: O Homem recebeu de Deus a chave e abre e fecha o Paraíso.
W: E expulsa-os para o mundo imundo com condenação perpétua.
X: Rompe simplesmente a ideia que a mulher é uma borboleta.
Y: Podes amenizar dizendo que rompeu a asa da borboleta mas que agora é um corpo todo para se borboletar.
X: Todo o semblante vai enegrecer, enrugar, perder encanto com os anos.
Y: Prazo de validade!? Que dizes?
X: Coro de mulleres.
Y: O homem preserva a Honra.
X: Ahah! Julgamento com Autoridade.
Z: A abnegação. A Ordem. Outros tempos…
W: No mesmo Tempo há vários tempos. Vocês vivem em que século?
Y: Todas e todos lutam pela sobrevivência: no vão de escada, na tenda de migrantes, num aterro, numa lixeira.
W: Ao céu nunca o viram celestial. Nem se lastimam. Violadas. Fome. Doença. Soterram-nas em submissão. Estão soterradas.
W: No subsolo!? Estão é descalças na calçada.
Z: Calcetadas. Mulheres submersas, submerda.
Y: A europeia, tem mais Europa e menos rapto. Na contramão há tensões no campo social. Cada dia de subúrbio é um punhado de terra nas suas bocas.
Y: Extenuam-se umas, outras são encurraladas na domesticidade. Há crime vingativo, violência. Há preces?! Há desesperança.
Z: Varia consoante o grau de dependência que se forja. Se assalariadas ganham autonomia, afirmam-se.
X: Será? Ou estão bem e vivem de mansinho ou vivem mal como marxinais da rúa.
Y: Nada é assim como no xadrez.
Z: E o assédio? E a exaustão que castra? É comum.
X: A servidão mascarada de …liberación.
W: Há quantos séculos prevalece a Idade [baixa a voz]… do esperma?
Z: Não há feminismo que não calce sapatos de machismo. Admite que a sexualidade não é uma norma, mas um enigma sem solução correcta à vista. O que é tormento para um [respira fundo] é prazer para o parceiro.
X: Non é estraño, mas a conversa começou pelo hímen ou tímpano?
Y: Tens orelhas grandes, mas para que servirão sem o tímpano? Pelo contrário, o hímen esburacado facilita muito.
Z: : Coloca um hífen e liga-o à mutilação genital.
W: O hímen é a lâmina a lacrar a pálpebra, a cegá-la, a entregá-la em súplica.
Z: Como caixa de conserva, de folheta, para a pixa misquinha.
W: Para o intruso animalesco que procede de modo semelhante aos semelhantes que têm esse modo de proceder.
Y: Plasticiza a mãozinha da criança.
W: É lâmina a ferir de dentro. Repugnante, de qualquer modo.
Z: Não confundas com estupro.
W: Porque é estupro!
X: Não consentiu? Ele persuadiu. Lê lá o que escrevem nas sentenças.
Y: A esfregar, a estridular, sim, o som agudo e vibrante a sair de flauta num lindo conto de foda. Na violação acaba por ser menor atrocidade. Apunhala pela penetração pérfida, sem a consentir, não se criminaliza a si própria. Foi forçada a.
Z: Esses processos de manipulação que usa o viril.
X: A engolir, a digerir, a comer dessa carne noites inteiras e a seguir vomitá-la para o circo dos amiguíssimos.
Y: Carne de orelhas roxas.
X: A Virxe cura? Há pétalas rosa, as de vulva florida! Plantas rasteiras que mais se parecem a orelhas com cera.
Z: Um véu rendilhado que cobre a vida inteira e que quebramos desenfreadamente para …
Y: Entristecer a vida de purgação Moral para sobreviver.
X: Em procissão de melodrama, a misoxinia irá fabricar a prole.
Y: Mas ele pagava tristemente às putas, seria por timidez?
X: Não se gaba de impotência, apesar da promiscuidade. Esses apregoam presunçosos que as recusam com inxurias.
Z: Não mais do que a traça que entrega o seu esperma, como empregado de pizzaria, numa caixa.
Y: Ahah, depois de muita oralidade.
Z: Traças e carrapatos e outros insectos. Do oral.
X: As fêmeas são enigmas e conhecemos as que louvam, as mestras mortíferas que abocanham até à morte os machos. Outras, simplesmente, comportam-se como caixões, recebem, como dizes, o esperma de alcoba embalado. Receberem o jacto de cadáveres que o reproduziram.
W: Clonagem?.
Y: A ejaculação é um modo de cuspir com desprezo.
Z: É um gesto de fúria, uma invectiva, o gozo de abandonar, o abandonar do gozo quando é um molho de chaves que acerta na assoalhada fecal.
W: Quando o destino não é a sanita.
X: Pior é viver para o relixioso que castra.
Z: A pior castração é a anal.
Y: Os sodomitas lisonjeiam-se mutuamente. Não frequentam as missas e, ainda assim, não deixam de espreitar as cúpulas. A posição de rezar. Ajoelhados e apertam as nádegas que o silêncio eclesiástico deixava ouvir qualquer descuido.
W: Frequentam visões beatíficas ocultas, misteriosas. Há os que rezam a levantar as nádegas.
Z: O fervor revira os olhos para o branco. Veneram as cenas bíblicas nas cúpulas.E as cópulas, escurecem-nos?
X: A entregasse ao fornicio o crego?
Z: Descobrem-se nos coros e nas catequeses. Numa vivência dissimulada.
X: Veja-se como o crego fodedor é crítico e fareja a homossexualidade nos mortos. Cada figuração retórica, se escreveu, cada fala, é do falo.
W: Que impõe silêncio — um sim ao lento cio.
Y: A ânsia é o silêncio que ofusca a clarificação da verdade.
Z: É a boca das línguas que se querelam.
W: Que se enredam e falam nas confissões.
X: Porra, de que falam? Que descobrem?
Y: Repara no coração sangrando, esvaindo-se. É transcensão da experiência humana (onde li isto?)
W: Para Deus.
Z:Vive o momento metafísico.
X: Manifesto aqui a minha estupefacção.
Y: Há mais claque cardinalícia do que se esperava.
X: E vão a eles as crianças!
W: A pedofilia, e mais do que todas, a sacerdotal, é condenável. Aproveitam tão mal aquelas gargantas para motete e atiram-lhes carne para focinho de cão. Nojento! [aos berros] Mais que o nojo!
X: Em meio ao coro? Desculpe a fraqueza desses privados pela falta de embalsamento das partes que ajudavam à paralisia do …
Y: Epiléptico quando ritmado. E dá nódoa branca.
X: Assim, num vai e vem e vem e vai… contra natura…Seria de citar [José Lino Grünewald] na configuração gráfica concertista?
Y: Concertista?! Concret…
X: E ista. E ista!
Y: Pisca e pisa pisamonas, não por engenho, é mais por trejeito de braguilha.
X: Hai que ter presente, nada de grotesco, desvaloriza com a gargalhada desrespeitosa, não vende bilhetes, afasta o consenso e fica mal a … ridiculariza.
Y: Diatribe.
W: Nada de paródia que faz do leitor a pedra rolante da gargalhada, a rolar de rir, um riso excrementício.
X: Alguém no seu juízo diz excrementício? É para sujar a merda de pérolas? Rolar na merda!, simplesmente. E o que se diz é ‘mijar a rir’.
Y: E por lá morfam, cavalguem de crinas lambidas pelos relinchos, cascos a galoparem na verga fibrosa que o atravessa de ponta a ponta até a glande ser mordida pelo freio.
W: Os melhores cavalgam a égua mansa. E quantos não as cobrem? Cuspam nos costumes.
Z: É o cavalo de brilho macho que relincha nas páginas brilhantes. Quem se atreve a contrariar?
X: A camaradería masculina inspirada na erotoloxía das inxurias ás mulleres.
Y: Língua nossa, caro Galego.
Z: Não vivemos para contar.
W: Escoiceavam. Escoiceiam ainda, misóginos!
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